Chama-se Awa, a menina que nasceu na segunda-feira, 19.10.20, nas cristalinas e ondulantes águas que banham a 3.ª maior baía do mundo, Pemba. Awa que na perspectiva teológica (islâmica) significa Eva, a companheira de Adão (Adán) – os primeiros seres humanos da humanidade. Nasceu no centro do furacão – terrorismo.
Awa é um milagre da mãe Muaziza Nfalume que procurava a todo custo fugir as atrocidades dos terroristas, a fome, a sede e as doenças em Matemo. A Awa não conseguiu esperar para ver a realidade que atormenta a sua progenitora e seus próximos. A princesa Awa nasceu num momento difícil…
Ela veio como um pássaro, sedenta de liberdade e ar livre para voar. Ela nasceu num manto de perigos, mas quiseram as forças vitais que a princesa Awa nascesse saudável e num momento histórico. Quis o destino que a mãe não caísse nas incursões violentas e desumanas dos terroristas. Quis o destino que ela vencesse os perigos do mar e da guerra e chegasse a Pemba como mais uma deslocada.
A princesa Awa precisa de um aconchego e segurança, tal como outras crianças, mulheres, adultos e idosos que vivem as sinuosidades de uma guerra que no princípio foi vista e tratada como mais um acto de banditismo; e hoje transformou-se numa calamidade nacional e internacional.
A princesa Awa e outras crianças precisam de acolhimento e um lugar para crescerem seguras. Um dia ela saberá como veio ao mundo e os riscos que a mãe Muaziza teve que suportar e atravessar naquele barco a vela cheio de pessoas doentes, famintas e banhadas de medo!
A princesa Awa é uma deslocada de guerra que nasceu distante dos seus ancestrais e dos hábitos e costumes dos seus progenitores. A Awa vai precisar de um lugar melhor para crescer, desenvolver-se e viver sem medo do terror.
A situação de Cabo Delgado está a cada dia a deteriora-se. Há três anos que a banalização da vida humana se instalou nos distritos de Mocímboa da Praia, Macomia, Quissanga, Muidumbe, Nangade, Ibo, Meluco, Palma e algumas aldeias de Mueda. Em Cabo Delgado, duas mil vidas perderam-se, mais de 370 mil pessoas encontram-se deslocadas e já afectou mais de 700 mil, entre elas crianças como a princesa Awa que correm o risco de murcharem se algo de concreto não for feito por aqueles que detêm o poder decisório – garantir a protecção e o valor da vida humana.
Os deslocados chegam precisando de tudo. Segurança, aconchego, comida, saúde e oportunidade de recomeçar, por isso precisa-se fazer e dizer...
Ode a todas as crianças.