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quinta-feira, 11 maio 2023 07:11

Companhias aéreas asiáticas e europeias rejeitaram “reanimar” LAM – diz Mateus Magala

Um mês depois de anunciar a entrada de um parceiro técnico-financeiro para a “reanimação” da companhia aérea de bandeira, o Ministro dos Transportes e Comunicações abriu ontem o livro sobre o processo que culminou com a escolha da consultora sul-africana Fly Modern Ark para o resgate da empresa Linhas Aéreas de Moçambique (LAM).

 

Segundo o Ministro dos Transportes e Comunicações, Mateus Magala, a empresa sul-africana foi a opção encontrada pelo Grupo de Aviação (equipa técnica constituída pelo Governo para avaliar e identificar parceiro adequado para LAM), depois de a companhia aérea moçambicana ter sido rejeitada por companhias áreas europeias e asiáticas, devido à sua crítica situação.

 

Falando esta quarta-feira, na Assembleia da República, durante a Sessão Plenária de Perguntas ao Governo, Magala defendeu que a avaliação feita à LAM concluiu ser “preocupante” a situação actual daquela companhia aérea, tendo observado, aliás, ser difícil encontrar companhias aéreas internacionais que estivessem dispostas a tornar-se um parceiro estratégico para a LAM.

 

“Como que a confirmar isto, contactamos companhias aéreas de reputação mundial e todas elas não mostraram interesse. (…) Foram contactadas empresas do Médio Oriente, da Europa e outras regionais, que não se mostraram interessadas em fazer parcerias, nem intervir na LAM nas condições em que se encontra”, disse Magala sem revelar os nomes das companhias aéreas contactadas e muito menos o período em que foram contactadas.

 

“A maioria das submissões e solicitações de entidades externas foi para consultorias regulares, isto é, os grupos de consultores interessados queriam realizar mais análises e apresentar recomendações, contrariamente à necessidade urgente de a LAM encontrar um parceiro que entrasse com recursos e opções, bem como cumprir os planos durante este período de transição”, afirmou o governante sem, porém, explicar as razões que o levaram a não lançar um concurso público internacional para o resgate da LAM.

 

Segundo Magala, a LAM tem um rácio de endividamento em relação ao capital próprio de 9,3 por cento, significando que o negócio é financiado, em mais de 90 por cento, através de dívidas. “A dívida não reestruturada manterá a companhia aérea a perder cada vez mais por ano. No ano passado, a LAM comunicou perdas na ordem de 74,6 milhões de USD. A empresa mantém consigo 9 milhões de USD em impostos diferidos. A situação é tão grave que tem tido dificuldades de pagar os benefícios de pensão para o pessoal, desde 2019”, detalhou o Ministro.

 

Para Mateus Magala, a Fly Modern Ark constitui a melhor opção para a estabilização da LAM, por ser uma entidade de “reconhecida experiência e, sobretudo, por assumir o risco desta operação”. Defende que a escolha da empresa sul-africana foi um processo “complexo e transparente”.

 

“Os honorários da FMA [Fly Modern Ark] só serão pagos com dinheiro proveniente da melhoria de eficiência e do aumento das receitas das operações da LAM”, acrescentou, sublinhando que a empresa vai apresentar, este mês, o seu primeiro relatório.

 

Entretanto, cinco dias após o anúncio da entrada de um parceiro técnico-financeiro na estrutura de gestão da LAM, refira-se, o Centro de Integridade Pública (CIP) publicou uma análise, na qual revela que a Fly Modern Ark “não possui comprovada experiência na gestão de companhias aéreas e que nunca resgatou nenhuma companhia aérea”, sendo especialista em caçar acções de companhias aéreas estatais, um projecto “mal-sucedido” até ao momento.

 

Segundo o CIP, a Fly Modern Ark, criada em 2016 pelo empresário Theunis Christiaan de Klerk Crous, foi rejeitada pelo Governo zimbabwiano, em 2017, quando apresentou uma proposta para equipar a Air Zimbabwe com equipamento turboélice da fornecedora chinesa Xian Aircraft Company em troca de 25 por cento das acções da empresa. Também ofereceu à South Africa Airways, um empréstimo de 21 mil milhões de Rands em troca de uma participação de 51 por cento, oferta igualmente rejeitada pelo governo sul-africano.

 

“O padrão de actuação da Fly Modern Ark no mercado aéreo regional não deixa dúvidas de que pode estar interessada em adquirir participações na LAM, como possível contrapartida. Tal pretensão não é em si problemática, mas pode acarretar sérios riscos como, por exemplo, a privatização da LAM de forma indirecta sem que tenha sido lançado um concurso internacional”, alerta aquela organização da sociedade civil. (A. Maolela)

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