O Comité sindical da Moçambique Telecom (Tmcel), a voz dos trabalhadores, mostrou-se esta segunda-feira (15) preocupado por causa do anúncio feito na semana passada pelo Ministro dos Transporte e Comunicações, Mateus Magala, na sessão de perguntas ao Governo na Assembleia da República, sobre a redução de 60 por cento dos cerca de 1700 trabalhadores, no contexto da reestruturação que a empresa está a assistir nos últimos anos para tirá-la do estado de falência técnica.
“Solicitamos este encontro porque penso que houve alguma falta de percepção ao nível geral dos trabalhadores, facto que terá criado um clima de agitação. Não temos informação relativamente aos critérios que serão utilizados para a redução em 60 por cento. Esta é a grande preocupação”, afirmou Fausto Maurício, Secretário do Comité de Empresa.
Segundo Maurício, a redução da massa laboral como forma de salvar a empresa do colapso é inegável. Aliás, na ocasião explicou que a Tmcel juntamente com o Instituto de Gestão de Participações do Estado (IGEPE) têm vindo a diminuir a força de trabalho. Disse que, nos últimos meses, a redução da força laboral é um processo voluntário do trabalhador mediante a negociação da gestão da Tmcel.
“Entretanto, quando recebemos a questão da redução da força de trabalho em 60 por cento, isso criou alguma agitação porque os colegas não sabem que critérios serão definidos para indicação ou para o alcance da percentagem”, exclamou o representante dos trabalhadores daquela empresa pública de telecomunicações.
Contudo, apesar de falência técnica, o Comité de Empresa da Tmcel mostrou-se satisfeito com as melhorias que a gestão e o IGEPE têm vindo a implementar. O Secretário destacou o problema de atraso de salário, como tendo sido ultrapassado, bem como os investimentos para melhorar a expansão da tecnologia 4.5G.
“Com a intervenção do IGEPE, a questão do pagamento de salários já está regularizada e isto está a devolver alguma dignidade e esperança dos trabalhadores em relação ao futuro da empresa. No que toca à expansão da rede, a Tmcel está a migrar dos 3G para 4.5G. Nesta altura, cobrimos grande parte do país, cerca de 75 por cento, faltando apenas as províncias de Cabo Delgado e Niassa. Também há um investimento feito para a modernização dos sistemas de facturação para garantir que a empresa possa reerguer-se e voltar a ocupar a sua posição no mercado”, detalhou Maurício.
Com essa declaração, o Secretário do Comité de Empresa deu a entender que o Ministro pode ter exagerado ao afirmar que a Tmcel, com dívida de 400 milhões de USD, está numa situação muito mais complicada em relação à empresa pública Linhas Aéreas de Moçambique (LAM); que está a perder rapidamente a sua quota de mercado; a sua receita está em progressivo declínio e que opera num ambiente altamente concorrencial, com uma reputação e percepção dos clientes sobre a marca a deteriorar-se, progressivamente. Contudo, na ocasião, Maurício negou esse entendimento perante jornalistas. Sem entrar muito para assuntos que dizem respeito à gestão da empresa, a fonte reafirmou que a massa laboral está actualmente satisfeita, por, de entre vários motivos, já ter salário em dia, o que renovou a confiança da empresa aos trabalhadores.
Refira-se que, para além da redução em 60 por cento da massa laboral, Magala apontou que a viabilização da Tmcel passa também por vender um mínimo de 80 por cento das acções e o Governo assumir todas as dívidas e empréstimos da empresa. Para reanimar a Tmcel, o Governo criou um Conselho de Transformação, composto pelos Ministros dos Transportes e Comunicações, Ministro de Economia e Finanças e pela Presidente do IGEPE, com a missão de sistematizar as medidas concretas para a estabilização da empresa. (Evaristo Chilingue)