Os dias que correm no contexto das polémicas incidências dos eventos do dia da votação autárquica e do próprio processo anterior, lembram-me um episódio familiar que achei interessante partilhar com os leitores.
O episódio ocorre no decurso da avalanche do regresso de nossos compatriotas da então República Democrática Alemã (RDA). Nesse êxodo veio uma familiar que dias depois recebeu, na Matola, a minha visita e a de um primo. No final da visita ela pediu-nos que trocássemos o dinheiro que trazia. A moeda (Marcos) era da vizinha Alemanha Federal (RFA). Prontamente aceitamos.
Um ou dois dias depois, eu e o meu primo fomos ao Banco de Moçambique para fazer o câmbio. Se a memória não me falha, este Banco era o único local onde se podia fazer o câmbio de moedas estrangeiras que não fossem o dólar ou o rand. A expectativa da familiar era de que a troca rondaria por ai dois mil meticais. Para o nosso espanto, o caixa do Banco entrega-nos doze mil meticais. Uma enorme diferença.
E agora? O que fazer? Entregar apenas os expectáveis dois mil meticais? Entregar um pouco mais? Entregar a totalidade?
Em caso de entrega de apenas os dois mil expectáveis, a nossa consciência lembrava-nos da possibilidade da prima vir a descobrir e não seria assim tão difícil porque eram tantos regressados, incluindo de outros familiares e que em algum momento trocariam informação sobre o câmbio.
O mesmo raciocínio para o caso de entrega de um pouco mais do valor, aventando-se até que fosse a metade do valor recebido do Banco. Mas esta hipótese também inquietava, pois iria estimular desconfianças da prima.
A decisão foi a de entregar o valor total recebido do Banco e levar para ela evidências que comprovassem a transação. Não me lembro de algum recibo ou uma nota comprovativa do Banco. Lembro-me é de termos procurado o jornal Notícias do dia da transação e de extrair a página onde constava o câmbio do dia.
Depois de reunida a evidência o valor foi solenemente entregue. Em suma: um acto livre, justo e transparente. Tão simples quanto isso.
Decorrente deste episódio, e voltando ao assunto do dia, entendo no fundo de que o que está em causa nas eleições do passado dia 11 de Outubro de 2023, as sextas autárquicas em Moçambique, é o próprio slogan/lema, pilar ou mesmo a visão oficial das eleições em Moçambique, nomeadamente: “Por Eleições Livres, Justas e Transparentes”
Nando Menete publica às segundas-feiras