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quinta-feira, 18 maio 2023 04:33

CIP Eleições revela esquema para excluir eleitores da oposição na Beira para beneficiar a Frelimo: SUJEIRA

eleicoes recenseamento

Tivemos acesso a um grupo de WhatsApp denominado "Supervisor do STAE Beira", administrado pelo director distrital do STAE da Beira, Nelson Carlos do Rosario. Nas mensagens trocadas entre os membros fica claro que a lentidão no atendimento, algumas quebras de máquinas, a rejeição de testemunhas e a exigência de documentos semi oficiais como declarações de bairro são deliberadas e fazem parte do esquema para desgastar o eleitorado da oposição e beneficiar Frelimo. É um filme com episódios grotescos.

 

O grupo de WhatsApp foi criado pelo diretor distrital no dia em que começou o recenseamento eleitoral, 20 de abril, mas só começou a agregar os fiscais a partir de 24 de abril.

 

O primeiro passo para bloquear os eleitores da oposição foi dado às 13h46 do dia 25 de abril, quando o diretor distrital do STAE instruiu os supervisores a rejeitar as reclamações dos monitores dos partidos da oposição. “Não assinem nem aceitem as denúncias dos monitores. Não podemos facilitá-los”, escreveu. A instrução do diretor era dificultar ao máximo aqueles a quem chamam de “o inimigo”. “A missão”, segundo Nelson Carlos do Rosário, “é destruir o inimigo”. O inimigo são os eleitores da oposição.

 

“Atacar com força o inimigo foram as palavras de nosso chefe, nosso estado-maior. Hoje estamos a aplicá-los”, comentou o supervisor Nhanombe TF, que propôs aos colegas que usassem o esquema que já vinha usando para bloquear aqueles a quem chama de “macacos”: “Para mim, reconhecem o bilhete de identidade, o cartão de eleitor de todos os camaradas com a confirmação de um dos monitores da Frelimo e membros da brigada. Dos macacos, aceita um ou outro deles, mas não a maioria”.

 

A sugestão de Gito Tomás Nhanombe é que os brigadistas apenas reconheçam e recebam documentos da Frelimo e rejeitem os que forem apresentados por eleitores da oposição. Apenas alguns membros e eleitores da oposição devem ser aceites para não criar condições para objeções e distúrbios.

 

Um dos fiscais contou sobre o seu sistema de bloqueio de eleitores - exigindo mais documentos dos eleitores no seu posto de recenseamento, localizado na Zona Industrial. “Já exigi até carteira de trabalho de quem diz trabalhar no porto ou nos CFM”, vangloriou-se, declarando com orgulho “O círculo está fechado” contra a oposição. Gizela Patrício acrescentou: “No meu posto, a entrevista dá a entender que estamos a trabalhar no SERNIC”, o Serviço Nacional de Investigação Criminal.

 

Outra mensagem, da autoria da supervisora Linete Ucama, dirigida à diretora do STAE e aos seus colegas, diz que apareceram no seu posto de registo “os chamados chefes de postos do MDM do bairro da Manga sem crachás”, à procura de “ três licenciados do INE que iam para o internato. Eles caminharam com eles até o portão”. Depois, acrescenta, “perguntaram quem te mandou registar? Não apareceu um carro com jovens do Buzi?” Eles perguntaram se os jovens eram hóspedes da pensão local. Nesse ponto, “um dos nossos [i.e. Frelimo] monitores” apareceu. “Ele telefonou para o comandante e por isso estão detidos”. Não está claro se os detidos são os chefes dos postos ou os jovens.

 

A resposta do director distrital do STAE foi: “Muito bem. Família, podemos nos parabenizar. O inimigo está nervoso, mas precisamos continuar atacando”. E deu uma instrução: “aceite testemunhas e cartões, só se isso nos beneficiar: caso contrário, não”.

 

Outro participante alerta os colegas para estarem “sempre atentos e alinhados”, porque “esta é a nossa vez”. Outro membro do grupo aprova a ideia, e aplaude: “isso mesmo... vamos fazer isso... na guerra não se dá doce... as pulgas são arrancadas e sangram. Vamos tirar a pulga. Agora somos nós… a força da mudança”.

 

Numa das mensagens, a supervisora Gizela Patrício manifesta preocupação pelo grande número de eleitores inscritos num dos postos e exclama “espero que pelo menos 90% sejam os nossos camaradas, que se inscreveram, senão estamos ferrados”.

 

Paulino Tato Luís informa o Director distrital do STAE que “quero mandar prender o secretário do bairro de Macuti. Ele está sempre sondando o meu posto de registo”. Em resposta, Nelson Carlos de Rosário autoriza a prisão: “Faça isso, chefe”. (CIP)

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