Ontem na Beira, o Ministro da Indústria e Comércio, Ragendra de Sousa, teve um primeiro encontro com empresários, arregimentados na tradicional sala de debates da centenária Associação Comercial da Beira (ACB). Ele ouviu dos empresários o que esperam que o Governo faça: redução do IVA e do IRPC, pagamento das dívidas atrasadas, financiamento barato (com períodos de graça de pelo menos 5 anos), mobilização de financiamentos a fundo perdido.
Ragendra disse que o Governo estava sensibilizado e que poderá decidir “aliviar a carga fiscal e alargar prazos”, mostrando-se, no entanto, completamente contrário à concessão de donativos, como alguém tinha pedido. O encontro de ontem foi o primeiro. O Governo ouviu histórias comoventes de investimentos destruídos, numa multiplicidade de sectores, nomeadamente a construção civil, a panificação, o comércio, a hotelaria, a restauração, as pescas, a logística, os serviços e a agro-pecuária.
Ragendra anunciou que, hoje, o mesmo sector privado terá a chance de apresentar suas histórias ao Presidente Filipe Nyusi, que se sentará à mesma mesa que os empresários, ladeado de alguns ministros dos sectores económicos (Ragendra de Sousa, Adriano Maleiane e Carlos Mesquita). Será mais um encontro de auscultação.
Ontem, Ragendra foi algo reticente em indicar um “deadline” para o Governo finalizar o instrumento que orientará a intervenção do executivo neste plano de emergência empresarial em Sofala. Ele disse que o ideal era que “ontem” mesmo, o instrumento já estivesse definido. O ambiente geral na sala era, no entanto, um misto de comoção e receio. As perdas arrasaram o tecido empresarial e sua recomposição vai levar tempo.
O receio decorre de uma coisa: quem mesmo vai comer do bolo da reabilitação? As habituais empresas de Maputo ou empresas locais? Esta questão foi se calhar a mais focada nas diversas intervenções. Os empresários beirenses gostariam que eles tivessem a preferência nos contratos de reparação das infra-estruturas públicas destruídas. Houve até quem sugerisse a criação de uma Lei de Economia Local, que seria na verdade uma espécie de lei de “Local Content Provincial”.
A expectativa do encontro com Nyusi, hoje, é grande. Mas, por aquilo que observamos, os traços de resiliência no ADN do sector privado de Sofala são enormes. Habituados a uma sempre abominada macrocefalia sufocante de Maputo sob o ponto de vista de ambiente de negócios (inspecções e multas em espiral), eles já arregaçaram as mangas e estão a trabalhar. Aliás, na Beira, o desimpedimento das ruas foi um trabalho levado a cabo pelo sector privado. Ragendra enalteceu essa entrega dos empresários, sem decreto, na reparação do que é seu. E se Maputo não ajudar? A Beira parece que não vai deixar-se levar por novas ondas para um mar de inércia e das promessas vãs. (Marcelo Mosse, com Evaristo Chilingue)