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quinta-feira, 11 fevereiro 2021 07:01

O dilema das crianças em Moçambique O roubo do direito de ser criança e o direito de brincar e ser feliz

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Preparar bem as crianças de agora implica, de maneira lógica, em ter uma sociedade melhor no futuro. É pensar o porquê actualmente, diante de grandes índices de violência, tantos menores de idade estão nessas estatísticas. É pensar que essa criança, esperança do futuro, vê-se numa encruzilhada vital tão cedo: trabalha forçado, atravessa frequentemente a rua ou morre.

 

Segundo dados da OTI, Moçambique tem mais de 780 mil crianças trabalhando com idade entre 08 e 17 anos. Segundo esses dados, 56,63% nada recebem por seu trabalho. Eis o roubo do direito de ser criança.

 

Retiram-lhe, de maneira violenta, esse direito tão essencial comprometendo os factores biológicos, psicológicos, intelectuais e morais, numa fase de extrema importância da vida. Ao invés de carrinhos, bonecas, brinquedos. Pais, que talvez quisessem educar, precisam ensinar o trabalho. Note bem a diferença entre educar e ensinar. Falta dinheiro para comprar comida, roupa, bonecas, carrinhos. Alguns, talvez munidos de sua educação mais privilegiada, hão de pensar que não configura motivo para a delinquência o facto de trabalhar desde cedo, afinal o trabalho é dignificante. O trabalho é digno quando é exercido de forma digna. Não existe dignidade sem educação de qualidade e, não há dignidade em crianças de 10 anos trabalhando em meios insalubres, perigosos, em jornadas diárias superiores a 12 horas. Não há filhos de médicos, advogados, empresários trabalhando assim. Portanto, se fosse digno, todos desde a infância assim trabalhariam.

 

O que se vive nos mercados das cidades moçambicanas, em destaque para o Mercado Grossista do Waresta e Mercado Central, ambos na Cidade de Nampula, é de tirar lagrimas. As crianças são submetidas ao extremo da sua capacidade, elas madrugam nos mercados para vender sacos plásticos e carregar produtos dos clientes em troca de 5,00MT. Ai Meu Deus! Quando vai parar isso!

 

Crianças devem ser crianças. Esse tipo de trabalho não pode nem deve ser alternativa aos menores de idade porque marginaliza, tira deles um direito essencial de maneira tão violenta quanto àqueles que com uma faca roubam dez meticais. Por isso, lutemos todos por uma sociedade onde a criança e os seus direitos são amplamente respeitas, uma sociedade justa, de compaixão, amor ao próximo, respeito mutuo e igualdade social. Cuidem-nos como crianças do presente e adultos do futuro.

 

Legalmente as crianças hoje têm garantido o direito a um nome e nacionalidade, à saúde e à educação. Dentre os direitos da criança estabelecidos na nas leis e normas, destaco o brincar como uma necessidade da criança, um jeito gostoso de aprender e se divertir.

 

Pesquisas têm revelado que as brincadeiras ao ar livre, em parques e praças públicas deixam as crianças mais felizes. No entanto, as crianças estão cada vez mais distantes do sol, da grama, das pedras, da areia, da água, da natureza...

 

Para os pais, já não é mais possível deixá-las brincando na rua com os vizinhos. O trânsito e a tecnologia tiraram esta oportunidade. Em alguns quintais não se preveu a necessidade e o direito dos pequenos de brincar. Diante desta necessidade, eles brincam só confinados numa sala da casa, com tecnologias e nada de brinquedos essenciais e amigos de verdade, não virtuais.

 

Nas escolas infantis encontramos pátios cimentados, brinquedos inadequados à faixa etária das crianças e, logo, embargados pelos órgãos competentes. Pensem numa creche em que as crianças “olham” para o escorregador, o balanço, o gira-gira e não podem brincar. Elas existem. Pensem no período escolar de uma criança de cinco, seis, sete anos de idade, onde não há nem espaço (área verde), tempo para brincar. Eles existem.

 

Nos espaços públicos encontramos praças abandonadas, sujas, brinquedos quebrados. Imaginem uma praça, um domingo de sol, crianças ávidas para correr, pular, dançar, movimentar-se ou simplesmente olhar as plantinhas, passarinhos, sentir o vento... As crianças “olham” para os destroços do que um dia foi um brinquedo, desistem de brincar ou então arriscam-se. Elas existem. Falta segurança, água potável, banheiros públicos, dignidade para exercer o direito de brincar.

 

As crianças são o que existe de mais precioso e precisam da atenção dos mais velhos para viver dignamente esta fase da vida que chamam de infância. Como estão olhando para nós crianças nos demais dias do ano? Infelizmente, os nossos pais, professores, governantes etc. - não estão conseguindo prover à nós criança o direito de brincar e ser feliz.

 

Zinaida João Faque, aluna da 10a Classe na Escola Secundaria de Napipine em Nampula, activista social, membro do Parlamento Infantil da cidade de Nampula, pesquisadora social nas áreas dos direitos e deveres das crianças. Nascida aos 11 de Dezembro de 2005, na cidade de Nampula.

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