Terminou, às 23h59min deste domingo, 8 de Outubro de 2023, a campanha eleitoral rumo às VI Eleições Autárquicas, que decorrem na próxima quarta-feira, em todas as 65 autarquias do país, 13 dias depois de os partidos políticos terem vendido os seus projectos de governação aos mais de 4.8 milhões de eleitores inscritos entre 20 de Abril e 03 de Junho último.
Em Nacala-Porto, província de Nampula, os últimos dois dias de “caça ao voto” foram marcados por actos de violência, envolvendo membros dos partidos Frelimo e Renamo. Os primeiros actos de violência foram testemunhados por volta das 10h00 de sábado, conforme narra o Consórcio Eleitoral Mais Integridade, que acompanhou as incidências da campanha eleitoral em pelo menos 37 autarquias.
De acordo com aquela plataforma de observação eleitoral, os actos de sábado ocorreram depois do cruzamento entre as caravanas da Frelimo e Renamo. O “Mais Integridade” narra que, após o encontro entre as duas caravanas, membros e simpatizantes da Frelimo atiraram pedras contra os membros e simpatizantes da Renamo, acto que gerou caos na cidade portuária.
Segundo o “Mais Integridade”, os agentes da Polícia de Protecção, que acompanhavam as duas comitivas, tentaram amainar os ânimos, mas sem sucesso. Foi necessário activar a Unidade de Intervenção Rápida (força anti-motim) que, com recurso a gás lacrimogéneo, conseguiu repor a ordem. A plataforma sublinha que as pedras se encontravam dentro das viaturas da caravana da Frelimo.
“Quando os observadores do Consórcio Eleitoral Mais Integridade, que testemunharam os actos, estavam a registar o momento, agentes da Polícia quiseram arrancar-lhes telemóveis”, denuncia a plataforma, revelando que um dos membros da Renamo foi levado à força ao Comité Distrital da Frelimo, onde foi violentado fisicamente por membros da Frelimo até ficar inconsciente.
O “Mais Integridade” afirma ainda que membros do partido Frelimo, sob olhar impávido de Faruk Nuro, cabeça-de-lista do partido no poder naquela autarquia, confiscaram telemóveis dos seus observadores e apagaram imagens, vídeos e diversos conteúdos relacionados às suas actividades.
“Na ocasião, os observadores foram conduzidos a uma sala, onde foram ameaçados e avisados para não voltar a seguir campanha eleitoral da Frelimo”, relata a plataforma, manifestando a sua preocupação com o acto.
“O Consórcio lembra que a observação dos actos eleitorais é um acto cívico, reconhecido e protegido por lei e aberto para todos os cidadãos interessados e devidamente acreditados e credenciados”, reitera a plataforma.
Pancadarias continuaram na tarde de ontem
Vinte e quatro horas depois das cenas de pugilato testemunhadas no sábado, ontem, membros e simpatizantes as duas formações políticas voltaram a envolver-se em actos de violência, facto que voltou a necessitar da intervenção da Unidade de Intervenção Rápida que, com recurso a gás lacrimogénio, voltou a dispersar os contentores.
À “Carta”, uma fonte de Nacala-Porto contou que tudo se deveu ao bloqueio da via por parte de membros e simpatizantes da Renamo à caravana da Frelimo. Conta que a Renamo passeou pela cidade na manhã de ontem, tendo desaguado na famosa praça dos eucaliptos, nas proximidades do Comité Distrital da Frelimo. Por sua vez, o partido no poder tinha agendado as suas actividades para o período da tarde, pelo que, à hora da saída da sua sede, esta foi bloqueada pelos membros da Renamo.
A fonte conta que a Polícia tentou sensibilizar as duas partes, tal como o Edil de Nacala-Porto, porém, os membros das duas caravanas foram intransigentes, tendo desembocado em actos de violência, com destaque para o arremesso de pedras e garrafas de vidro. Para além das pedras atiradas entre aos membros da Renamo e Frelimo, outras eram atiradas a qualquer viatura com panfletos e bandeiras da Frelimo ou da Renamo.
Lembre-se a cidade de Nacala-Porto está sob gestão da Renamo desde 2018, depois de Raul Novinte ter encabeçado uma lista que venceu com 54,63 por cento dos votos (23 mandatos), contra 40,49 por cento da Frelimo (17 mandatos) e 2,80 por cento do MDM (um mandato), facto que a torna uma das autarquias de maior batalha político-eleitoral a nível da zona norte do país.
Refira-se que, para as eleições de 11 de Outubro próximo, a Renamo voltou a confiar em Raul Novinte para encabeçar a sua lista, enquanto a Frelimo elegeu o empresário Faruk Nuro. Já o MDM vai às eleições com Carlos Bernardo. Nacala-Porto tem disponíveis 41 mandatos, depois de inscrever 152.752 eleitores. (Carta)