Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI

Blog

sexta-feira, 01 março 2024 06:31

Sou eu, o Zé Luís... o gato!

Fui nascido com o firme propósito de reverberar com as mãos tenazes. A mulher que me deu à luz no chão, não sabia que com o andar do tempo eu estaria no cume, nem tinha capacidade de perceber que vinha ao mundo para levantar estádios inteiros. A minha missão  era essa, mais do que defender as azagaias arremessadas com furor, fui escolhido entre muitos para ser o derradeiro reduto.

 

Ainda trago de Chimoio e de toda a província de Manica, aqui onde a vida é vivida segundo as parábolas, as lembranças de que o esteito dos matewe (tribo maniquense) era eu. Era em mim que se agarravam nas batalhas dramáticas do futebol, na esperança quase certeza, de que sobre mim ninguém vai passar. E na verdade era isso mesmo, eu serei a última esperança. A esperança infalível!

 

Diziam sempre, quando me vissem a passar pelas ruas de Chimoio, que a albufeira de Chicamba era eu, pois, segundo eles, sem mim não haveria iluminação no Textáfrica, mas isso era um exagero, Chicamba era toda a equipa, uma das melhores que Moçambique já teve em todos os tempos.

 

Mas todas essas memórias que hoje me vibram na alma neste lugar onde o futebol tornou-se música, não vão querer dizer mais nada,  senão que a minha vida na terra foi uma outra forma de celebrar os sons e os batuques das vitórias, eu dançava na baliza. Ria me dos avançados que desciam em flecha ávidos de celebrar o golo, sem saberem que eu era o baluarte de Chimoio e que nas minhas veias vai circular com verve, todo o sangue dos guerreiros de Chimanimani.

 

Sou eu, o Zé Luís, o Gato! Rejubilo em todos os momentos neste lugar onde vivo a vida jamais imaginada e jamais esperada. Aqui nada é repetitivo, só existe o crepúsculo do amanhecer. Tudo é novo e reluz-se por si mesmo.  É diferente dos dias das derrotas do Textáfrica, e da Selecção Nacional, que me entristeciam profundamente. Sobretudo aquela humilhação nos Camarões! E ainda alguém zombava de nós dizeendo: quem semeaia ventos, colhe tempestades! Mas eu já me esqueci desses vendavais que em determinados momentos tornavam-se em dilúvios.

 

Sou eu, o Zé Luís, o Gato! Apagaram-se em mim todas as dores, e agora passo a vida a planar, ouvindo de vez em quando a voz do João de Sousa gritando: que defesa espectacular do Zé Luis! E logo a seguir vejo o mar de gente enchendo o Estádio da Machava, ovacionando-me. Mas eu chorava sozinho,  de emoção, sentindo os arrepios em todo o meu corpo e espírito, ao ser erguido pelo povo inteiro.

 

Pois e! Só vinha vos dizer isso, e pedir ao Textáfrica, agora que luta por se levantar outra vez, o favor de levar o canecão ao Monte Binga, como aconteceu em 1976. E para essa luta, contem comigo.

 

Sou eu, O Zé Luís, o Gato!

quinta-feira, 29 fevereiro 2024 10:58

Implicações do Estado de Emergência em Moçambique!

“Nas redes sociais, fala-se muito da hipotética declaração do estado de emergência e, consequentemente, adiar-se a realização das eleições gerais de 09 de Outubro de 2024, mas muitos esquecem-se de um pormenor: essa declaração, para além do Chefe de Estado, implica a aceitação por outras instituições, em que entra também a oposição, com interesse claro nas eleições. Em caso de um provável consenso, temos de aceitar que a causa é superior e se trata do interesse nacional, porque, de contrário, a oposição não aprovará. E ainda que a Frelimo, representada nessas instituições, viabilize a declaração, não haja dúvidas que será a fracturação da nação moçambicana!

AB

“O Presidente da República tem competências, no domínio da defesa nacional e da ordem, para declarar a guerra e a sua cessação, o estado de sítio ou de emergência [CRM Artigo 160(a)]. Por forma a declarar o estado de sítio ou o estado de emergência, o Presidente deverá, em primeiro lugar, ouvir o Conselho de Estado, bem como o Conselho Nacional de Defesa e Segurança [CRM Artigo 165(b) conjugado com o Artigo 265(1)(b)].

A suspensão das garantias constitucionais e a declaração do estado de sítio ou do estado de emergência devem ser sancionadas pelo Parlamento [CRM Artigo 178 (2)(g)] ou, caso o Parlamento não esteja em sessão, devem ser autorizadas ou confirmadas pela Comissão Permanente da Assembleia da República, sujeito à ratificação [CRM Artigo 194(d)].

A declaração do estado de emergência não deverá: Exceder trinta dias, os quais podem ser prorrogáveis por iguais períodos até três vezes (portanto, por um período máximo de quatro meses), caso as razões para a sua declaração persistam [CRM Artigo 292]; e
Limitar ou suspender os direitos à vida, à integridade pessoal, à capacidade civil e à cidadania, a não retroatividade da lei penal, o direito de defesa dos arguidos e a liberdade de religião [CRM Artigo 294]”

In Sal & Caldeira Advogados Lda. Tempo de Covid-19

O estado de emergência ou de sítio não é uma questão de vontade ou o querer do Chefe do Estado. A declaração do estado de emergência obedece a um procedimento, que requer a unanimidade em relação ao evento, que possa determinar a existência desse estado de emergência.

Esta reflexão surge porque existem muitos círculos de opinião, falando da hipotética declaração do estado de emergência para que não haja eleições. Eu penso que as pessoas devem informar-me melhor antes de dizerem seja lá o que for. Na verdade, apesar de competir ao Presidente da República, a sua declaração é antecedida de procedimentos que, na minha opinião, incluem gente fora do circulo do Presidente da República, ou seja, a Assembleia da República e o Conselho de Estado são órgãos de consulta obrigatória, segundo a Constituição da República.
Pode-se dizer que a Bancada Parlamentar da Frelimo tem a maioria e pode aprovar a Declaração do estado de emergência, é verdade, mas não se pode, à partida, pensar que a disciplina partidária poderá funcionar em tudo, pois existem percepções diferentes sobre a mesma matéria. Mais, se a acção terrorista for a causa da declaração do estado de emergência, tratando-se de uma acção que iniciou em 2017, passam sete anos, qual seria a perspectiva do aniquilamento do terrorismo, tendo em conta que essa declaração não pode ser eterna?!

Os moçambicanos devem orgulhar-se das Forcas de Defesa e Segurança que têm. Trata-se de nova época, que requer novos Heróis e, na minha opinião, os jovens, que estão na frente de combate, no teatro operacional norte, são e serão sempre o garante da estabilidade de Moçambique. Os terroristas não podem ser a causa da declaração do estado de emergência, pois, na minha opinião, a serem, o estado de emergência deveria ter sido declarado faz tempo, pelo que, não creio nesse boato de estado de emergência!

Os nossos irmãos em Cabo-Delgado estão a ser molestados, assassinados e brutalmente maltratados. É verdade que existe o êxodo das populações do norte de Cabo-Delgado, que fogem para a província nortenha de Nampula, mas também é verdade, são vários órgãos de comunicação social que vêm anunciando isso. Como moçambicanos, devemos mostrar ao mundo que estamos chocados com esses actos macabros e as entidades competentes devem criar condições para que a segurança, para a circulação de pessoas e bens, seja uma realidade naquela província. Isso não deve passar por qualquer estado de emergência, na minha opinião, isso iria atrasar mais Moçambique.

As consequências da declaração do estado de emergência são as seguintes:

“a)     Obrigação de permanência em local determinado;

b)     Detenção;

c)     Detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns;

d)     Restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das comunicações, à prestação de informações e à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão;

e)     Busca e apreensão em domicílio;

f)      Suspensão da liberdade de reunião e manifestação; e

g)     Requisição de bens e serviços [CRM Artigo 295]”

In Sal & Caldeira Advogados Lda. Tempo de Covid 19

Adelino Buque

quarta-feira, 28 fevereiro 2024 08:23

Nelson Saúte: o farejador de memórias

O meu primeiro encontro com Nelson Saúte foi nas ruas poéticas dos meus antigos manuais escolares, ainda me recordo como se fosse hoje. Os meus manuais escolares, forrados de papel de jornal com rostos de mortos da necrologia, tinham no interior diversos versos de Nelson. O meu pai forrava os meus livros sem se importar com a pilha de mortos e pesadíssimos anúncios de adjudicações de contratos que carregava todos os dias para a sala de aulas.

 

Eu lia os poemas de Nelson numa gulodice que até hoje me impressiona. Depois de muitos dias de confiança, fui autorizado a carregar Nelson para a casa, em forma de livro, por bibliotecários da Associação dos Escritores Moçambicanos. “Maputo blues”, um livro belíssimo que me embasbacava de encanto a cada poema, porque eu, nos meus sonhos molhados e desmedidos de infância, queria também ser poeta e ser uma mítica figura que vivia em livros. Ainda oiço cada trepitar de todos os poemas desse livro neste momento.

 

E depois, de tempos a tempos, via Nelson entrando sem licença na casa dos meus pais pela televisão. Eu sorria, porque sabia que, em meu quarto, tinha também metade de Nelson escondido no seu jeito de poeta em meus manuais. Ainda tive as belíssimas cartas do “Escrevedor de destinos” em meu quarto, mas a minha pacata veia poética, que nessa altura estava verde, ficava amadurecida quando sentia o sal do “Maputo blues”.

 

Nelson Saúte, depois de um tempo decidiu lançar, pela sua editora, Marambique, o belíssimo livro de Noémia de Sousa “Sangue Negro”. E eu, comboiado pelos excelentes declamadores do Arrabenta Xithokozelo, estive no evento a dizer um poema de Noémia de Sousa. Nelson estava lá: elegante, conversador e com uma sensibilidade artística impressionante. Depois do lançamento, ainda tive a ousadia de esticar a minha mãozinha a Nelson. E ele olhou para mim uma data de tempo, não me apertou a mão, estava certíssimo, eu ainda era um miúdo; Nelson fez-me, apenas, umas festinhas ternas na minha cabeça despenteada enquanto ajeitava a voz debaixo de ruídos de comboios que partiam, ali nos CFM, para dizer “muito bem, rapaz. Muito bem, rapaz”.

 

E depois foi no Instituto Camões, numa palestra sobre Noémia de Sousa, que revi Nelson. Recordo-me que ele partilhava o pódio com o sublime poeta Eduardo White. Ambos falavam de Noémia de Sousa. A dado momento, Eduardo White, um poeta fervoroso, levantou-se, totalmente esgazeado, atacou Nelson com enormes palavras e fez um longo discurso cheio de calão e insultos enquanto usava as suas próprias mãos como duas batutas para escorraçar o moderador do debate. Nelson continuou no pódio, tonto de uma humildade desarmante que não me sai da memória. Ali sofreu em silêncio todos os bombardeamentos e insultos numa dignidade impressionante. Nos poucos segundos que o poeta Eduardo White dirigia-se, de forma abrupta, ao moderador, Nelson aproveitava para pingar no microfone suas vivências com Noémia de Sousa. Eduardo White, na sua altura de agitar o céu, depois de tudo, ainda disse ternurentas palavras sobre Noémia de Sousa que nos comoveu a todos.

 

Hoje, Nelson é esse grande guia que nos comanda nesse exercício canino de farejar memórias. Farejar todas as paredes com nódoas de memórias, polir lápides, abrir túmulos tão cheios de nós e fazer missas aos grandes homens que nunca cabem na nossa minúscula memória, se calhar por serem grandes. É uma grande honra pertencer ao tempo presente habitado, também, por Nelson Saúte. Não podemos ter receio e nem medo de o dizer “Nelson é um grande homem do nosso país”.

 

O escritor francês Vidalie dizia que devíamos todos usar suspensórios para que a alma nos caísse um pouco menos sobre os calcanhares. E além de suspensórios, eu acho que os todos os países precisam de homens como Nelson para que a memória lhes caia um pouco menos sobre os calcanhares.

 

Escrevo este texto porque soube que Nelson fez 57 anos de idade. Mas a energia de Nelson, nos seus textos, continua a de um rapaz de 20 anos, aliás, foi assim que o vi pela última vez: um moço de 20 anos de idade sentado numa sala, ali no museu dos CFM, de perna cruzada e engolido por um enorme jornal. Se calhar é este jornal que hoje me falta para forrar todas essas memórias sem me importar com os rostos da necrologia e os contratos de adjudicações.

Lembram-se da ladainha oficial que menosprezou os sinais do terrorismo quando ele dava seus passos iniciais : é assunto de Polícia. 

 

Hoje temos guerra fraticida. 

 

A ladainha deve ter servido para qualquer coisa, como o endinheiramento centrado na logística castrense. 

 

Hoje Cabo Delgado está um caos e a TotalEnergies hesitando. 

 

Lembrei-me desta saga interminável quando ouvia este podcast com Stefan Dercon, professor de Política Econômica na Universidade de Oxford.(em anexo e recomendo vivamente).

 

Ele diz uma coisa simples: sem que as  elites concordem que o caminho é o desenvolvimento, o contrário vai vigorar, a trapaça da pobreza. 

 

Esta é uma hipótese para Moçambique: nossas elites políticas e econômicas ainda concordaram numa visão de progresso colectivo. Cada um olha para si,  empobrecendo o Estado. 

 

Cabo Delgado foi (é) palco de experiências terríveis de enriquecimento e acumulação, e quando se conjecturava o fim do terrorismos que Nyusi bem amplificou com hosanas para si mesmo, ei-lo dando sinais vitais, marchando para o sul.

 

E o gás está lá, vendo  navios no Rovuma. 

 

Mas lembram-se também dos primórdios do gás do Rovuma,, entre 2005/7? Ainda pensava-se num gasoduto para a África do Sul, país então visto como potencial mercado… bom esta África do Sul está já exultar com a descoberta de petróleo lá. 

 

Os analistas dizem que a descoberta é como que um “game changer”. Ou seja, tem o pontecial para uma mudança estrutural da economia sul africana. E parece que a TotalEnergies tem espaço para avançar lá. sem um cordão de segurança ruandês, como em Afungi, e a escassos km terrorristas mostrando toda a sua malvadez.

  

Vejam o vídeo sobre a descoberta do petróleo  na sul africano. Eles vão monetiza-lo rapidamente. Com a transição energética, só pode. Mas e nós? Qual é a responsabilidade das elites no atraso do gás do Rovuma?

 

Marcelo Mosse

 

Video 1: https://www.youtube.com/watch?v=tE12-7wuydk

 

Video 2: https://youtu.be/7fie2tgS_Rc?si=bpmFIwP6jPEGNMaZ

quarta-feira, 28 fevereiro 2024 07:15

Lobos com pele de cordeiro

Riqueza é o estado de satisfação que um indivíduo tem. Muitos ficam satisfeitos e felizes com o estado e quantidades que, para alguns, é pobreza.

 

É recorrente e, desta vez, não muda: quando se chega ao fim de um consulado, a palavra de ordem ser “O Candidato”. Aqui, o Candidato na verdade ainda nem sequer é candidato; está-se a falar do Candidato a Candidato do Partido Frelimo. As outras formações políticas têm a sua maneira de chegar ao Candidato, mas nesta nesta missiva o sujeito é o Candidato do Partido Frelimo.

 

Se o Dia da Vitória é 7 de Setembro de 1974, então para mim somos independentes desde 1974. O Dia 25 de Junho de 1975 é apenas a data da proclamação da Independência Nacional, então o Partido Frelimo governa Moçambique há 50 anos!

 

Pela característica específica da nossa jovem Nação, o Partido Frelimo instrui o governo como deve governar, passe o pleonasmo, e isso sempre foi assim. É sabido que um Primeiro Secretário do Partido tem mais poder do que um Governador da Província e, claramente, sempre será impossível ter-se um Presidente do Partido que não seja Presidente da República, pelo menos em governos do Partido Frelimo.

 

Isto às vezes me faz confusão, de um lado por eu ser apenas um membro júnior do Partido Frelimo, mas de outro lado, talvez porque eu não tenha tido uma educação política, per si. É que, numa democracia, quando vamos às eleições, embora os empates sejam coisas que acontecem, normalmente há uma vitória e uma derrota. Simples como isso.

 

A minha confusão costuma surgir quando, neste debate da sucessão, mais do que se olhar para o perfil do futuro candidato à Presidência da República, as pessoas estão preocupadas com o candidato a candidato. Eu não concordo. Eu penso que o que estamos à procura é de uma pessoa que não só nos garanta uma vitória no pleito que se avizinha, mas também garanta a sua reeleição, e isso ultrapassa a vontade de menos de 20 pessoas e em menos de três meses.

 

O racional acima é a antítese de todo este processo. Parece haver garantias que para ser Presidente deste Moçambique é só garantir que dos outros candidatos você seja “O Candidato”.

 

Estas assunpções é que nos fazem ter Beira e Quelimane nas mãos da oposição, o que para mim não é necessariamente um problema, afinal, a finalidade da democracia é exactamente garantir a alternância, havendo. Estas cidades deveriam ser estudadas para se perceber primeiro porque passaram para lá e, segundo, porque já não estão a passar para cá?

 

Pode parecer um clichê, mas é nas derrotas que devemos fazer uma introspecção sob pena de termos surpresas que, até o mais intelectual dos intelectuais não disponha de uma explicação racional. O certo é que não há vitórias garantidas antes do embate, se a história recente valer de alguma coisa; pelo menos vejamos a questão da Rússia e Ucrânia.

 

É preciso pensar que a Frelimo não governará eternamente Moçambique e não interessa o quão membros ardentes sejamos, o trinômio Partido-Governo-Estado um dia pode ser dissolvido. E o que vai acontecer?!

 

A minha pergunta acima é retórica e não precisa ser liminarmente respondida, mas podemos divagar em torno disso.

 

Estamos a pouco menos de oito meses das eleições e tudo o que foi veiculado até agora é boato. O Partido Frelimo não tem candidatos nem candidatos a candidatos.

 

Já foi instruído que “…Não é você querer, é preciso que nós queiramos, para você se querer”; portanto, se seguirmos à risca, mesmo os candidatos a candidatos devem ser queridos por um círculo pequeno de pessoas, para que um outro número de pessoas, um pouco maior que o primeiro, chancele o candidato.

 

A pergunta que não se quer calar: “Se este grupo errar na escolha?”.

 

Eu até acredito que os meus chefes na Comissão Política têm olho de lince quando se trata destas coisas de ver aquela pessoa que nos vai guiar para as eleições, mas e o Comité Central?

 

O segundo órgão é extremamente importante e extenso, e cada pessoa com suas aspirações! Infelizmente, às vezes, estas aspirações são pessoais e não necessariamente voltadas para o povo. O que acontecerá no dia em que o Comité Central escolher um candidato que não consiga renovar o mandato ou, na pior das hipóteses, nem consiga um mandato?!

 

É aqui onde trago a parábola das três refeições: “Até muitos as têm, mas apenas um pequeno grupo de pessoas neste Moçambique é que tem carboidratos, vitaminas, lípidos, água, proteínas e minerais na mesa, portanto uma refeição balanceada.”

 

Tem-se visto no Parlamento a votação efusiva por uma peça de legislação para depois descobrirmos que afinal não devia ter sido aquilo e Ematum é um exemplo concreto: temos pessoas no Língamo, mas o voto dos deputados do nosso partido foi para a prossecução daquela empreitada. Então ficamos como?

 

O que acontece é que os melhores filhos do Partido Frelimo definitivamente não estão naquele parlamento, salvo poucas excepções. O grosso que está ali são camaradas que não têm ocupação e a única coisa que se encontrou foi um assento no parlamento para, pelo menos, garantir uma refeição condigna no fim do dia, mas que de legislação pouco ou nada entendem, de economia nem se fala, e a lista é extensa. Mas, estão ali no Parlamento e, aparentemente, me representam enquanto membro e cidadão! É que foram nomeados e depois eleitos pelos pares na base e chancelados no topo e, até renovam, então o processo foi democrático!

 

Alguém já pensou num modelo em que os parlamentares são distribuídos pelos distritos deste país e serem eleitos lá mesmo no distrito?! É que em vez da manta do Partido estes deputados só chegariam ao Parlamento se convencessem os seus constituintes que na verdade podem ali estar, pois defendem os seus interesses. Com a manta do Partido, as pessoas simplesmente corrompem o sistema para estarem numa boa posição na lista do Partido e depois é aquilo que temos visto.

 

O próximo Candidato do Partido Frelimo e futuro Presidente da República precisa, para além de muitas outras coisas, olhar para:

 

1 - Raptos

 

Este fenómeno já dilacerou a sociedade e, quando começou, foram exactamente membros seniores do Partido Frelimo que, em canal aberto, disseram que era um processo normal numa economia em franco desenvolvimento. Disseram que era um acerto de contas entre monhês, um termo não corrente e até certo ponto pejorativo para com os nossos irmãos de origem asiática, especificamente no subcontinente. O certo é que estamos há mais de 10 anos nesta ladainha, muitas movimentações na polícia a nível de topo e até na máquina securitária, mas os raptos não têm rosto, acontecem quase que semanalmente, milhões de dólares estão a ser pagos e famílias destruídas. Moçambicanos e estrangeiros abandonaram o país, o investimento estrangeiro retraiu e não há negócios.

 

2 - Cabo Delgado

 

Enquanto os especialistas se digladiam na imprensa sobre a definição do fenómeno que está a acontecer em Cabo Delgado, no terreno, população civil e Forças de Defesa e Segurança estão a perder a vida diariamente por causa de algo que primeiro se chamou de garimpeiros ilegais, depois bandidos, mais tarde insurgentes e, finalmente, terroristas. Nos escritórios, estamos à procura de definição. O certo é que enquanto estas definições não se traduzirem em acções concretas no terreno, aqueles 60 biliões que sempre se falaram em investimento na área de hidrocarbonetos vão-se esfumar, para não falar em ouro, grafite e rubis! O certo é que, desde Outubro de 2017 para cá, mais de 100 pessoas perderam a vida, milhares de irmãos deslocados e muitos investimentos paralisados.

 

3 - Economia

 

É muito comum falar-se do potencial de Moçambique. Myanmar também tem potencial, só que eles investem na produção de heroína. Moçambique tem uma costa de 2,800 quilómetros; a Somália também tem costa. Para que serve essa tal costa se o turista é extorquido quando chega (migração e polícia), quando está na estrada (migração, polícia, polícia de trânsito), quando sai (polícia e alfândegas)? Moçambique “já não é bom terra”, diz qualquer turista que por aqui tenha passado nos últimos anos. Por que vou comprar castanhas ali no Feima para depois ser stressado nos aeroportos porque “deveria trazer um documento do ministério do Turismo”? São coisas simples que matam uma economia e chutam à irrelevância o Ministério de Turismo e Cultura, instituição que já deveria ter sido extinta há muito tempo.

 

4- Agricultura

 

A nossa constituição diz claramente que a agricultura é a base do desenvolvimento. Era, possivelmente nos tempos dos libertadores; esse dogma não serve e não precisa de um doutoramento em economia, simplesmente olha-se para a estrutura do nosso PIB e fica claro como água da Praia do WIMBI. Sim, não se come carvão e nem se bebe gás liquefeito, mas talvez seja altura de se retirar esse slogan, agricultura é incipiente. A comercial não avança e a de subsistência, como o nome diz, é mesmo de subsistência.

 

Nada contra a agricultura, mas talvez o próximo que reveja não só o slogan, mas também que entenda que, como base de desenvolvimento, a agricultura já foi ultrapassada. Ensinemos as melhores práticas aos nossos camponeses, tiremo-los de camponeses e os façamos de pequenos e médios agricultores, mas agricultura ser a base de desenvolvimento neste Moçambique do século XXI é heresia, é falácia; na verdade, é conversa para boi dormir. Enquanto o mundo está a avançar para a Quarta Revolução Industrial, mais do que agricultura já é altura de começarmos a implementar e não falar, da industrialização!

 

5 - Educação

 

Não há investimento que não tenha retorno na educação. O líder que não quer ver isso definitivamente quer um povo analfabeto. Temos um déficit de mais de 30,000 salas de aula neste país, o que quer dizer que crianças estão a estudar em condições precárias e, na pior das hipóteses, até debaixo das árvores.

 

Pode parecer um insólito, mas a província de Maputo é que lidera esta posição de maior número de crianças sem salas de aulas. Cada governo que entra não só troca o Ministro, mas também o nome do ministério, e isto não é sintomático apenas naquele ministério, penso que os ministérios da Defesa Nacional e do Interior devem ser os únicos que ainda mantêm os seus nomes.

 

A educação é a base de desenvolvimento, mas ao fim de 50 anos temos um pouco menos de 1000 doutores e as universidades vão nascendo tipo cogumelos. No fim, temos gente que faz Direito ou Economia para ir trabalhar para o Estado e garantir a reforma. Escolas técnicas não temos e, como consequência, ninguém sabe sujar as mãos desde o primeiro dia que entra no mercado de trabalho.

 

Eu estudei com “A Lila pula, o Tito ata o pato” e se há alguma coisa que deveria ser adicionada naqueles livros é mesmo adição. O que temos visto é matar uma literatura inteira a ser aplicada na primária ou secundária, colocar o Estado do Zimbabwe a se delimitar a norte com o Mar Vermelho e o Golfo de Aden é o ponto mais alto da heresia.

 

6 - Forças de Defesa e Segurança

 

Há uma necessidade premente de uma reorientação geral nas nossas FDS, principalmente a polícia. Pode parecer uma anedota, mas há vezes em que não se sabe se a única coisa que separa agente do malfeitor não é apenas a farda, pois armas os bandidos também têm, e até mais sofisticadas.

 

Quando o ponto 1 acima acontece, primeiro o “modus operandi” é que se trata de  gente que “trata de arma por tu”, como se diz em linguagem popular, logo depois aparece a polícia para pedir gravações de CCTV privadas!

 

Afinal, os 148 milhões de dólares que o Estado investiu na Rede Nacional de Segurança foram para onde? Quando o meu melhor amigo foi raptado há quatro anos, sou chamado ao SERNIC para prestar declarações e estão a perguntar-me pela estrutura accionista da empresa em que eu era o Director Geral. Mesmo?!! O fim foi aquele que se viu e o meu amigo teve de abandonar o país. É que por ele ser de origem asiática, os donos deste país, sim, esses mesmos que já sequestraram o Estado, acharam que ele era rico, não sendo, mesmo assim foi extorquido.

 

O Ministério do Interior não precisa de um ministro polícia e isto não é falácia. O que o ministério do Interior precisa é de um gestor, coadjuvado por um Comandante-Geral implacável. É que os generais já descobriram que qualquer um deles pode ser ministro naquela casa e daí, mais do que estancar o crime, se estão a apunhalar para um dia chegar ao posto cimeiro!

 

7 - SISE

 

Herdou-se uma máquina operacional extraordinária do SNASP, formada pela STASI, e, ao longo do tempo, aquilo que se queria como Serviços de Informação e Segurança de Estado parece mais uma extensão do departamento de segurança do meu Partido Frelimo.

 

É mais fácil ter gente destacada para controlar movimentos de elementos da oposição ou do Partido Frelimo que tenham alguma relação de amizade ou familiaridade com elementos da oposição, do que na verdade se fazer o serviço que se quer. Estes não são inimigos do Estado, são adversários políticos do Partido Frelimo!

 

O comum é estares num bar e alguém gritar que é do SISE. Ser do SISE, e às vezes nem são, pode-te conseguir uma boa donzela neste Moçambique!

 

Sendo um órgão central, o SISE tem delegações provinciais e quem tem delegação provincial definitivamente tem um delegado distrital! Onde estava o SISE em Palma, Mocímboa da Praia, Muidumbe, Quissanga e outros distritos onde estes terroristas foram fazendo e desfazendo como se não tivéssemos inteligência?!

 

Não é para uma resposta, mas se SISE também está infiltrado, então estamos entregues, pois para mim este é o último flanco de defesa da nossa soberania.

 

Parem de ir aos comícios políticos, um dos pontos onde está o nosso inimigo chama-se Cabo Delgado.

 

8 - Corrupção

 

É muito comum falarmos da corrupção e o seu combate, mas é mesmo discurso. É que enquanto a corrupção existe, o seu combate é inexistente. O Juiz é corrupto, o Procurador é corrupto, o Advogado é corrupto, o Polícia é corrupto, o Político é corrupto, até o empregado de mesa de um restaurante é corrupto.

 

A inoperância é visível a olho nu. Diz-se que justiça tardia é justiça não servida e aqui em Moçambique qualquer bandido apanhado em flagrante quer ser levado à esquadra. Uma semana depois está a passear nas mesmas ruas.

 

Um bandido ludibriou a minha empresa em Caia em 2015. O caso ainda não foi a julgamento e ele é uma espécie de estrela nas redes sociais! Não era melhor ir ter com aquele rapaz do Estrela Vermelha que, por 35,000 meticais, pode partir-te as duas pernas?!

 

A justiça pelas próprias mãos não é porque o povo ficou selvagem, é que quem de direito não faz o seu trabalho.

 

9 - Vice-Ministros

 

Figuras de que definitivamente não precisamos. Autênticos fardos para o nosso minguado Orçamento Geral do Estado e não têm função. Fica-se com um ministro que sabe porque se está ali e um Secretário Permanente para as questões administrativas. Ponto final.

 

10 - Governo

 

Tem de se trazer um governo funcional. Que pague bem aos ministros para poderem comprar os seus carros e arrendar as suas casas e que tenham dinheiro para a sua vida social. Chega de engordar um sistema já falido com benesses infinitas para os nossos dirigentes. Para começar, até a aprovação do orçamento de funcionamento, cada ministro deveria ir do seu próprio carro e estar a viver na própria casa.

 

É que mais do que querer ser querido, é preciso saber como será, quando for querido, pois este país está cheio de gente de boa vontade, mas o que está a precisar é de gente que, para além de carregar o estandarte, possa sentir-se comprometida com a Nação Moçambicana e as suas nuances, antes de qualquer outra coisa. Ponto Final.

 

Pág. 36 de 320