Samora Machel é imortal. Um leão que ruge na memória dos algozes como a comporta da devastação. Ele ressurge nas efemérides esvaziadas, encimando os mastros e vibra na voz tinotroante pedindo contas aos traidores. As massas populares continuam a segui-lo no fracasso dos mercados onde o negócio sossobra, ninguém compra nada, não há dinheiro. E o povo não se cansa de gritar, lembrando um homem que nos catapultava e dizem: “se Samora estivesse vivo não haveria estes abusos”.
Ocuparam o nosso país outra vez. Esta terra deixou de novo de nos pertencer, e toda a epopeia da luta das matas foi vituperada pela ganância. Não é verdade o que o Primeiro-ministro Adriano Maleiane disse, de que o povo sofre de síndrome de impaciência e quer ganhos imediatos. Mas o gás brota em Moçambique há cerca de trinta anos em Temane, onde a Sasol suga o nosso recurso numa acção de saque, e nunca ganhamos com isso de forma justa, nem pelo menos as comunidades locais. E Maleiane vem a terreiro fazer-nos de tolos. Maleiane disse ainda que o gás não começou a sair e “nós já estamos a reclamar”. Ora! Quem não sabe que o gás já jorra e já faz dinheiro?
Joaquim Chissano, ex-presidente da República, também veio cá fora afirmar que o problema é a formação, por isso não estamos a usufruir da riqueza existente no subsolo, mas não é isso! O verdadeiro problema é a desonestidade dos acordos estabelecidos com as multinacionais, que exploram os nossos recursos a seu bel prazer. Humilham-nos. Riem-se de nós. Matam-nos nas minas.
As grilhetas voltaram aos nossos pés e, no roçagar das correntes, ouve-se a voz de Samora. O povo quer de volta a almadia que nos levava aos estádios e às praças onde sonhavamos com o crepúsculo do amanhecer, e essa almadia já não existe. Caíram os pilares da integridade. Esboroou o compromisso de criar felicidade para o povo, e o que resta agora parece ser a resignação perante os novos colonos que regressam triunfantes, entrando pelas portas mais sofisticadas.
É preciso matar Samora Machel outra vez, para voltarmos a encher as ruas com lágrimas e revigorarmos o espírito, cantando as canções da nossa luta, hoje enterradas na escala diatónica do infortúnio.
- A luta contunua!
- Continuaaaaaaaaa!
- Viva o povo moçambicanos do Rovuma ao Maputo!
- Vivaaaaaaaaaaa!
- Abaixo a exploração do homem pelo homem!
- Abaixoooooooo!
É preciso matar Samora Machel outra vez para que a Praça dos Heróis se escancare e o povo encha as ruas como as marés enquinociais. Mas os verdugos continuam assustados. O povo estava nas mãos de Samora, e hoje não está nas mãos de ninguém, foi abandonado no deserto sem fim. Então é preciso matar Samora outra vez para que as nossas lágrimas voltem como as albufeiras da esperança.
- A luta continua!
- Continuaaaaaaaaaa!
- Independência ou morte!
- Venceremos!