O jornalista Arlindo Severiano Chissale está desde a tarde de sábado (29) detido nas celas da PRM em Balama, província de Cabo Delgado, e sem direito a advogado, alegadamente, por estar naquele distrito para espionagem. Nos últimos tempos, Chissale trabalha como freelancer e é igualmente um dos gestores da mídia social de um grupo denominado Pinnacle News.
Fontes familiares disseram à "Carta" que ainda não sabem as reais motivações da detenção do jornalista Arlindo Chissale, baseado em Nacala-Porto, província de Nampula, mas confirmaram que, na última sexta-feira, deslocou-se a Balama, depois de ter estado na cidade de Pemba.
Chissale, que viu todo o seu material de trabalho confiscado, incluindo os celulares, até ao meio-dia desta segunda-feira não sabia as razões da sua detenção, mas alega-se que foi visto a fazer fotos em algumas artérias da sede do distrito de Balama.
Sem direito à defesa, segundo avançam as mesmas fontes, ele foi informado que a Polícia lavrou um processo-crime contra si, mas não sabe ainda o teor do mesmo. Arlindo Chissale tem-se destacado na publicação de vários artigos, através das plataformas de Pinnacle News, sobre os ataques terroristas nas províncias de Cabo Delgado, Nampula e Niassa.
Em comunicado, o MISA-Moçambique confirmou esta terça-feira (1 de Novembro) a detenção do jornalista Arlindo Chissale, depois de um contacto com o administrador de Balama, Edson Lino. Na sua nota, o MISA-Moçambique apela à restituição imediata do jornalista à liberdade, ao mesmo tempo que defende que a captação de imagens de instituições públicas por jornalistas é um procedimento típico da profissão e se insere no processo de recolha de informação.
De acordo com a organização não-governamental Repórteres Sem Fronteiras, Moçambique está entre os países lusófonos com piores níveis de liberdade de imprensa. A primeira Constituição multipartidária de 1990 consagra a liberdade de imprensa e o direito à informação. No entanto, os ataques a jornalistas, a falta de recursos e a autocensura completam um quadro cada vez mais sombrio para a situação dos média em Moçambique.
Por outro lado, a guerra em Cabo Delgado prejudica a liberdade de imprensa em Moçambique, tornando a situação dos jornalistas bastante "difícil".
Lembre-se que, por ocasião do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, celebrado a 3 de Maio, a organização não-governamental Repórteres Sem Fronteiras publicou a 20.ª edição do "ranking" mundial da liberdade de imprensa, em que a prática do jornalismo é avaliada em 180 países.
No ranking deste ano, Moçambique surge em 116º lugar, o que representa uma queda de oito lugares face ao ano passado. De acordo com a análise da ONG, a situação dos jornalistas no país liderado por Filipe Nyusi é considerada "difícil". Moçambique volta também a ser o pior classificado entre os PALOP (a seguir à Guiné-Equatorial). Em 2022, Angola ocupa o 99º lugar (103 em 2021), a Guiné-Bissau ocupa o 92º (95 em 2021) e Cabo Verde 36º (27 em 2021).
No seu relatório, a organização Repórteres Sem Fronteiras escreve que o ambiente em Moçambique "é marcado por um crescente autoritarismo e existem cada vez mais dificuldades de acesso à informação".
No início de 2019, o jornalista Amade Abubacar foi detido sem direito a julgamento. Foi maltratado, mantido incomunicável e foi privado dos seus direitos em quase quatro meses de prisão preventiva, segundo relatos do Instituto de Comunicação Social da África Austral (MISA Moçambique). O repórter foi preso por entrevistar famílias que fugiam da violência dos terroristas que operam em Cabo Delgado desde 2017. Segundo a Repórteres sem Fronteiras (RSF), as autoridades têm feito tudo para impedir a cobertura sobre a violência armada no Norte do país. (Carta)