A Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN), entidade do Governo moçambicano, admitiu ontem que a “solução militar” é insuficiente para restaurar a paz na província de Cabo Delgado, defendendo ações de desenvolvimento social e económico na região.
“Hoje, como muita gente sabe e muito bem diz, a solução em Cabo Delgado não é a solução militar”, disse João Machatine, coordenador de Assuntos de Comunicação e Transversais da ADIN.
João Machatine falava à margem da conferência de lançamento do relatório anual (relativo a 2021) do Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), organização não-governamental moçambicana, intitulado "Resolução de conflitos em Cabo Delgado”.
“O Governo criou a agência para poder constituir o seu exército [de desenvolvimento económico e social] diferente do exército das armas”, sublinhou.
João Machatine avançou que já está em marcha a estratégia de reconstrução dos distritos afetados pela ação de grupos armados na província.
“Temos feito trabalho, lado a lado, e em estreita articulação com os grandes parceiros de cooperação e organizações de apoio ao desenvolvimento” ao nível de infraestruturas, para que a população se sinta segura com vista a um regresso “espontâneo e gradual”, explicou.
A população está a retornar às vilas dos distritos, evitando, por enquanto, reinstalar-se em povoações mais remotas e circunscrições mais pequenas (os designados postos administrativos, algo semelhante às freguesias na organização administrativa moçambicana), porque “a situação ainda inspira um pouco de cautela” ao nível da segurança, assinalou.
O diretor do CDD, Adriano Nuvunga, reiterou que o Governo deve apostar num “diálogo inclusivo” com as comunidades de Cabo Delgado, visando a implementação de uma estratégia centrada no desenvolvimento económico e social da região.
“A resposta militar sozinha não é suficiente para responder à situação", enfatizou.
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
Há 784 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.
Desde julho de 2021, uma ofensiva das tropas governamentais, com o apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), permitiu recuperar zonas onde havia presença de rebeldes. (Lusa)