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segunda-feira, 24 junho 2019 07:25

Quarto de Hora no Quarto Quatro - A propósito dos “bis” da Anadarko

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Recordei e conto o episódio abaixo - verídico e passado há duas décadas - a propósito dos festejos pelo anúncio de 25 biliões de dólares americanos e a renda de dois “bis” anuais, a partir de 2025, resultantes do investimento da Anadarko na exploração do gás da Bacia do Rovuma, província de Cabo Delgado. 

 

A festa de aniversário prometia. Dos que se deslocaram – comitivas de Maputo, Xai-Xai e Chocwe - fui o último – vindo da capital - a chegar à vila da Macia, província de Gaza. A partida não foi difícil constatar que as marcações ao dito sexo fraco já haviam sido feitas e para uns com antecedência postal. Estava frio e a medida que a madrugada caía exigia maior celeridade às intenções (implícitas) de cada um. Entre os convivas, o Adão e o Neco, procedentes de Maputo, acabaram os protagonistas da festa.

 

O Adão, da “terra do carvão”, saiu da capital com a ferramenta agitada tal era o desejo de estar com a dama com quem trocava cartas de amor e sonhos de uma Lua-de-mel nas margens do rio Zambeze. A sua missão: Chegar, triunfar e regressar com a dama. O Neco, da “terra da boa gente” e auto-intitulado “o charmoso”, trocou o conteúdo local por uma repentina presença americana em trabalho social por aquelas bandas. Ele jurou que cumpriria a sua (nova) missão: Mergulhar pelo Mississippi abaixo. 

 

Por momentos um corte de energia junta as mulheres de um lado e os homens doutro. O Adão estava agastado e impaciente com a sua dama das águas do Limpopo. O seu requerimento ainda não tinha sido deferido. Ela alegava que eles precisavam de tempo, pois era a primeira vez que se viam, embora a correspondência postal fosse longínqua. O Neco, na mesma situação em relação ao deferimento, disse que a “state-girl” preferia uma chuva mais miudinha, agreste e ordinária. Um tchim-tchim encerra a reunião improvisada de feedback e o regresso da corrente eléctrica no exacto momento em que ancorava a 6ª garrafa de whisky entre protestos de uma excursão estudantil sem precedentes. 

 

Eram seis horas quando a noite começou a despedir e a festa a despedaçar. A americana recolheu sem ter sido colhida. As outras, trocadas pelo whisky, rumaram ao “room”. Um amigo, Camito, foi sacudido ao tentar – na escuridão do quarto - uma incursão sem pré-aviso. O Acácio, a namorada aniversariante e uma amiga blindada, namorada de outro amigo que não se fez presente, tomaram os respectivos quartos. O Neco, reclamando da provocação biológica e da fala em vão, bateu em retirada. Do Adão, ninguém sabia. O resto prosseguia com mais uma garrafa e “bis” de doses de frango dados pelo gerente da Pensão em reconhecimento exaltado da volumosa capacidade ébria dos “vientes”.

 

O sol já se fazia presente e penetrava entre as grelhas do salão, ameigando os sobreviventes. Para o espanto destes, entre os raios de sol, ressurge o Adão em grande estilo, tal rei do Zambeze. Pergunto pela dama do Limpopo e ele - em pose majestática - tira do bolso do seu velho casaco azul um “Jeito” (preservativo) já sem jeito. E armado em laureado foi rodopiando o salão, exibindo o asqueroso troféu. Leve e jovial disse que desceu para ver o ambiente e saber se o resto do pessoal teve algum sucesso. 

 

De regresso ao seu quarto e enquanto subia a escada o Adão para e faz um giro, ficando em posição frontal com os sobreviventes. Em seguida acena as mãos como quem solicita silêncio para dar a palavra a “sua alteza”. Feita a vontade, finge uma vénia e com ar petulante e aprumo triunfal, declara: Fiquem com os deliciosos “bis” de frango que eu deleitar-me-ei com outro tipo de “bis”! De seguida, volteou e continuou a subir em direcção ao quarto - ausente durante um quarto de hora – e onde, supostamente, a sua dama reestruturava as condições necessárias para o “bis” anunciado publicamente e com pompa. 

  

-Nãooooo! Não! Nãããoooo...! Era o grito de desespero do Adão que de tão sonoro foi ouvido na Praia do Bilene. Num ápice os mais ágeis chegam a zona dos quartos e encontram-no completamente imóvel à entrada do quarto número quatro. Ele não compreendia e muito menos acreditava na roubalheira que acabava de presenciar: O Neco estava em pleno usufruto do que seria o seu difundido “bis”.

 

  • PS (i): Fica o alerta para que o país não se embandeire em arco como fez o Adão. Urge uma gestão e controle eficaz dos recursos do país porque de contrário têm muito Neco à solta - de dentro, fora e juntos - decididos a usufrui-los de forma subtil, clandestina e até violenta. 
  • PS (ii): De regresso a Maputo um dos amigos sugeriu que o Neco seria um bom reforço para os Mambas, Selecção Nacional de Futebol. Entrar nos últimos 15minutos e marcar um golo (ao estilo de morte súbita) não é para todos. 

Sir Motors

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