Minhas lágrimas secaram de tanto chorar. Minhas pernas estão nas mãos de tanto andar e correr. Meu corpo de menino transformou-se num quadro de pinturas, devido às feridas e cicatrizes que contém. A nossa memória está entupida de imagens negras de sangue e morte.
Cabo Delgado!
Nossas casas, donde fugimos, tornaram-se ruínas que acolhem fantasmas dos nossos “deuses”. Herança incendiada. Riqueza saqueada. A guerra trouxe a fome, doenças, desgraça e morte. A guerra arrancou-nos a esperança, a felicidade, o amor e a vontade de sonhar a beleza do amanhã!
Quem nos acude?
Quando a escuridão aparece sobre os olhos de tanta fome e dor de não poder receber o amor e carinho a que nos havíamos habituado. Vivemos diante de incertezas e medo de voltar a regar a terra com nossas lágrimas inocentes. A guerra matou a nossa familiaridade e hoje vivemos com ela instalada na memória.
Quem nos devolve a paz?
A paz é um bem supremo que todos nós merecemos ter. A paz é pressuposto necessário para que nossa vida ganhe ânimo. A paz é um delicioso que ergue o futuro de qualquer criança. Não queremos ser crianças-soldados ou futuros soldados do mal, como estes que hoje trouxeram luto, dor e destruição nas nossas aldeias, localidades e vilas.
Esta guerra tirou-nos tudo que merecíamos e hoje vivemos em tendas e casotas, onde para ter uma refeição digna é quase impossível. Onde a comida é partilhada mesmo “quando a fome é tanta que as lombrigas dançam tango”.
Quem nos salva?
Desta guerra maldita que nos tirou tudo e deitou fora nosso sorriso e deixou secar a nossa inocência, porque dia pôs dia, nossas irmãs são sequestradas para alimentar a insanidade sexual dos terroristas.
Cabo Delgado! Até quando teremos de continuar a chorar?
Omardine Omar