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segunda-feira, 29 maio 2023 08:24

Não há fim à vista na guerra entre Ucrânia e Rússia, declarou em Maputo, chefe da diplomacia ucraniana

ucrania moz

O Ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros foi recebido na última sexta-feira (26), em Maputo, pelo presidente Filipe Nyusi e manteve conversações com a Ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Verónica Macamo. Em declarações à imprensa, Dmytro Kuleba afirmou que “não há fim à vista” na guerra na Ucrânia e acusou a Rússia de não estar à procura da paz.

 

“Quando recebo chamadas dos meus filhos que voltaram a ser acordados, durante a noite, por causa dos mísseis lançados sobre as suas cabeças e as forças aéreas a abatê-los, chego à conclusão de que a Rússia não está à procura da paz. A Rússia não está à procura de soluções pacíficas, a Rússia não quer negociações”, denunciou.

 

“Os russos são mentirosos profissionais. Toda a guerra termina com a diplomacia e o momento para a diplomacia vai chegar no dia em que a Rússia perceber que não pode vencer esta guerra”, notou.

 

Vários países africanos abstiveram-se nas votações na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas que condenavam a invasão russa da vizinha Ucrânia, a 24 de Fevereiro de 2022. Moçambique foi um dos Estados a assumir a neutralidade e apelar ao diálogo para pôr termo à guerra, a partir do seu lugar de membro não-permanente do Conselho de Segurança da ONU.

 

Dmytro Kuleba referiu que o périplo que está a realizar em África pretende contrariar uma aposta das autoridades russas em desinformação no continente africano, onde muitos países se mantêm neutrais face à guerra.

 

“A minha visita a Moçambique tinha três objectivos principais. O primeiro era estabelecer as bases políticas para o desenvolvimento de relações mutuamente benéficas entre os nossos países. Em segundo lugar, discutir a implementação da Fórmula da Paz do presidente Volodymyr Zelenskyy. Terceiro, desenvolver áreas promissoras de cooperação económica”, disse Dmytro Kuleba.

 

“Honrado por ser recebido pelo Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi”, disse Kuleba, segundo a mídia ucraniana, na sua conta social.

 

O Ministro expressou o seu agradecimento à parte moçambicana pela autorização oficial para a abertura da Embaixada da Ucrânia em Maputo, República de Moçambique. Ele enfatizou que a abertura da Embaixada ocorre no contexto mais amplo do renascimento das relações ucraniano-africanas.

 

“Concordamos em trabalhar para impulsionar as relações bilaterais com base no respeito e interesses mútuos. Como primeiro passo, a Ucrânia vai estabelecer uma embaixada em Maputo”, disse.

 

Dmytro Kuleba informou os interlocutores em detalhe sobre a situação na linha de frente e os esforços das forças de defesa ucranianas para repelir ataques de foguetes e drones da Federação Russa e libertar os territórios temporariamente ocupados da Ucrânia.

 

“Nenhum outro país no mundo deseja mais a paz do que a Ucrânia. No ano passado, o presidente Volodymyr Zelenskyy propôs a Fórmula da Paz – um plano de dez pontos para ajudar a estabelecer uma paz justa e duradoura na Ucrânia e fortalecer a segurança global. Convidamos Moçambique – especialmente enquanto país que ocupa actualmente um assento não permanente no Conselho de Segurança da ONU em 2023-2024 – a juntar-se à sua implementação. Esta será uma contribuição significativa para a protecção dos princípios e objectivos da Carta da ONU”, disse o ministro.

 

O Ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros também abordou a questão da segurança alimentar em África, em particular o funcionamento da Iniciativa dos Grãos do Mar Negro: “Apesar da difícil situação na Ucrânia no meio da agressão russa, continuamos a ser um garante fiável da segurança alimentar no mundo e principalmente no continente africano. Desde Agosto de 2022, a Ucrânia exportou mais de 30 milhões de toneladas de grãos, dois terços dos quais foram enviados para países da África, Oriente Médio e Ásia.”

 

Dmytro Kuleba disse ainda que a Ucrânia está disposta a incluir Moçambique na lista de países que recebem cereais ucranianos no âmbito da iniciativa humanitária Grain From Ukraine do Presidente Zelenskyy para apoiar a segurança alimentar de Moçambique. Ao mesmo tempo, ele enfatizou a inaceitabilidade do uso de alimentos como arma pela Rússia.

 

“A Rússia não tem o direito de colocar em risco a vida de milhões de pessoas em África e em outras partes do mundo por causa de seus próprios interesses políticos. Moscovo deve parar imediatamente de obstruir o Corredor de Grãos do Mar Negro e desbloquear o acesso a todos os portos ucranianos no Mar Negro, para que os produtos agrícolas e outros produtos ucranianos possam chegar a quem mais precisa deles”, enfatizou o ministro.

 

A parte moçambicana solidarizou-se com a Ucrânia no contexto da guerra desencadeada pela Rússia e apoiou a proposta de Dmytro Kuleba de realização de um fórum empresarial sob os auspícios dos ministérios dos Negócios Estrangeiros com a participação de empresas ucranianas e moçambicanas. Este evento ajudará a desenvolver projectos conjuntos nas áreas de comércio, agricultura, indústria de alimentos, tecnologia da informação, transformação digital e farmacêutica.

 

A visita do Ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros insere-se no périplo que está a efectuar por vários países africanos. Para além de Moçambique, o responsável político esteve em Marrocos, Ruanda, Etiópia, culminando a sua digressão em Nigéria e Angola.

 

Nesta sua passagem diplomática por África, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, efectuou a primeira visita da história das relações bilaterais à República de Moçambique. (RFI)

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