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quinta-feira, 09 março 2023 07:39

Raul Domingos

Escrito por

MoisesMabundaNova3333

O antigo negociador-chefe da Renamo nas conversações sobre a paz no país, em Roma, apresentou finalmente as suas cartas credenciais ao governo do Vaticano, assumindo, assim, efectivamente, a sua posição de embaixador extraordinário e plenipotenciário de Moçambique junto da Santa Sé, posição para a qual foi nomeado em Julho do ano passado.

 

Foi, de alguma forma, surpreendente a nomeação do antigo "número dois” do partido de Afonso Dhlakama. Tirando Benjamim Pequenino, que foi destacado a dirigir os Correios de Moçambique até Fevereiro de 2006, muito pouquíssimas figuras da oposição foram convidados pelo nosso governo do dia desde a independência nacional, para gerirem instituições públicas moçambicanas.

 

Somente em Fevereiro de 2019 é que voltaríamos a ter figuras da Renamo a serem nomeados para posições nas instituições do Estado; como é sabido, tal decorreu de entendimentos militares, concretamente, da implementação do memorando de entendimento sobre assuntos militares, no âmbito das negociações de paz então em curso. Nos princípios desse mês, o então ministro da Defesa, Atanásio Ntumuke, nomearia três oficiais da Renamo para sensíveis funções de Director do Departamento de Operações, Director do Departamento de Informações Militares e Director do Departamento de Comunicações no Estado-maior General das Forças Armadas de Defesa de Moçambique. Nos finais do mesmo mês de Fevereiro, teríamos também o então chefe do Estado Maior, Lázaro Menete, a nomear outros onze oficiais da Renamo para ocuparem cargos de chefia no Exército. Foi assim que tivemos batalhões de infantarias a serem comandados por oficiais vindos da Renamo; repartições de Pessoal do Ramo de Exército; de Artilharia Antiaérea; Educação Cívica Patriótica; a serem geridos pelos “outros”; e até chefes de Estados-Maiores de brigadas a serem liderados por pessoal da Renamo. 

 

Com efeito, a indicação de Raul Domingos é bem-vinda! Muitas palmas para o Chefe de Estado. Quando se fala de reconciliação nacional, inclusão, falamos também de gestos como estes: a indicação de figuras que reúnem os atributos, competências e saberes que necessitamos para certas posições de Estado e/ou na gestão de instituições públicas, independentemente das suas cores ou crenças partidárias. Moçambique precisa de todos nós. O desenvolvimento, o crescimento e a solidificação do nosso Estado requerem uma atroz conjugação de esforços, de saberes, conhecimentos, sacrifícios, entrega e de engajamentos permanentes. É uma ventura que requer a priorização dos interesses nacionais acima de todos os demais, daí que não deva ser problema, muito menos algo que seja encarado com reservas, o ir buscar-se uma figura do rank da oposição para o preenchimento de uma posição. O princípio deve ser a competência, saber, conhecimento, capacidade e obra. Não sei se continua a fazer sentido ter no governo e à frente de instituições públicas pessoas que não falem inglês pelo menos, estando nós na região onde estamos e com interesses que prosseguimos. Só perdemos muito com isso.

 

Desejável é que identifiquemos mais Rauis Domingos que possam representar bem o país, terem um bom desempenho, serem úteis para a sua “pátria amada”, como esperamos que o ex-número dois da Renamo e agora presidente do PDD o seja, independentemente de pertencer a “outras” instituições. 

 

Há dias, acredito que mais pela sua indicação para embaixador no Vaticano, Domingos concedeu uma grande entrevista a uma estação televisiva privada nacional. Como sempre, com revelações atrás de revelações. Não restam quaisquer dúvidas, Raul Domingos detém um saber importante e considerável sobre a história pós-independência do nosso país! Pudesse um historiador sério sentar com ele e extrair parte substancial do conhecimento que este cidadão possui e registar para a eternidade. Ou simplesmente ajudar-lhe a rabiscar as suas memórias, se é que o está a fazer!

 

Uma das revelações na última entrevista foi aquela de que um dos proeminentes colaboradores da Renamo na cidade de Maputo nos momentos mais intensos da guerra dos 16 anos foi o grande locutor da Rádio Moçambique (Emissor Inter-Provincial de Maputo e Gaza), Vieira Manala, já falecido, que Deus o tenha. Segundo Domingos, o famoso Manala, que tinha o cognome de Búfalo, é que era o responsável pela distribuição de panfletos da Renamo na cidade de Maputo!...

 

Grande revelação esta! O Vieira Manala está no coração de milhões de moçambicanos ao sul do Save e não só! Grande locutor! Grande relator desportivo em Changana/tonga! Grande jornalista. Muitos desses milhões estariam longe de imaginar que o seu ídolo fosse colaborador da… Renamo! Pena é que esta revelação Raul Domingo a faz na ausência do visado, que poderia comentar, condimentar e dar mais subsídios. Daí eu não ter a certeza se esta revelação é de boa fé ou não.

 

Fora isto, Raul Domingos é um nome a ter em conta na História de Moçambique!

 

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