Volvidas quatro semanas de um julgamento relativo a um processo do caso das “dívidas ocultas”, que decorre na tenda montada na cadeia de máxima segurança, vulgo “B.O”, o Ministério Publico (MP) é amiúde acusado, por réus e defesa, de estar a reboque da política. O MP, em sua defesa, diz que quem está a reboque da política são os que o acusam.
A Ordem de Advogados de Moçambique (OAM) e os advogados de defesa já vieram também a terreiro a questionar os “métodos desumanos” do Tribunal, sobretudo o massacre de mais de 8 horas de interrogatório a que os réus são sujeitos.
Por sua vez, o Tribunal acusa a OAM e a defesa de alguma desonestidade, pois não tomam em conta que quem mais é sacrificado é o próprio Tribunal e o MP que não arredam o pé do interior da tenda ao contrário dos acusadores que se ausentam sistematicamente da tenda.
Fora as acusações mútuas, o MP, o Tribunal, a OAM e os advogados de defesa têm sido também escrutinados pelo público. Com este cenário tudo leva a crer que existe mais um réu (o vigésimo), e oculto, no banco dos réus: o sistema judiciário. E é caso para dizer de que um outro julgamento, em paralelo e autónomo, decorre na tenda da “B.O”.
Neste andar, certamente que no final do julgamento, a par da sentença do processo em pauta, a do réu oculto também será conhecida, ressaltando de que caberá ainda a quem acusa (e no caso o público) a tarefa de igualmente sentenciar a sorte do réu oculto.
Se o leitor for um dos juízes a ditar a sorte do réu oculto, será um evidente sinal (preocupante) de alguma intrínseca ditadura oculta (acusa e julga) ou, no mínimo, que o leitor também esteja a agir a reboque da política. E já dizia, para fechar, um culto pensador: “Se a política não é tudo, ela está em tudo!”