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quarta-feira, 22 novembro 2023 08:27

Carta ao Leitor: Lembrar Carlos Cardoso nos cinco anos de “Carta de Moçambique”

Lembrar Carlos Cardoso é prestar uma singela homenagem à integridade e à transparência. 23 anos depois do seu assassinato, Moçambique está pior e os moçambicanos mais desamparados. Carlos Cardoso foi, a par de Samora Machel (cujo assassinato ele previu), um dos maiores defensores do nosso bem comum. 

 

Ele lutava contra o que chamava de gangsterismo da economia e do Estado, que acabou triunfando. Hoje, meia dúzia de gangues controlam isto tudo, o nosso devir. E faltam nascer novos Cardosos. Enquanto não surgem, o CC original continua a ser inspiração onde buscamos referências.

 

É o que fazemos na “Carta de Moçambique”, lançada justamente há cinco anos, nesta data, como uma homenagem ao grande Editor. 

 

Hoje na “Carta” celebramos uma data histórica. Nosso surgimento foi de mansinho, como quem cavalgava num mar de cepticismo quanto ao sucesso da média digital (minha experiência pessoal lembra-me que, em 2005, quando fundamos o CIP do nada, ninguém acreditava).

 

Na "Carta", nossa perseverança vingou e os leitores dizem que somos a principal referência do jornalismo moçambicano dos nossos dias. Muitos não acreditavam, mas nosso jornal tornou-se o principal meio digital em Moçambique, graças ao pensamento de produto e uma disciplina que desenvolvemos ao longo dos anos.

 

Durante cinco anos, não falhamos uma única edição diária, fidelizando leitores e anunciantes. Crescemos em audiência. Somos lidos em todos os cantos do país e do mundo. Somos citados lá fora e plagiados por agregadores de rapina como a Ópera News e a Phoenix, entre outros.

 

Nosso modelo de negócios, aberto, faz de “Carta” um instrumento de socialização política dos leitores moçambicanos, sobretudo os mais novos, que devem estar melhor informados para fazerem melhores escolhas políticas. 

 

Ou seja, nosso objectivo à nascença foi desenhado para não servirmos apenas a uma elite pagante: o objectivo era chegar a todos os cantos de Moçambique (e do mundo), contribuindo para a formação de uma consciência pública informada e despertando na sociedade o interesse por temáticas centrais da vida política, económica e social do nosso país. Conseguimos!

 

Contudo, este modelo de negócios em media digital, assente no display advertisement e no branded content, nas condições económicas e políticas de Moçambique, não gera lucros; tudo o que ganhamos é consumido nas operações, sobretudo nos salários da equipa, que não são necessariamente “grandes salários”, mas são os mais competitivos do sector privado da comunicação do nosso país.

 

Carta da Semana

 

Depois de cinco anos, estamos a conjecturar um novo produto: a Carta da Semana.

 

Num mundo mediático com orçamentos, talentos e recursos limitados, é fundamental escolher quais os novos projectos a prosseguir. O conceito japonês de "Ikigai' tem sido útil para nos ajudar a determinar quais novos projectos podemos abraçar, tendo em conta nossas valências específicas: capacidade de trabalho e busca de rigor.

 

Vamos paulatinamente deixar de editar a “Carta do Dia”, que circula gratuitamente. Vamos iniciar a “Carta da Semana” em versão tabloide, mas com circulação digital paga (via Paypal e Carteiras Móveis). Vamos manter a actualização diária do “website”, com assuntos leves e com mais agregação de conteúdos.

 

Construir um produto de sucesso é um processo colaborativo que requer inspiração, intuição, pesquisa de usuários, conhecimento de negócios e conhecimento técnico. 

 

No nosso mundo de negócios e sobretudo no mundo mediático, depois de muitas publicações no estrangeiro anunciarem que iriam cortar as suas edições impressas, o lançamento de um jornal semanal impresso parece uma loucura. Mas não: nossa aposta é na qualidade, que se perdeu com a fuga de talentos para sectores bem remunerados e o facciosismo editorial determinado pelas alas gangsterizadas da política e economia. 

 

O caminho que queremos seguir é o mesmo que o Daily Maverick, editado em Cape Town (RAS), abraçou, complementando o digital com uma versão impressa, que vai ocupando o espaço tradicional do Mail and Guardian.

 

Por fim, devemos agradecer aos leitores, colaboradores, colunistas e anunciantes, que ao longo destes cinco anos foram fundamentais para que este produto não desaparecesse ao virar da esquina. Parabéns a todos. Desculpem, mas não haverá festa!

Sir Motors

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