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BCI
quinta-feira, 11 outubro 2018 15:05

Os excluídos de Chinonankila

Nos arrabaldes cada vez mais urbanizados (ou cheios de betão) entre a Matola e Boane, há uma ilha de excluídos. Cidadãos que vivem na confluência dos serviços municipalizados dos dois lados mas que não podem votar porque ninguém se recordou de lhes abrir as fronteiras da autarcização. Em Chinonankila, e também em Juba, seus habitantes não votam. Não estão autarcizados, na linguagem oficial. Essa ilha desmunicipalizada começa na Matola-Rio, ali na ponteca, e termina onde inicia o elitista bairro do Belo Horizonte, que foi anexado pela edilidade da vila distrital de Boane.
A ilha cobre a zona do chamado Km 16 e Chinonankila, do lado direito da estrada para que vai à Boane, desaguando cá mais a noroeste, na zona de Beluluane, mais concretamente em Juba. Alí habitam milhares de cidadãos que se cruzaram numa urbanização informal cada vez mais dominada por família de classe média. Na verdade, uma certa expansão da Matola (e já agora de Boane também) é feita para aquelas bandas. A zona também serve de dormitório para dezenas de milhar de cidadãos que trabalham em Maputo e Matola.
 
Chinonankila é meio rural meio urbana. Sua evolução está, no entanto, a grande rítmo, como a generalidade dos bairros da área metropolitana do grande Maputo. Os nativos vivem de agricultura mas os novos habitantes já construíram casas convencionais de grande padrão arquitectónico. Também há muito betão desordenado. Muitos dos membros da sua classe média conduzem viaturas de alta cilindrada. Fazem compras na Matola e em Maputo. Novos investimentos têm surgido, ligados à construção civil, restauração e lazer. Há atividades económicas a germinar. Um jovem empreendedor matolense, Archer Sarmento, ergueu alí de raiz uma escola primária e secundária (com kindergarten) de padrão internacional chamada Woodrose Internacional School, usando os critérios de assessment do chamado Cambridge Certificate. A Woodrose, com centenas de alunos, serve as elites da Matola e Boane. Sim, Chinonankila tem essa particularidade. Serve mais não é servida. O bairro tem o estatuto de localidade do distrito de Boane. Sempre foi um lugar de Boane. Quando a vila virou edilidade, em 2013, as autoridades de lá deixaram de lado Chinonankila mas anexaram o Belo Horizonte e o Campoane, bairros mais evoluídas. Mas a sina do lugar começou com a chegada da Mozal à Beluluane, uma localidade de Boane.
 
Com o apetite nos impostos na zona industrial de Beluluane, o lobby municipal da Matola integrou no município o lugar circundante à Mozal mas deixou de lado toda a faixa de Juba, do lado este da estrada que vai da Matola-Rio à N4. Os de Juba e Chinonankila parece terem sido rejeitados pela Matola e pela autarquia da vila de Boane. Hoje, muitos estão em casa. Podiam ter ido ao trabalho. Uns viajaram. Não votar é, para outros, um mal menor. Pior é na tramitação de documentos tipo DUAT ou licenças de construção. Eles vivem nisso um martírio. São rejeitados na Matola como na vila de Boane, e as autoridades do distrito não têm capacidade nem para dar vazão aos requerimentos nem para fiscalizar nada. A opção da maioria é construir a seu bel-prazer. Chinonankila se ressente dessa ausência de autoridade. O bairro vai evoluindo sem qualquer regra moderna de urbanização. Coisas que podiam ser evitadas vão ter que ser remediadas um dia. Quando esse dia chegar.

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