Se a justiça sul-africana decidir, hoje, em não extraditar Manuel Chang para os Estados Unidos da América, a justiça americana não vai baixar os braços; se Chang for extraditado para Moçambique, a justiça americana vai usar os mecanismos da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (UNCAC, na sigla em inglês) para que ele seja julgado, em Moçambique, pelos crimes de que é acusado nos EUA. Eis como o americano Rick Messick, um antigo especialista anti-corrupção do Banco Mundial e que já foi também advogado no Senado para assuntos de extradição e branqueamento de capitais, perspectiva o futuro imediato do deputado da Frelimo.
Manuel Chang, detido na África do Sul desde o passado dia 28 de Dezembro, vai conhecer hoje a decisão do Tribunal de Kempton Park sobre a sua extradição para os EUA. Se a resposta for negativa ao pedido americano, o Departamento de Justiça vai fazer uso de todos os mecanismos para assegurar que Chang seja responsabilizado pelos crimes de que é acusado nos EUA. Não vai desistir nunca. Mesmo que Chang seja extraditado para Moçambique. Rick Messick esteve, em Maputo, muito recentemente e deu uma entrevista à “Carta”. Basicamente, ele disse que, se Chang não for extraditado para os EUA, o Departamento do Estado americano vai usar os mecanismos de cooperação judiciária da UNCAC, de modo a que Chang seja julgado em Moçambique pelos crimes constante na acusação americana.
Messick disse que a extradição de Chang para os EUA seria uma grande vantagem para Moçambique, sobretudo, por causa do confisco dos bens eventualmente comprados a partir dos subornos pagos pela Privinvest, num calote que defraudou investidores americanos em cerca 200 milhões de USD. O receio das autoridades moçambicanas (que esteve na base do pedido de extradição para Moçambique), segundo os quais a justiça americana, que exige na acusação um confisco alargado de bens, possa vir a apropriar-se de tudo, não faz sentido. “A UNCAC tem mecanismos que protegem o principal prejudicado. Se foi o Estado moçambicano, e não os investidores americanos, então Moçambique vai receber tudo a que tem direito. Basta manifestar essa vontade dentro do processo nos EUA”, disse Messick.
Ele acrescentou que Moçambique só sai a ganhar com um julgamento de Chang nos EUA, pois, as possibilidades de recuperação do património gerado pela corrupção no estrangeiro são maiores. Como? “O FBI tem a capacidade de ir a todo o lado e solicitar informação sobre património e contas bancárias de Manuel Chang e seus familiares chegados, domiciliadas em qualquer parte do mundo. Se não se verificar a origem legal desses fundos, então eles podem ser confiscados e devolvidos a Moçambique”.
Sobre a acusação americana onde, para além de Manuel Chang, constam os nomes de António Carlos Rosário e Teófilo Nhangumele (como acusados) e mais três co-conspiradores, cujos nomes não foram revelados, Messick disse que é falsa a percepção muito espalhada, em Moçambique, segundo a qual esses “co-conspiradores” foram delatores que colaboraram com a justiça americana e, por isso, estão isentos de qualquer responsabilização.
De acordo com acusação americana, o co-conspirador moçambicano número 1 é um indivíduo cuja identidade é conhecida pelo Grande Júri e esteve envolvido na obtenção da aprovação do projecto Proindicus pelo Governo moçambicano; o co-conspirador moçambicano número 2 é um indivíduo, cuja identidade é conhecida pelo Grande Júri, parente de um funcionário sénior do Governo de Moçambique e o co-conspirador moçambicano número 3 era um funcionário de alto escalão no Ministério das Finanças de Moçambique e director da EMATUM.
“Os co-conspiradores também contribuíram no esquema fraudulento e só não estão acusados porque eventualmente estão a ser coligidas mais provas. Eles podem ser acusados a qualquer momento”, garantiu Messick. (Marcelo Mosse)