Mas quem está na proa pode ser o timoneiro, e Elvira Viegas não será mais do que um pivot generoso, com sede inadiável de exaltar fazedores e criadores da arte. É isso que ela está a fazer no seu programa”Celebrando vidas” que passa na Televisão de Moçambique (TVM) aos domingos entre o final da tarde e o princípio da noite, algo que nos leva à nostalgia e permite-nos buscar, da memória, nomes que alimentam o nosso passado e fazem, por conseguinte, com que o presente tenha sentido.
Assisti ao “Celebrando vidas” nas últimas duas semanas com Elvira no centro de uma panóplia de músicos e actores de teatro e escritores, o que ela queria é que se falasse deles, dos seus trabalhos que vão marcar de forma indelével várias gerações, pois, evocar por exemplo Lília Momplé e Manuela Soeira, é juntar pedaços de gerações ou várias gerações por inteiro. São duas mulheres de uma inventiva notável trazidas à terreiro por outra mulher notável que avança sem púrpura, mas com simples missangas da imaginação.
Manuela e Lília, corporizam duas personagens que levaram sempre uma vida recatada, deixando que sejam as suas obras a irem à frente sob todos os riscos, e ali no programa da Elvira mostraram isso mesmo, ser mulheres serenas e amáveis, preferindo a plateia no lugar do palco, embora tenham sido chamadas às luzes da Televisão. Elas brilham por si mesmas, como o mel que não precisa de açúcar para ser doce, e esta é uma grandiosa homenagem despida de preconceitos.
O programa de Elvira Viegas embevece, ela conhece as pessoas que convida, não é obra do acaso. Então os irmãos Wily e Anibal, humildes como as duas mulheres que citamos anteriormente, nomeadamente Lília Momplé e Manuela Soeiro, foram chamados à um lugar que não podiam recusar, pela forma como o cenário foi preparado, cheio de flores e palavras de amor. Eles não estiveram ali para dar um espectáculo, mas com o propósito de receber abraços profundos de uma plateia especial. Respeitável.
Foi bom ver Roberto Chitsondzo que teve, a determinado momento da sua actuação, de pedir a um dos seus filhos que pegasse na guitarra e continuasse a tocar “Mussakazi”, para que ele, o Roberto, se sentisse livre e cantasse à vontade e dançasse um pouco também. Com alegria incontida. Porém, quem estava voando mesmo, é Elvira, que pensou num programa que vai nos levar ao delírio e à fortes emoções.
“Celebrando Vidas”, por aquilo que nos mostrou nas últimas duas semanas, servirá de grande motivo para nos mantermos ligados à TVM aos domingos, entre o final da tarde e princípio da noite. Há um grande sinal como aquele que por via dos filhos, foi lembrada a “doce escandalosa” Zaida Lhongo. Aliás a Tânia (filha) actuando no palco dizia assim, “não se escandalizem com o que vão assistir aqui, não fosse eu filha de Zaida”.
Pois é: os gêmeos Parruque são desse tempo de grandes euforias no Ngoma Moçambique da Rádio Moçambique e estiveram ali para nos fazer recordar essas temporadas vibrantes, mas “Celebrando Vidas” é uma galeria pronta a receber o inesperado, e nós estamos aqui na esperança de viver o passado.
Obrigado Elvira.