A família do empresário moçambicano, Nurolamin Gulam, radicado em Lisboa há alguns anos, diz que ele está “desaparecido” desde a semana passada. "Carta" conseguiu chegar à fala com Hassan Gulam, um dos quatro filhos da família Gulam, conhecida em Moçambique como uma firma de negócios de Nacala, o Grupo Maiaia, que já esteve no pedestal da visibilidade, mas acabou nas ruas da amargura, depois de vários escândalos financeiros, com cheiro a calote, na banca comercial local.
Hassan Gulam não confirmou nem desmentiu informações anónimas recebidas por email na “Carta”, dando conta da prisão de Nurolamin nos EUA na semana passada, na companhia de João Jorge, um antigo super gestor de bancos em Moçambique (foi sucessivamente administrador do BCI, do Banco Austral, do BCI novamente e MozaBanco). João Jorge é irmão do advogado Eduardo Jorge, um dos defensores no caso Carlos Cardoso.
Sobre Nurolamin, Hassan, irmão mais novo, disse ao nosso jornal: “Ele está desaparecido há uma semana”. “Não conseguimos falar com ele”, acrescentou. De parcas palavras, lamentou, em nome da família, o “desaparecimento” do irmão, revelando também o enorme desgosto dos pais. “Carta” falou igualmente com o advogado Eduardo Jorge. Ele disse que não sabia de nada. “Não sei de nada. Já há dez dias que não falo com o meu irmão”, disse ele.
Uma fonte anónima disse à “Carta” que os dois, Nurolamin e João Jorge, foram detidos pelo FBI (Polícia Federal Americana), na semana passada, quando desembarcavam nos EUA, idos de Lisboa (designadamente, entre o aeroporto de Newark, em New Jersey, ou o JFK, em Nova Iorque). A fonte diz que ambos caíram numa cilada. Outra fonte a partir de Portugal, que pediu anonimato, confirmou que a Polícia Judiciária local fez buscas na residência e no escritório de Nurolamin em Lisboa, tendo sido confiscados valores monetários, joias e documentos. Sua esposa, Reshma, foi também interrogada pela PJ portuguesa.
“Eles caíram numa cilada do FBI”, disse a fonte. Eles terão sido atraídos e morderam o isco: um suposto negócio imobiliário nos EUA, através de uma contraparte que era na verdade um agente do FBI dissimulado. As autoridades americanas ainda não se pronunciaram sobre esta alegada detenção.
Nurolamin era, em Moçambique, a face mais visível do Grupo Maiaia, mas o nome da empresa era frequentemente mencionado na imprensa por razões menos boas. Em 2013, os jornais fizeram parangonas com uma alegada fuga de Moçambique de Nurolamin Gulam Hassan e Hussen Gulam Mahomed, administradores do Grupo, numa altura em que o “império” de Nacala devia à banca perto de 50 milhões de USD. “A precipitada fuga aconteceu após fortes pressões exercidas pelo Barclays Bank (hoje ABSA), num esforço para recuperar uma dívida de 5 milhões de USD”, escreveu o Savana.
Fundado nos anos 80, o Grupo Maiaia era dos mais prósperos e influentes em Nacala Porto, empregando centenas de trabalhadores. Mas por causa das suas dívidas foi alvo de penhoras pelo Barclays. Entre os dias 22 e 28 do mês de Abril de 2013, foram-lhe penhorados todos os imóveis, nomeadamente fábricas de trigo, bolachas, chapas de zinco e plásticos.
Em 2012, o Grupo Maiaia devia cerca de 17 milhões de USD ao BIM e 15 milhões ao BCI, dívidas consideradas por fontes bancárias como difíceis de cobrar. “A dívida ao Barclays, por indicação do banco central foi totalmente provisionada no último exercício tornado público pelo banco. As dívidas ao Banco Único, segundo fontes da praça financeira em Maputo, também ultrapassam o milhão de dólares. Fontes do BIM e BCI não quiseram confirmar os valores da dívida alegando que a ética bancária não lhes permite fazer comentários sobre assuntos dos seus clientes em público”, escreveu o Savana.
Curiosamente, todos bancos credores do Maiaia, exceptuando o BIM e o Barclays, tiveram João Jorge como administrador. Originariamente de Nampula, João Jorge era quadro do Grupo português BPI em Moçambique. Nessa qualidade foi administrador do Banco do Fomento, passou para o BCI por ocasião da fusão por incorporação entre o BCI com o Banco do Fomento, teve uma passagem rápida (menos de 1 ano) pelo Banco Austral (hoje ABSA), regressando depois ao BCI, antes de terminar a carreira bancária no Mozabanco. O pai de João Jorge foi desde o tempo colonial quadro sénior do Grupo João Ferreira dos Santos, e operou muito no triângulo Nacala, Monapo e Mossuril/Ilha de Moçambique. (M.M.)