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quarta-feira, 12 julho 2023 07:30

SNJ vai às eleições com três candidatos no ringue: O que cada um pretende fazer?

O Posto Administrativo de Mafambisse, distrito de Dondo, província de Sofala, irá testemunhar, no próximo dia 20 de Julho(uma quinta-feira), a eleição dos novos órgãos sociais do Sindicato Nacional de Jornalistas, a mais antiga organização sócio-profissional do país, com destaque para o novo Secretário-Geral, em substituição de Eduardo Constantino, que há quase seis anos está fora do mandato.

 

Para o cargo, concorrem três destacados jornalistas, nomeadamente Faruco Sadique, antigo PCA da Televisão de Moçambique e Rádio Moçambique; Delfina Mugabe, jornalista reformada da Sociedade do Notícias; e Alexandre Chiúre, jornalista do Diário de Moçambique. O escrutínio terá lugar durante a realização da VII Conferência Nacional da organização, que decorre entre os dias 19 e 20 de Julho corrente.

 

“Carta” consultou os três manifestos eleitorais, cujo denominador comum é tornar o Sindicato Nacional de Jornalistas (SNJ) numa organização dinâmica, transparente e abrangente, num contexto em que a organização é vista como propriedade dos órgãos de comunicação social do sector público e dos jornalistas em idade de reforma.

 

Resgatar e colocar o SNJ no seu verdadeiro lugar – Faruco Sadique

 

Numa lista dominada por jornalistas com mais de 20 anos de experiência e pertencentes aos órgãos de comunicação social do sector público, Faruco Sadique promete “resgatar e recolocar” o SNJ no seu “verdadeiro lugar, trazendo de volta os membros ao seu Sindicato”.

 

Considerado fruto da actual Direcção do Gabinete de Informação (GABINFO), Sadique defende que a organização se transformou, nos últimos anos, numa entidade estranha aos próprios jornalistas, pelo que estes “se revêem cada vez menos no seu próprio Sindicato”.

 

O antigo PCA da RM e TVM propõe-se também a identificar e implementar formas de interessar os jovens jornalistas a filiarem-se à organização, visto que estes desconhecem a existência, competências e atribuições do SNJ, “actuando muitas vezes ao arrepio das mais elementares regras éticas e deontológicas da profissão”.

 

“O grosso dos jornalistas moçambicanos deixou praticamente de pagar as suas quotas, à excepção dos que trabalham para órgãos de comunicação social maioritariamente públicos ou participados pelo Estado, os quais são directamente descontados nos seus salários”, defende o candidato, para quem é necessário “implementar um sistema transparente de prestação de contas dos recursos financeiros e patrimoniais do SNJ, bem como das suas actividades”.

 

Das 13 propostas de acções apresentadas no manifesto de Faruco Sadique, destaca-se também a aceleração do projecto da Carteira Profissional do Jornalista, em discussão há mais de 10 anos, mas que nunca saiu do papel.

 

Criar bases para o exercício pleno da liberdade de imprensa – Delfina Mugabe

 

Por sua vez, a antiga Directora-Adjunta do Jornal Notícias, o mais antigo matutino do país, Delfina Mugabe, propõe-se a criar bases para o exercício pleno da liberdade de imprensa no país; garantir a assistência jurídica aos jornalistas e quadros de produção; e intervir, sempre que necessário, em defesa da classe.

 

Mugabe, que integra a equipa liderada Eduardo Constantino, que gere o SNJ ilegalmente há seis anos, promete ainda eliminar os contratos de trabalho precários; o exercício da profissão sem contratos; negociar a criação de uma carreira profissional comum para jornalistas e progressão periódica destes; e incentivar a cultura do seguro de vida e/ou de viagem de serviço para os jornalistas e quadros de produção.

 

Sendo a primeira mulher a concorrer para o cargo de Secretária-Geral, 45 anos depois da criação da organização, Delfina Mugabe defende que a sua direcção vai incentivar políticas de género nas empresas de comunicação social e capacitar os jornalistas moçambicanos para que, no exercício da sua profissão, seja considerada, sempre, a perspectiva de género. Igualmente, vai privilegiar o pluralismo de ideias no seio da organização, “promovendo a alternância na gestão sindical, envolvendo homens, mulheres e jovens profissionais, para que o SNJ seja cada vez mais forte em todo o país”.

 

“Esperamos que, nos próximos cinco anos, tenhamos um Sindicado Nacional de Jornalistas digno, abrangente e respeitado por todos e que representa os interesses da classe, quer no sector público quer privado, em todos os níveis”, defende Delfina Mugabe, neste momento reformada.

 

Sendo uma candidata da continuidade, Mugabe enfrenta diversos questionamentos públicos, em particular sobre o seu papel no actual cenário do SNJ, caracterizado por altos níveis de falta de transparência. Vários jornalistas questionam ainda o papel de Delfina Mugabe na transformação do SNJ em propriedade privada.

 

Negociar salário mínimo para jornalistas – Alexandre Chiúre

 

O jornalista Alexandre Chiúre também promete dialogar com entidades patronais para acabarem com casos de jornalistas que trabalham sem contrato de trabalho, assim como negociar o salário mínimo para jornalistas e melhores condições de trabalho.

 

Chiúre promete também negociar a uniformização da carreira profissional para jornalistas, resolver o problema da progressão de jornalistas nas carreiras profissionais estagnadas e estabelecer como obrigatório o pagamento de seguro de vida para jornalistas em viagens de serviço por parte do patronato.

 

No seu manifesto, Alexandre Chiúre garante que, pela primeira vez, o SNJ poderá contar com jornalistas que trabalham nas delegações provinciais a integrar os órgãos sociais da organização. Igualmente, afirma que a sua candidatura é apoiada pelas diferentes associações de jornalistas, nomeadamente de Mulheres Jornalistas, de Imprensa Desportiva, Parlamentares e Ambientais.

 

“A nossa candidatura apresenta como principal promessa à classe jornalística nacional o trabalho. É preciso trabalhar arduamente para que o SNJ volte a ser aquele que foi no passado. Um sindicato credível, que representa condignamente os seus membros. Um sindicato presente em todos os momentos em defesa de jornalistas”, defende Chiúre, cuja lista também é dominada por jornalistas de órgãos de comunicação do sector público.

 

Refira-se que, nas eleições do próximo dia 20 de Julho, votam apenas os membros da organização com quotas em dia. Grande parte dos membros, sublinhe-se, são trabalhadores dos órgãos de comunicação social do sector público. A Comissão Eleitoral, por sua vez, é constituída por Rafael Shikani, Mouzinho Nichols, Reginaldo Chilengue e uma quarta pessoa que se juntará ao grupo na conferência, como escrutinadora. (Carta)

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