Quando os médicos cumprem, hoje, o seu 45º dia consecutivo de greve e os profissionais da saúde observam o seu quarto dia consecutivo da paralisação das actividades, o Chefe de Estado, Filipe Jacinto Nyusi, decide, finalmente, falar pela primeira ao país em torno do assunto que marca a actualidade.
Falando na manhã desta quarta-feira, no Município da Matola, província de Maputo, durante a abertura do XI Festival Nacional da Cultura, Nyusi pediu aos médicos e demais profissionais da saúde a regressarem aos seus postos de trabalho, alegando que a greve tem causado sofrimento às populações, contribuindo, desta forma, para a redução da produtividade.
Segundo Filipe Nyusi, o regresso ao trabalho não irá fechar os canais de diálogo já criados e nem vai prejudicar os médicos e os profissionais da saúde, visto que o diálogo manter-se-á. “Eu tenho fé e esperança de que a mensagem está a chegar e, muitas das vezes, tem havido compreensão. As nossas conquistas não podem ser ofuscadas. Voltem ao hospital, voltem ao banco de socorro, ao laboratório, peguem ao volante de ambulância e tratem o vosso concidadão”, apelou.
A reação do Chefe de Estado chega quase 24 horas depois de o Governo ter indicado o Primeiro-Ministro, Adriano Maleiane, para liderar uma nova comissão de negociação com os médicos, depois do fracasso da comissão liderada pelo Vice-Ministro da Administração Estatal e Função Pública, Inocêncio Impissa.
“Continuemos a conversar, como estamos a fazer”, disse o Chefe de Estado, fazendo crer aos moçambicanos que os médicos e profissionais da saúde “sabem do que estou a dizer e sabem por que estou a dizer”.
O Presidente da República acrescentou que sempre esteve a par do dossier que divide os médicos e o Governo. “Haverá quem vai dizer que o Presidente disse tarde, mas o Presidente sempre esteve presente em todos momentos, por isso mesmo que chega este momento, em que me dirijo a todos”, assegurou.
“Depois de analisada a situação, e ouvindo apelos de muitos sectores da sociedade, incluindo os apelos dos profissionais da saúde feitos em diversos fóruns, quero, revestido de humanismo, apelar aos meus irmãos, nossos filhos, compatriotas afectos a estas áreas da saúde, manterem-se ao diálogo e, neste caso, rapidamente, encontrarem soluções conjuntas e exequíveis para a realidade do nosso país, sem prejuízo a nenhuma das partes”, defendeu.
Refira-se que a greve dos médicos teve o seu início no passado dia 10 de Julho com o prazo de 21 dias, tendo sido prorrogada por duas vezes, devido à falta de consenso entre o Governo e a classe médica. Durante a paralisação das actividades, sublinhe-se, o Governo chegou a ameaçar marcar faltas aos médicos grevistas, assim como despedi-los do Serviço Nacional de Saúde. Porém, a relutância dos médicos, levou o Executivo a recuar no seu discurso. (Carta)