O título da minha crónica assumidamente imita aquele slogan da Globo que nos remete aos remakes das nossas novelas preferidas e a uma gama variada de clichês a que a vida está sujeita durante o nosso lifetime. Moçambique tem uma história complexa no que diz respeito aos #valeapenaverdenovo.
Três deles não valem mesmo a pena, mas não largam o nosso país. A corrupção, as alterações climáticas que geram calamidades todos os anos e a falta de escrúpulos que se vive no mundo da comunicação e eventos. Hoje venho falar do terceiro elemento.
Venho falar de Maputo. Terra das Oportunidades. É não é? Aqui pode-se fazer tudo! Não é quase tudo, mas sim tudo. Por isso até usamos a palavra “Maputices”que se lerem bem tem só um significado.
Em 2012 iniciei, com mais 2 pessoas um projeto que se chama “Jardins em Festa”. Ficou conhecido em toda a cidade, uma vez que foi inovador naquela altura. Trouxemos festa aos jardins acabados de renovar e que ninguém, até à altura, tinha olhado para eles sem ser para fins comerciais. Instalar restaurantes e fazer mola.
Esse projeto oferecia e oferece concertos, espaços para bandas que hoje em dia são super conhecidas nacionalmente e uma nova forma de txilar na cidade. A perspetiva ambiental de preservar e respeitar os espaços verdes foi a palavra de ordem para a implementação do projeto. A Feima tinha acabado de ser renovada com a parceria da AEICID mas não era tão cosy como os jardins.
Afinal a cidade é nossa e anima poder dançar nos nossos jardins e ainda perceber que relva se bem estimada é renovada. Não parece nada de novo dito agora, mas há 7 anos era e contámos com a parceria da AMOR que começava a dar os seus primeiros passos na cidade de Maputo e mais uma dezena de parceiros, já que ninguém acreditava que era possível e não houve dinheiro, mas sim 4 jardins cheios durante 4 semanas e o trabalho de apenas 3 pessoas e a boa vontade do Paulo do Gil e a sua equipa.
Devido à conjuntura do país a continuação deste projeto cultural e ambiental parou.
Há 2 anos, depois de uma ausência física por motivos profissionais da cidade que Amo e da descrença que continuo a ter e que muitos moçambicanos também têm nas instituições públicas e privadas, decidi voltar a implementar, sozinha, o regresso dos Jardins em Festa em Maputo.
Até 2018 não tinha acontecido nada de semelhante.
Dei por mim a trabalhar dia e noite, durante 6 meses e com muitos nãos à mistura. O normal para um produtor. Tive o sim da Taag, que me fez um desconto na viagem, o sim da Super Bock que me apoiou com um valor simbólico para a realização dos Jardins em Festa no Jardim Dona Berta e no Jardim dos Cronistas, em março de 2018, e o apoio da agência Boost em Angola que me produziu todos os materiais a custo zero. E o teu, Marcelo, da Logos, que nunca me falhas quando me ausento, já são alguns anos nisto. Bem como o do Conselho Municipal que me apoia em toda uma logística difícil que é gerir um festival em várias artérias da cidade .
Não tive nenhum espanto quando este fim de semana uma amiga minha me mandou uns vídeos super nices de outros amigos meus que estavam num palco da Feima a tocar. Que Orgulho, senti eu. Também não me espantei quando vi que o evento é em toda a essência igual ao meu. Só não é ao domingo, é ao sábado e ali no horário também muda um só bocadinho... para não ser tão igual.
Eu própria não tive uma ideia original quando pensei nos JeF e o propus às pessoas com quem iniciei o projeto por saber que já o conheciam.
Inspirei-me no Out Jazz de Lisboa, um projeto levado a cabo a muito custo pelo José Filipe Rebelo Pinto que já viu a ideia dele a ser reproduzida como eu estou a ver agora. Obrigada Zé que até o plano de marketing me disponibilizaste para eu implementar para meu projeto! Mas tal como os acordos de cavalheiros existem, fui ter contigo em 2011 e em 2017 a manifestar a minha ideia.
Esta situação fez-me refletir muito e consultar os meus conselheiros antes de escrever. Afinal para que é que servem os meus 16 anos de trabalho em Moçambique e Angola a comunicar marcas, implementar projetos de comunicação e PR como o Verão Amarelo ou o cliente 1 Milhão da mcel, ver a minha cidade a vibrar com a Miss Coconuts e até o Mr. Coconuts, participar no rebranding de um banco como o Millennium bim e da mcel, andar do Rovuma ao Maputo a recolher histórias de superação, outras tão pouco, escrever programas para TV, promover shows de música para não analisar o que se passa com a subida vertiginosa da falta de escrúpulos dos players das grandes marcas e seus parceiros?
Como é que uma agência de comunicação produz e organiza o seu próprio evento com a anuência da marca que “patrocina” o evento?
O fato de se instalar uma fábrica em Moçambique e mandar para lá alguém que não entende da idiossincrasia do País gerir o marketing, mas por instinto ou “recomendação” só confia “nos seus”? Deixo aqui o repto para começarmos a refletir na forma como no mercado das marcas e das pessoas nos comportamos com o próximo e com o promotor/gestor cultural local.
E desafio todos os responsáveis de marketing e comunicação que dizem que estão à espera das respostas dos PCA’s (que estão nem aí para alguns projetos micro) que inviabilizam futuro e ideias brilhantes só porque não andaste com eles no mesmo colégio. Isto acontece em bancos, cervejeiras, seguradoras, operadoras móveis onde há sempre um não sorridente mesmo sabendo que o projeto é bom, porque o preferem dar a um amigo.
Temos de começar a falar disto para a nossa vida profissional não ser pautada por remakes e sim fortalecermos os nossos projetos pelo simples fato de sermos parceiros de negócio e não pedintes. Uma relação profissional pode-se tornar pessoal, mas apoiar algo que sabemos que já esteve em cima da nossa mesa vindo de outra pessoa é unprofessional e um conflito de interesse.
Magda Burity
Jornalista
Cultural Manager pelo Institut für Kulturkonzepte Hamburg
*este texto foi escrito ao abrigo do acordo ortográfico em vigor em Portugal