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quarta-feira, 25 maio 2022 07:19

Os "difíceis caminhos para vencer a lucrativa indústria dos raptos em Moçambique"

raptos sequestro min

 

Os dias passam. As vítimas aumentam. Sonhos destroem-se. As famílias separam-se. Por trás de cada um destes cenários, grupos criminosos enriquecem. O facto é que os grupos da indústria dos raptos crescem a par das detenções anunciadas com pompa e circunstância pelo Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC).

 

A realidade é que, segundo fontes internas do sector castrense, os processos criminais que são instaurados contra a maior parte dos indiciados não contêm informações aprofundadas sobre os contornos e meandros do crime. Conforme apuramos, aqueles que ousam revelar detalhes profundos da rede são misteriosamente transferidos para regiões recônditas das províncias de Maputo (Mahubo), Gaza (Chicumbane e outros locais) ou Sofala, onde nunca mais voltam a ser vistos.   

 

De acordo com as fontes, para além dos raptos que são mediatizados, existem aqueles que não são, porque os valores exigidos são pagos na moeda nacional, o Metical. Principalmente, devido a alguma flexibilidade bancária que a rede possui e o tipo de individualidades envolvidas no complexo crime. Um exemplo claro deste tipo de raptos e seus envolvidos verificou-se na Cidade da Beira, Província de Sofala, quando um cidadão de nacionalidade chinesa, que responde pelo nome de Lin Jian Guingouan, já condenado a 18 anos de prisão maior, viu no rapto de um compatriota a solução dos seus problemas, entre eles, uma dívida de 20 milhões de Meticais contraída no Casino Marina, durante os jogos de azar.

 

O "azar" de Lin Jian Guingouan é que a sua quadrilha não tinha gente devidamente posicionada ao nível do sector castrense em Sofala ou Maputo, o que permitiu que os agentes de investigação fizessem um trabalho rápido e eficaz. Isso não acontece nos outros casos, uma vez que os envolvidos possuem informações privilegiadas sobre tudo que esteja acontecendo dentro e fora. De acordo com fonte sénior do SERNIC, se o rapto ocorre dentro de uma comunidade específica, é porque a vítima foi marcada interna e externamente e os sequestradores sabem tudo que é feito.

 

Devido a isso, revelou a nossa fonte, os casos acabam não tendo um desfecho esperado, uma vez que as vítimas são detidas em cativeiro e os sequestradores estão sempre de "olho nelas e nos seus parentes." A nova moda, de acordo com a fonte, é raptar filhos de empresários de origem asiática e não simples membros da família ou mesmo os chefes, uma vez que estes últimos acabam demorando fazer os pagamentos, em contas bancárias criadas para durar minutos e depois deixam de existir, logo que o pagamento é efectuado.

 

Conforme garantiu fonte sénior do SERNIC que pediu anonimato, "os crimes de rapto não são feitos por qualquer indivíduo''. Existe uma estrutura devidamente feita e comandada. Cada integrante tem um papel específico, por isso que, diante do actual cenário, é quase impossível encontrarmos todos os implicados e desmontar o grupo, porque há muita gente envolvida."

 

Segundo aferimos, os 14 casos instaurados de Janeiro a Dezembro de 2021 e anunciados pela Procuradora-Geral da República (PGR), Beatriz Buchili, durante a apresentação do seu informe na Assembleia da República no mês passado, e relacionados com o crime de raptos, parte significativa não tem dados robustos que possam levar a uma investigação criminal em cascata, uma vez que os detidos não cooperam ou não sabem nada dos passos subsequentes.

 

A fonte questiona os contornos das detenções ocorridas na Cidade de Maputo, em que alegados sequestradores haviam arrendado uma residência e pago cerca de 600 mil Meticais adiantados. Questionando, a nossa fonte disse: "se é que os agentes que investigavam o caso tinham tanta certeza assim de que a casa seria um cativeiro, porque não seguir o caso até ao fim, para que não fossem detidos apenas os guardas e serventes da residência?" – "Isto demonstra que alguém não deve ter ficado satisfeito com os contornos do negócio e, aflito com a situação, quis mostrar trabalho na corporação e entregou os locais", afirmou a fonte.

 

A fonte explicou que os raptos de Safiyyah Firoz Saleji, de 19 anos de idade, na Cidade da Beira e de Hafez Huzeifa, de 20 anos de idade e filho do empresário Faruk Ayoob, de 24 anos de idade, na Cidade de Maputo encaixam-se na nova estratégia do grupo, porque entendem que só assim as famílias cooperaram de imediato.

 

A situação, conforme apuramos, poderá ser mais perigosa para as famílias de origem asiática e com posse, porque para além de magistrados, juristas e agentes do sector castrense, estão a surgir políticos nacionais e sedentos por mais dinheiro e riqueza a envolverem-se nesta indústria criminosa que está a afugentar investidores e a destruir famílias.

 

De referir que, neste sábado (21), vários cidadãos na Cidade da Beira, capital de Sofala, saíram à rua empunhando cartazes e exigindo a libertação da estudante da Universidade Católica de Moçambique (UCM), Safiyyah Saleji, de 19 anos de idade, sequestrada na semana passada, durante o intervalo por homens armados. Os manifestantes foram devidamente escoltados por unidades da PRM, sem qualquer sobressalto, um acto raro na actual administração nyusiana. Os manifestantes empunhavam mensagens nos seus dísticos como: "quando poderemos sair de casa sem medo?", "A cada rapto há uma família destruída!(Carta)

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