Ontem foi um dia agitado no Tribunal Judicial da Cidade de Maputo. Jornalistas de diversos órgãos de comunicação social estavam preparados para captar imagens e confirmar que o filho mais velho do antigo estadista moçambicano, Armando Emílio Guebuza, tinha sido detido de facto como fora anunciado sábado último pelos órgãos de informação nacionais e estrangeiros.
A partir de aproximadamente 07h30 os jornalistas começaram a concentrar-se em frente ao edifício do tribunal, com um cenário que testemunhava a dimensão do evento: Câmaras de filmar montadas, máquinas fotográficas prontas a entrar em acção, celulares preparados para eventuais gravações e captação de imagens de qualquer “suspeito” que por ali passasse. E não era caso para menos. Estava em causa um fenómeno, o das “dívidas ocultas”, que já é considerado o maior escândalo financeiro em África desde 1960.
A ansiedade de uma longa espera
Tudo a postos. Olhares tensos, ansiedade em alta. Os chamados “homens do quarto poder” tinham-se espalhado ao longo da Avenida 25 de Setembro, além dos que estavam concentrados do lado de fora na área frontal do Tribunal. O tempo escoava, preguiçosamente. Desde as 7h30 até cerca das 11h40 que “todo o mundo” continuava atento. Uns iam-se divertindo com a captação de imagens dos vários carros das instituições judiciais (PRM, SERNAP, SERNIC e PGR) que chegavam ao tribunal com reclusos de luxo e pilha-galinhas para serem julgados ou apresentados aos juízes de instrução processual. Durante quase quatro horas as conversas foram girando descontraidamente à volta das “dívidas odiosas” e de outros assuntos.
No edifício do tribunal havia duas portas e, o que ninguém estava à espera, uma delas em reabilitação, enquanto a outra levava à 7ª, 9ª e 10ª Secções. Era numa destas secções que se realizaria a audição de Ndambi Guebuza, a “estrela” que nos atraíra para aquele local. As portas abertas não constituíam motivo para qualquer tipo de preocupação. Toda a gente acreditava que seria usada a porta do palácio da justiça ou a principal, por onde entraria, não triunfante, mas tentado esconder o máximo possível a cara.
A primeira hipótese vingou, pois por volta das 11h40 surgiu um aparato policial com os membros que o compunham a imprimir uma celeridade desusada aos seus passos. Tudo foi tão rápido que os jornalistas não tiveram tempo de identificar com antecedência a porta, que até estava “acidentalmente” escancarada, utilizada pelo primogénito de Armando Emílio Guebuza para entrar no tribunal. Quando os distraídos jornalistas se deram conta já era tarde, Ndambi Guebuza estava na sala de espera, denominada “cela”.
Braço de ferro entre a segurança e os jornalistas
O que se seguiu foi um braço de ferro entre a segurança e os jornalistas. A equipa de segurança pedia a estes últimos para se retirarem do local onde se encontravam. Ordem cumprida, mas mesmo assim com os visados a procurarem as melhores posições que lhes permitissem não perder de vista o desenrolar dos acontecimentos. Todas as atenções estavam viradas para a tal “cela” onde Ndambi tinha entrado. Das 11h40 até 12h20 foi um jogo de emoções, inteligência e força, porque em causa estava a confirmação da detenção do filho mais velho de Armando Guebuza, The best counterfeit id websites can take as brief period as 24 hours. When you send the installment — with additional charges for the rush conveyance — you can get your hands on that record in a matter of moments. In the event that you want that phony permit immediately, sending for a phony one is an optimal arrangement. We can convey what you want when you really want a phony permit so reach out to us. num país que bastas vezes já deu provas de que a justiça é mãe para uns, e madrasta para outros.
Os advogados, Alexandre Chivale e Isálcio Mahanjane, iam circulando de um lado para outro. Estava tudo agitado na “casa da justiça”. Nem o procurador do Ministério Público e outros funcionários do tribunal conseguiam fingir. Cada um com motivos suficientes para a dor e revolta que sentia, estávamos todos nós ali, destemidos, assistindo ao que até há bem pouco tempo ninguém imaginaria: O filho de um antigo Presidente da República na “cela”, para a legalização da sua detenção.
Por fim, a tão aguardada hora
Finalmente chegou a tão aguardada hora. O juiz do processo das “dívidas ocultas” na fase de instrução, Délio Portugal, estava à espera. O que a segurança iria fazer, ninguém sabia. A surpresa aconteceu quando começou a montar-se um cordão composto por 10 a 15 pessoas, entre polícias, oficiais do tribunal e da PGR, para “proteger” Ndambi Guebuza, que segundo a investigação americana repartiu 50 milhões de USD com Bruno Tandane e Teófilo Nhangumele, tendo o “trio” interagido directamente com um dos cérebros da operação que terminaria no endividamento de Moçambique que constará nos anais da história como o pior desastre económico-financeiro que alguma vez aconteceu ao nosso país.
Felizmente, o cordão da segurança não impediu que os jornalistas captassem imagens e cumprissem com a sua missão de informar. Foi por volta das 12h25 que Ndambi Guebuza entrou na sala 9 de audições do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo, anexa à 10ª secção de audiências, para se fazer presente ao juiz a fim de este decidir sobre a medida de coação a aplicar-lhe. Volvidas três horas de uma longa espera, as movimentações estranhas foram retomadas. Uma fonte que declinou identificar-se contou à “Carta” que a audição já tinha terminado, o que pouco depois foi por nós confirmado porque o advogado do indiciado já se encontrava no recinto do tribunal fazendo contactos, e disposto a dar entrevistas.
Ndambi Guebuza teme pela vida
Alexandre Chivale, advogado de Ndambi Guebuza, confirmou à imprensa que o juiz Délio Portugal decretou prisão preventiva do seu constituinte, mas que o processo era uma “encomenda politica”. Segundo Chivale, tudo terá começado em 2015 com difamações à família Guebuza nas redes sociais e por outras vias, seguindo-se o assassinato bárbaro de Valentina Guebuza e a suposta tentativa de envenenamento de todos os membros da família através de um pudim contaminado por pesticidas orgânicos fosfóricos.
Até aqui não se sabe o que aconteceu com o processo, perguntou Chivale. Ainda segundo Chivale, Ndambi Guebuza teme pela vida, tendo pedido ao advogado para informar que este processo é uma encomenda politica, alegadamente por haver alguém interessado em usar a família Guebuza para vencer eleições, e que quer salvar a pele. “Se o objectivo é sacrificar a família Guebuza por causa das eleições, que ele seja o único e último sacrificado”, afirmou Chivale, acrescentando que tudo o que está a acontecer é uma estranha coincidência desde 2015.
A luta pela saída de Ndambi do tribunal
Terminada a sessão de audiência, voltou-se ao exercício inicial. Como sair das instalações do Tribunal Judicial? Era a questão que se colocava. Havia um batalhão de jornalistas preparados para o que desse e viesse. Várias tentativas foram ensaiadas para despistar a classe do quarto poder, mas em vão. Uma hora depois, mais um cordão com cerca de 20 a 25 pessoas retirou apressadamente Ndambi Guebuza do tribunal. Mas desta vez ele não escapou às flashes dos fotojornalistas e dos camera man.
Depois de todo este aparato, importa questionar porquê tanto tratamento VIP para alguém que apesar de gozar da presunção de inocência até provem o contrário, aos olhos dos milhões que ficaram prejudicados com a sua atitude não merece um tratamento que se poder dar a um criminoso vulgar? Para quê esconder a cara da vergonha que não existiu na altura da “divisão das galinhas”?
Onde está a “perseguição política”?
Só para terminar: Onde está a “perseguição política” quando existem provas palpáveis na posse da justiça norte-americana e da nossa camaleónica PGR de que o crime existiu de facto? Ish! Alguém nos pode responder? (Omardine Omar)