A Comissão Política da Frelimo falhou ontem o anúncio dos nomes dos pré-candidatos a cabeças de listas para as próximas eleições autárquicas, as sextas desde a transição para a democracia, as quais terão lugar a 11 de Outubro deste ano.
Ontem, o Gabinete de Imprensa da Frelimo convidou as redações a enviarem um repórter para uma conferência de imprensa onde Ludmila Maguni, a Porta Voz do partido, iria falar após uma sessão da Comissão Política. A agenda dessa sessão era a nomeação dos pré candidatos.
A Conferência de Imprensa de Maguni estava foi marcada para às 15 horas, mas só pelas 22 horas é que os jornalistas que se deslocaram à Escola Central do Partido Frelimo foram informados que ela já não falaria e que as listas dos pré candidatos serão divulgadas pelos Comités Provinciais “nos próximos” dias.
“O processo tem que retornar às províncias. Então, as províncias é que serão responsáveis por anunciar quem serão os candidatos que irão concorrer nestas eleições”, afirmou Maguni, sem avançar datas em que tal irá acontecer e muito menos o número de pré-candidatos selecionados.
Durante todo o tempo de espera, ontem, aos jornalistas não foi dada qualquer informação sobre o processo, numa tremenda falta de respeito para com a classe.
Os 19 membros da Comissão Política devem ter escolhido, ontem, a dedo, 195 nomes, 3 para cada uma das 65 autarquias, os quais serão posteriormente levados à votação nas bases, num processo que se espera renhido nalgumas municipalidades, enquanto noutras os actuais incumbentes vão passear sua classe.
Segundo um membro de proa da Frelimo, o adiamento do anúncio pode ter tido origem em divergências insanáveis quanto aos nomes preferidos por cada um dos 19 para as 65 autarquias.
As cidades de Maputo e Matola podem ter dividido preferências individuais dos membros, cada um puxando para candidatos da sua esfera de influência, de compadrio ou mesmo de partilha de negócios do Estado.
Foi isso que aconteceu no anterior processo em 2018. A Comissão Política chumbou uma opção de correntes de base por Samora Machel Júnior, após indicação expressa de Filipe Nyusi, o Presidente do Partido. Nyusi impediu assim a ascensão de um potencial sucessor, que navegava em campo distinto dentro partido.
Por outro lado, com o aumento do número de municipalidades, abrangendo agora micro-territórios como a Matola Rio, a elite da Comissão Política pode não conhecer profundamente as personalidade dos nomes que se perfilam, havendo o risco de opção por membros com passado de improbidade.
É sabido que a Comissão Política tem os seus “olheiros” para cada uma das 11 províncias do país mas o risco de prevaricadores como os actuais edis de Inhambane, Benedito Guimino, e de Moatize, Carlos Portimão, voltarem às bases para sua eleição não deixa de existir.
Em suma, este modelo centralizado de nomeação de pré-candidatos na Frelimo está obsoleto, tem muitos “nuances” que acabam mesmo retirando legitimidade aos edis preferidos pela cúpula, como foi o caso de Eneas Comiche, impingido por Nyusi em 2018. Sua governação foi cinzenta, cheia de contestações, e ele vai certamente deixar a autarquia de Maputo pela porta dos fundos.
Refira-se que a apresentação aos órgãos eleitorais das listas dos candidatos às Assembleias Municipais, que incluem os cabeça-de-lista, inicia no próximo dia 20 de Julho, tendo o seu término marcado para o dia 14 de Agosto.(Carta)