Comemorando os 100 Anos de José Craveirinha, Poeta-mor!
Desde que partiste
Não parámos de gritar
Pois diferente de outrora
Quando vivo entre nós estavas
Hoje mais negros nos tornamos
E nosso patrão é nosso conhecido-irmão
E como antigamente, ainda somos carvão!
Desde que partiste, ó nobre Mestre
Ainda somos arrancados do chão
Como minas de Moatize e outras geografias
Somos explorados sem auditoria honesta
Não apenas por Vales que das nossas terras nos baldeiam
Mas também por aqueles que dizem sacrificialmente lutar
Para nos proporcionar o sonho que nos fez batalhar
Contra a escravidão de brancos e pretos embranquecidos!
Desde que partiste
Quem explora a nossa mina
É o nosso irmão, mas hoje um ferino patrão
E nós, ó nobre Mestre, continuamos mais pretos, carvão!
Desde que partiste
O irmão que nos deixaste
Com o tempo, como um génio camaleão
Camufladamente, ao olho nu, foi-se revelando
Um autêntico capitalista, um supremo-patrão!
Desde que partiste, ó nobre Mestre
Nossas estradas ganharam novos donos
E mesmo abarrotas de valas comuns
Que escondem sangue de gente inocente
Até dentro da cidade, não muito longe de Mafalala
Pagamos quotas para à vontade circular!
Desde que partiste
Ao longo das nossas estradas malfeitas
Brotaram empreendedores de combustíveis
Especialistas em economia de mercado lobista
Similares a Mestres de Kung fu e Karaté
A cada página de estrada vazia de alcatrão
Apertam o cinto da miséria dos teus pobres irmãos!
Desde que partiste, ó nobre Mestre
Os mesmos velhos que deixaste a governar
Pululam pelas pontas vermelhas, governamentais e municipais
Desta pobre terra de cabo do norte queimado
Como especialistas em inovações químico-laboratoriais
Intoxicam o povo com políticas que dizem a todos beneficiar
Mas sabemos que seus planos e suas estratégias, é tutu mafia!
Desde que partiste
O custo de vida não parou de subir
E a subida de que profeticamente escreveste
Não é só do pão, óleo, carvão, transporte
Não é só da educação, saúde, formação
Nosso batimento cardíaco também subiu
Pois o salário mínimo apenas sobe alguns degraus
Quando já há um plano vampírico para sem dó o tirar!
Desde que partiste, ó nobre Mestre
A educação que nos podia educar
É feita por lobistas designados professores
E os livros que nos podiam iluminar
São malandramente produzidos para nossos filhos deformar
E banhados de ignorância, perdermos o norte que nos podia salvar!
Desde que partiste
Nossa Constituição, aquele livro legal sagrado
Tem sido folheado por cientistas-pecadores
Como um manual de empreendimentos laboratoriais
Para garantir mandatos e a todos controlar!
Desde que partiste, ó nobre Mestre
Até governadores pelo povo eleitos
Como estudantes e funcionários estagiários
Têm supervisores faz-tudos directamente da base central
Afinal, o que deve prevalecer não é a vontade do teu povo irmão
Porém decisões superiores dos famosos Grandes e Eternos Chefes!
Desde que partiste
O que mata os nossos irmãos
Não são guerras, fomes, secas, doenças ou ciclones
É a ganância pintada de coragem de um irmão insatisfeito
Que em revolta, sem coração, prefere inocentes trucidar
Para sua voz ecoar mais alto e sua superioridade declarar!
Desde que partiste, ó nobre Mestre
Pouco se escreve para o povo iluminar
Mas páginas em branco, de livros e manuais, se enchem
E murais de redes sociais espalhados na internet se inundam
Com deformações históricas, geográficas, económicas
Sociais, políticas, religiosas, repletas filosofias sanguessugas
Para deturpar o caminho da educação, saúde e salvação!
Desde que partiste
Ainda somos carvão
Ainda se consome nossa combustão
Mas como abertamente disseste
Arder eternamente, não patrão!
Não poderemos continuar a arder
Ser a mina explorada de um patrão- irmão
Que ontem garantiu até seu sangue derramar
Para nossas vidas economicamente melhorar
E devolver o sangue que por séculos nos foi sugado!
Portanto, ó nobre Mestre
Temos que continuar a arder
E com a chama da nossa combustão
Queimar tudo que malandramente nos sufoca
E com temperos de políticas e má governação
Nosso presente e futuro dos nossos filhos na terra inferniza!
Desde que partiste
Mesmo nascidos em terra consagrada independente
E governados por gente que diz democracia defender
Hoje ainda somos um futuro cidadão
Mas como abertamente disseste
Arder eternamente, não patrão!