Nascido a 10 de Abril de 1941, o Dr. Pascoal Mocumbi, foi um médico e político moçambicano, que desempenhou papel importante para a criação e estabelecimento do Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM) em 1996. A criação do CISM, teve como base, o primeiro acordo de cooperação entre os governos de Moçambique e de Espanha, assinado em 1980, ano em que o Dr. Mocumbi era Ministro de Saúde e posteriormente, Ministro dos Negócios Estrangeiros (entre 1987 e 1994) e Primeiro-ministro de 1994 até 2004.
“Graças ao seu apoio incondicional, durante o seu mandato como primeiro-ministro, a investigação em saúde converteu-se num dos pilares da nossa cooperação com Moçambique e permitiu a criação do CISM. A sua implicação no projecto foi tal que quatro anos após ter cessado as funções de primeiro-ministro, quando em 2008 foi criada a Fundação Manhiça, assumiu o cargo de primeiro Presidente desta e exerceu esse cargo até 2016, levando a cabo um inestimável trabalho de dinamismo e consolidação do CISM,” afirma o Embaixador da Espanha, Alberto Cerezo.
Ainda de acordo com o Embaixador, “em reconhecimento ao seu contributo para as relações de amizade entre Espanha e Moçambique, do papel que jogou na criação do CISM e da sua posterior dedicação ao mesmo como Presidente da Fundação Manhiça, S.M. O Rei Felipe VI, concedeu-lhe em 2014 a Comenda Número da Ordem de Isabel a Católica, que lhe foi entregue pelo então Embaixador de Espanha em Moçambique.”
"Em Moçambique, precisamos de fazer investigação na área da saúde precisamente porque somos pobres"
“Foi amável e inspirador” considera o Professor Doutor Pedro Alonso, cofundador do CISM e Responsável do Programa Global da Malária da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2014 a 2022. “Quando junto com outros colegas, fomos lhe explicar a necessidade de dotar o CISM de uma estrutural local privada, que pudesse ser a entidade gestora do CISM, ele rapidamente compreendeu e apostou nesse modelo. Lembro que quando tentávamos explicar a necessidade de investigação sobre doenças que afectam as populações pobres em Moçambique e noutros locais ele disse-me uma frase que jamais esqueci: Pedro, não precisa de me convencer. Em Moçambique, precisamos de fazer investigação na área da saúde precisamente porque somos pobres,” comentou.
“Ele foi fundamental para a criação da Fundação Manhiça, numa altura em que não havia uma longa tradição de parcerias público privadas em Moçambique. Sem ele, esta extraordinária viagem desde um projecto de cooperação até ao estabelecimento legal de uma fundação moçambicana sob esta visão e perspectiva progressista não se teria materializado. Suas qualidades, ditaram que logo depois da criação da Fundação, fosse convidado a ser de facto o primeiro presidente, posição no qual trabalhávamos juntos, eu como presidente do conselho de administração, pelo que, foi uma grande honra e um privilégio,” considera Pedro Alonso.
Por outro lado, seu companheiro, amigo e actual Presidente da Fundação Manhiça, Dr. Leonardo Simão, recorda que o Dr. Mocumbi foi crucial para o estabelecimento da Parceria entre a Europa e os Países em Desenvolvimento para a Realização de Ensaios Clínicos (EDCTP), instituição na qual trabalhou como Alto Representante. “Ora, a EDCTP é actualmente um dos financiadores de projectos do CISM. E esta instituição, junto com os outros financiadores, contribuem para o crescimento do CISM e consequentemente no avanço da pesquisa em doenças que afetam as populações mais vulneráveis em Moçambique.”
“Algo que admirava no Dr. Pascoal Mocumbi é a humildade que o caracterizava, pois, ele era uma pessoa que representava os valores de que falava, que nunca falhava em dar impressão independentemente do público. Era muito disciplinado, e sempre se dedicava algum tempo para se preparar adequadamente e dizer as coisas certas no tempo certo, era apaixonado pela forma como se apresentava, pois, tinha um código para vestir sem estravagância, para além disso, tinha uma dedicação especial à sua Saúde, fazia sempre exercícios matinais. Acima de tudo, ele era muito importante na advocacia pelo desenvolvimento de capacidades locais, promoção de excelência e liderança a nível local” considera o Director Executivo da EDCTP, Dr. Michael Makanga.
As instituições nunca devem ser estabelecidas e construídas a molde das pessoas que as dirigem no momento, mas sim devem ser feitas para sobreviverem e continuarem quando as pessoas não estiverem nas mesmas.
“Perder alguém querido é sempre difícil, principalmente pessoas como o Dr. Mocumbi, que sempre pensou e fez para o mundo, como Médico, como dirigente, como conselheiro e acima de tudo como inspirador. Nunca me esqueço das duas frases que quase repetimos de forma poética: as instituições nunca devem ser estabelecidas e construídas a molde das pessoas que as dirigem no momento, mas sim devem ser feitas para sobreviverem e continuarem quando as pessoas não estiverem nas mesmas.” Considera o ex-director do CISM, Eusébio Macete.
Perante esses factos, temos a missão de eternizar o Dr. Mocumbi. O seu contributo para o desenvolvimento do país é inquestionável, e para o CISM idem, pois, a maioria de nós cresceu olhando para ele como um exemplo, na área de saúde no geral, mas sobretudo pela importância que ele dava para a pesquisa biomédica, dai que achamos que sua história e percurso devem perdurar, nos anais da nossa história.
Temos a missão de eternizar o Dr. Mocumbi
( Este texto, foi elaborado pelo Director geral do CISM, Francisco Saúte, com a colaboração da equipa de comunicação do CISM)