A reboque do dia 14 de Fevereiro , o dia dos namorados, o mês de Fevereiro é o dito de amor. Em complemento da onda amorística , está o enquadramento do título deste texto (sou louco por ti América, na língua portuguesa) que foi emprestado com a suposta permissão dos compositores/autores brasileiros da música com o mesmo título e feita em homenagem à Che Guevara. Desta não é para ele a homenagem, mas sim para a América (Estados Unidas da América, EUA), que um amigo, seu eterno apaixonado, ofereceu-a um buquê de rosas. Encontrei o tal amigo, no passado dia 14 de Fevereiro - todo de vermelho, incluindo as rosas - à porta da embaixada americana aos gritos: “Soy Loco por ti América!”
Esta cena fez-me algum ciúme. A América também é minha e aposto que igualmente seja tua. Eu tive e tenho um caso - na verdade casos - com a imortal e controversa América. Uma nação indispensável, segundo as palavras de Madeleine Albright, ex- secretária de Estado dos EUA nos tempos do ex-presidente Bill Clinton. No texto “O dia em que me encontrei com Ronad Reagan” é evidente o meu encanto por esta mulher poderosa e talvez por isso: amada e odiada.
Para ilustrar a grandeza de mulher que é a América, nada melhor que recorrer ao conceituado jornalista português, Miguel Sousa Tavares (MST), que, por alturas do sismo que abalara o Haiti, em artigo no Jornal português Expresso de 23 de Janeiro de 2010, escreve:
” …nos grandes momentos da história da humanidade, de há quase cem anos para cá, os Estados Unidos são, de facto, a nação indispensável. Algumas vezes para o mal, outras, como no Haiti, para o bem (…). Em 39-45, como antes, em 14-18, e depois, em 1991, na primeira Guerra do Golfo, a Europa e o Ocidente ficaram a dever a vida ao esforço de guerra da grande nação americana.” No texto e mais adiante MST prossegue: “ (Os EUA) são capazes de produzir um George W. Bush, que impõe ao país uma guerra (segunda Guerra do Iraque) sem sentido, apenas destinada a servir a sua vaidade de se proclamar "um Presidente de guerra", mas também “… são a nação que é capaz de, num instante, mobilizar os meios e a determinação para acorrer a uma tragédia com a dimensão do Haiti e fazê-lo de forma eficaz, profissional e humana”.
Por cá – a Pérola do índico – a generosidade do amor americano, a título de exemplo, ficou patente no projecto “USA for África”, na primeira metade dos anos 80, cuja música, com o mesmo título, reunindo, na altura, o melhor que existia na nata musical americana. No pacote do projecto (do povo americano para o povo moçambicano) veio o leite em pó, o milho/farinha amarela, roupas das calamidades e as carrinhas azuis que são marcas passadas e indeléveis da presença - em terras do índico - dessa namoradinha do mundo que é a América. Outras passagens e mais recentes foram as registadas no quadro do processo de implementação do Acordo Geral de PAZ (1992) sob a égide da ONUMOZ, Cheias do ano 2000 e mais recentemente (2019) aquando dos ciclones IDAI e Keneth e ainda a propósito das “dívidas ocultas”.
Nesta e longa relação, a América ainda foi e é das nações que mais apoia os sectores privado e da saúde, neste destacando os esforços do combate ao HIV-SIDA. E pelos tempos que correm, a América é uma das esperanças para o futuro do país por conta de avultados investimentos das suas empresas na área de hidrocarbonetos. Registar que nos últimos tempos, a América está cada vez mais próxima e mais preocupada com a sua beleza. Ademais a concorrência está à vista, em particular a presença de uma velha e milenar asiática, disfarçada de uma gostosa “quatorzinha” - adoentada por estes dias - que todo o mundo a quer “paquerar”.
Contudo, e desde a primeira troca de olhares, nem sempre a relação foi um mar de rosas. A América, em algum momento da relação, relegou a Pérola do Índico para a categoria de indesejável e a Pérola, bem machão, já considerou a América uma “persona non grata” (pessoa não agradável). Os motivos? não interessa lembrar de momento. Quiçá num outro texto e com um título adequado. Entretanto, quem quiser saber pode ligar para a América, mas antes aconselho ao interessado a “tchekar” o respectivo cadastro pessoal.
E por falar em cadastro, lembro-me das marchas de 2003 - pelo mundo fora e por cá - contra a invasão americana ao Iraque. Foi interessante reparar que os marchantes aliviavam a sede com uma coca-cola e no mínimo cada um trajava pelo menos um dos seguintes itens: Jeans, óculos de sol Ray-Ban, fones da Bose, sapatilhas e boné da Nike. Os mais abastados até que se fizeram à concentração em meios circulantes de marca americana.
E é também por estas e outras razões que a América – amada e odiada - é a tal nação indispensável que no passado dia 14 de Fevereiro, o dia dos namorados, o meu amigo presenteou-a com um buquê de rosas e defronte à embaixada americana, a plenos pulmões, sucessivamente, gritava: “Soy Loco por ti América!”