Os médicos e os profissionais de saúde estão em greve, facto inédito em Moçambique. No caso dos médicos, estes prorrogaram a greve por mais 21 dias, num clima de ameaças de morte. A classe médica viu-se obrigada a prorrogar, pela segunda vez, a greve em todos os hospitais, numa altura em que não há nenhum avanço em termos de negociações com o Governo. Os médicos reivindicam desde o passado dia 10 de Julho por melhores condições de trabalho, contra a violação dos Estatutos, entre outros.
“Nós decidimos prorrogar a greve por mais 21 dias com a garantia de prestação de serviços mínimos para que a nossa população não sofra mais. Queremos ainda apelar aos nossos pacientes, aqueles que de facto vivem o dia-a-dia dos hospitais, para se juntarem a nós, porque estamos a lutar pelo povo. Sabemos que eles não têm a coragem de falar, mas nós já demos o pontapé de saída, já começamos a falar das condições de trabalho e pedimos que eles se juntem a nós”, apelou o presidente da Associação Médica de Moçambique (AMM), Milton Tatia.
Falando à imprensa, Tatia esclareceu que a decisão da prorrogação da greve ocorre numa altura em que a classe se queixa de ameaças que tendem a agravar-se e a aumentar de tom.
“Nos últimos dias, o tom de ameaças aumentou. Nós recebemos informações de que foi dada uma ordem superior que não tem rosto e nem nome, para que os três membros da direcção da AMM fossem abatidos. Estamos a falar do presidente, Milton Tatia, vice-presidente, Paulo Samo-Gudo e do secretário-geral, Napoleão Viola”, disse.
Sendo assim, a classe ameaça retaliar, paralisando todas as actividades nos hospitais públicos e privados, caso as referidas ameaças se efectivem.
“Os médicos decidiram que onde vai um, vão todos, se cai um, caem todos. E se qualquer uma dessas ameaças se efectivar, todos os serviços de saúde serão encerrados no país, incluindo os privados que se vão solidarizar com a classe”.
Profissionais de Saúde aliam-se aos médicos e iniciaram greve este domingo
Depois de terem anunciado, na sexta-feira, que se vão aliar aos médicos, os Profissionais de Saúde iniciaram este domingo com uma greve de 21 dias. Depois de várias horas de debate com o Governo, no último sábado, o pessoal da saúde decidiu prosseguir com a greve, mas com a prestação dos serviços mínimos.
“Os serviços mínimos que iremos prestar são o atendimento às maternidades, ao berçário e aos serviços de urgência”, garantiu à imprensa o Presidente da Associação dos Profissionais de Saúde (APSUSM), Anselmo Muchave.
“Decidimos iniciar uma nova greve porque o Governo não satisfez nenhuma inquietação dos profissionais de saúde. Houve apenas relato de negociações verbais efectuadas com entidades que não puderam ser provadas”.
As exigências deste grupo incluem a colocação de medicamentos nos hospitais, a solução da falta de alimentação e alimentos adequados e o apetrechamento das ambulâncias com material de emergência, cuja falta obriga os funcionários a comprarem do seu próprio bolso.
“O Governo não fez nenhum esforço para resolver o combinado nos acordos alcançados no âmbito das nossas negociações”.
Entretanto, o Governo, através de um comunicado de imprensa, lamentou o facto de os médicos terem tomado a decisão de prorrogar uma vez mais a greve, apesar dos progressos alcançados na resolução das reivindicações.
O Governo reitera que continua a privilegiar o diálogo como forma de busca de soluções para os diferentes desafios em curso no país. Lembre-se que as reivindicações dos médicos começaram em 2012 através de várias cartas enviadas ao Governo pedindo melhorias das condições de trabalho. Este domingo, circulou nas redes sociais uma mensagem dando conta de um verdadeiro caos nos hospitais.
A mensagem dizia: “Está mal isto. O que acontece nos hospitais é lastimável. Pessoas estão a morrer em série. Saí do meu sector na quarta-feira à tarde com a enfermaria cheia, 21 camas preenchidas. Cheguei ontem de manhã, só havia oito camas ocupadas. O resto partiu para o além e saí hoje de manhã, três partiram para o além e ficaram cinco. Vocês, isto está mal. Esta manhã fui tomar banho onde havia dois corpos sem vida.”
São daquelas informações que não são divulgadas oficialmente pelas autoridades, mas no terreno a realidade é dramática. Em surdina, os médicos e profissionais de saúde confirmam que os hospitais são um autêntico cemitério, perante o olhar impávido do Governo ao descalabro do Serviço Nacional da Saúde. (Carta)