Faz parte de uma constelação indelével, que tornaráInhambane um importante alfobre destinado a produzir jogadores de futebol que deixarão marcas profundas nos campos e na memória. E em cavaqueiras sem fim.
Pode ser que o seu nome tenha se circunscrito em pequenos limites, mas quem esteve nesses lugares vai se lembrar certamente das tardes e noites de glória em que Nando Guihoto ocupava o lugar dos esteios, transmitindo confiança não só aos seus companheiros, como aos adeptos que sentiam neste homem, um reduto sólido. Capaz de anular a cascata dos avançados e colocar em delírio o campo inteiro.
Nando forjou-se no bairro Santarém, onde nasceu numa família humilde. Jogou futebol de brincar no Bángwè, um campo espontâneo que arrecadava jovens em euforia, uns para jogarem e muitos outros movidos pela vontade de assistir à partidas empolgantes que terminavam em apoteose, com Nando Guihoto a brilhar entre os melhores.
Até aqui era apenas conhecido e aplaudido no bairro onde serácelebrado como um pequeno deus, que tinha do outro lado um outro pequeno deus, o Chumbo Lipato, avançado desconcertante jogando descalço em tardes de ovação, para no fim regressar-se à casa sem nada nas mãos, mas com o coração cheio de proezas que impulsionavam a malta a festejar a existência em todas as oportunidades.
E o Nando estava ali, no Bángwè e no bairro Santarém, à espera, sem saber que estava à espera, do toque do sino para que passasse a outros patamares. É assim que, de forma desinteressada e imperceptível, entra suavemente, quase subtilmente, no Grupo Desportivo de Inhambane e mistura-se com outros jogadores de eleição, que vão emprestar ao campeonato provincial de futebol, um ritmo que podia estar perto do cume.
O Nando, de cá de fora, como pessoa, era o mesmo que ia às quatro linhas, um homem desprovido de soberba, porém com dureza visível no olhar de felino e no peito aberto pronto para a defesa e para o ataque, costas ligeiramente cu
Mas como é inesperada a vida, Nando Guihoto morreu de morte anunciada. Nos últimos anos parecia um sonâmbulo andando pelo bairro sem falar com ninguém, exibindo o seu corpo atlético, mas já emagrecido pelo sofrimenro de proveniência desconhecida. Falava sòzinho - ou com os seus demónios – vocalizando para dentro de si mesmo, por vezes soltando um berro que ninguém entendia.
A última vez que vi o Nando Guihoto, vestia uns calções rotos que pareciam uma saiota, não tinha camisa, deixando à vista de todos, por conseguinte, um tronco nu bem desenhado. Não resisti em pronunciar seu nome em voz alta, Nando.......! E Nando ouviu-me. Olhou profundamente para mim e não disse nada, prosseguindo sua caminhada cujo destino nem ele sabia, se calhar já tinha chegado, onde esperava que a sua carcaça que ainda deambulava pelas ruas e pelos becos, voltasse ao pó. Para ele descansar.
No dia seguinte após aquele encontro, recebi a notícia: Nando Guihoto morreu!