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quarta-feira, 06 outubro 2021 07:45

As fórmulas de vida dos filhos do Índico

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Viver em Moçambique é maning nice. Você tem tudo que quiser, a qualquer hora e momento, desde que tenha condições para tal. Viver em Moçambique exige coragem e coração de ferro. As histórias de vida de cada moçambicano, se forem transmitidas como uma série televisiva diária, vencem qualquer concurso cinematográfico.

 

A juventude moçambicana vive nos extremos entre o bem e o mal. Entre o certo e o errado. Entre o real e o aparente. Alguns labutam por 12 horas para ter apenas 50 Meticais diários. As prostitutas de cá enfrentam um mandingo com a pila de cavalo em troca de um pão com badjia. As famílias mais necessitadas e residentes em comunidades recônditas oferecem as suas filhas donzelas e em idade escolar a idosos sedentos de sangue jovem para diferentes destinos. Geralmente, o que a família quer é apenas se livrar de um “fardo” ou em busca de um cabo de enxada para cultivar a terra. Enfim, a pobreza propicia fórmulas erradas na Pérola do Índico.

 

Para os mais informados e formados, na Pérola do Índico, existem diferentes fórmulas para vencer o problema. Para os políticos, a estratégia é prometer e não cumprir. Dirigir, no seu tempo, e roubar até o direito de o povo descansar em paz, quando morre. Falar que luta contra a corrupção, mas, na verdade, é o “CR7 da corrupção”. Nas telas televisivas, eles dizem que estão interessados na paz efectiva, porém, por detrás das cortinas, encomendam perseguições políticas e sociais aos críticos ou opositores – A questão é fazer de conta que estão comprometidos no desenvolvimento integral do País, enquanto, na verdade, é apenas uma fórmula – fazer de conta!

 

Durante muito tempo, o povo quis saber sobre os contornos do maior calote em Moçambique. Chegando ao julgamento, algumas figuras mais esperadas procuram outras fórmulas para zarpar da acusação, levando o assunto para a lama – Outros activam o neurônio da negação e, até, dizem que não se lembram das suas contas bancárias chorudas de notas de rand e dólar. A trama está montada. Os cálculos estão feitos – Levar o assunto para uma mata perigosa, onde só existem leões e leopardos – É uma fórmula que pode vir a resultar – A fim de fazer com que o caso perca o rumo e a culpa morra solteira.

 

É assim que se faz na Pérola do Índico, onde se saqueia mais de 170 milhões de meticais ao Estado, vai-se ao julgamento, é-se condenado, recorre-se da sentença e, no dia seguinte, torna-se palestrante sobre como ser um empresário de sucesso – Assim a vida anda na Pérola do Índico.

 

As fórmulas, aqui, são várias. Das boas às más. Alguns conseguem os seus primeiros milhões e andam pela cidade distribuindo notas pelas ruas ao estilo de Muammar Khadafi. Dias depois, percebesse que a ideia era ganhar mais seguidores nas redes sociais, vendendo uma falsa imagem de boa vida e de homem de negócios com sucesso. Tudo é uma fórmula de exaltação e reconhecimento social baseado na falsa aparência e de venda de identidades robóticas a custo da fama.

 

Nas redes sociais, em particular o Facebook, os sabichões são vários. Existem aqueles que tudo sabem e sempre têm a razão. Experimenta desmentir-lhe algo, será bloqueado ou banalizado. A ideia é fazer de conta que sabe tudo mesmo. O engraçado é que parte deles perde oportunidades de emprego porque só tem um nome sonante devido a certos trabalhos realizados em tempos secos, mesmo nesta época que em cada área existem mais quadros formados e especializados, tudo fica claro.

 

Na Pérola do Índico, você encontra pesquisadores que se apoderam de pesquisas dos outros sem remorso. Que coragem é esta de levar um trabalho feito com sacrifício e publicar taxativamente como seu e, ainda, ir à Televisão vender a ideia naturalmente – Quanta sacanagem, nem!?

 

Ontem, todos criticavam os que mamaram a massa das dívidas ocultas. Entretanto, o engraçado é que alguns estão lá do lado daqueles que combateram e lideraram marchas contra eles, exigindo “Direito à esperança”. E o que a esperança fez!? – Colocou-os nas folhas de pagamento dos destratados de ontem – Aqui a vida é assim, não há vergonha. Outros dirão que é tudo em nome da profissão! Será?

 

Na Pérola do Índico, a corrida para a riqueza fácil trouxe fórmulas hediondas de enriquecimento. Hoje, policiais e oficiais do SERNIC lideram gangues do crime organizado que sequestram, matam e até violam mulheres. Militares desertam para as fileiras do terrorismo que está a destruir a esperança do povo e criou traumas insuportáveis para alguns dos sobreviventes (...).

 

No julgamento televisionado, a ideia que já se vendeu é que todos que estão a ser julgados são culpados, o que pode ser e não ser verdade. O julgamento do momento não é a solução das nossas desgraças (...), pelo menos, enquanto forem os “consultores/ intermediários” que estão a ser julgados – O engraçado é que só se fala dos 50 milhões de dólares do success fee e o verdadeiro dinheiro mamado parece já ter sido recuperado e os envolvidos, condenados, o que não é verdade.

 

Seria bom que todos os que diabolizaram está Pátria estivessem, hoje, vestidos da laranja mecânica, naquele pátio, onde se encontram presos os maiores bandidos do País. Seria interessante que todos aqueles que constam na “Tabela de Nhangumele”, conforme nos elucidou Juma Aiuba, estivessem naquela tenda, contando-nos quantos iates e resorts construíram com a mola das dívidas ocultas.

 

Mas o cálculo já foi feito, com fórmulas devidamente criadas. Leva estes tipos para o julgamento, condena-os e, depois, cada um irá se virar no Tribunal Superior de Recursos. Outros integrantes da quadrilha continuam a fazer das suas e a criar novas dívidas naturalmente – ninguém vai piar.

 

Na Pérola do Índico, experimente seguir viagem ao longo da EN1 ou em qualquer estrada dita nacional. Meu caro, se o bolso não está preparado, você será exemplo de combate à corrupção para alguém. Contudo, se alimentar a fila no troço como Nampula–Mocuba, pode até passar com drogas pesadas na bagageira e ninguém o irá incomodar.

 

Ademais, ainda prevalece a famosa sopa, que circula em tudo que é sector de actividade do Estado e dos privados. Nos hospitais públicos e privados, se você não molha a mão do Médico ou da Enfermeira, o anjo da morte virá levá-lo. É preciso ter uma mente de psicopata para se viver nesta terra, meu caro, onde os narcotraficantes, actualmente, já enterram drogas nos quintais das casas onde arrendam e vendem a droga a preço de amendoim, de tanto armazenarem. 

 

As nossas fórmulas de vida são várias, aqui, na Pérola do Índico, onde um Inspector da Acção Social consegue viajar 500km para ir doar 800 Meticais a uma família e a sua ajuda de custo seja de 30 mil Meticais. Onde o Secretário do Bairro, em conluio com funcionários da Acção Social, apoderam-se dos subsídios da Covid-19. Onde as raparigas e mulheres, nas zonas de conflitos, recebem comidas em troca de magostoso (relações sexuais). Onde, no período eleitoral, a CNE e o STAE levam meses, supostamente, a contar votos, enquanto, na verdade, o processo deveria ser de uma semana. Onde a EDM e a PRM entram em acção, em cada pleito eleitoral, para mostrar as suas habilidades – É assim na Pérola do Índico – Pergunte aos Madjermanes, os trabalhadores da secreta, alguns da CFM e as famílias das pessoas que morreram no campo 25 de Setembro, em Nampula, durante um showmício de campanha eleitoral, o que é feito dele(as) – Assim a vida anda na Pérola do Índico!

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