Publicada originalmente, em 1964, a obra “Nós Matámos o Cão Tinhoso”, de Luís Bernardo Honwana, constitui, hoje, um dos marcos fundadores e fundamentais da moderna narrativa de ficção moçambicana. Contos breves, à excepção do primeiro, que dá título ao conjunto das sete histórias, revelam um escritor prodigioso, com apenas 22 anos, e um poder de observação e uma capacidade narrativa exemplares, irrompe nas letras nacionais. O livro, com ilustrações de Bertina Lopes, faz um inteligente escrutínio da realidade social e denuncia uma sociedade colonial injusta e profundamente desigual.
Luís Bernardo Honwana começou a publicar histórias na página “Despertar” do matutino “Notícias”. Colaborou em diversos jornais (“Notícias”, “Voz de Moçambique”, “Tribuna”, “Diário de Moçambique” e “A Voz Africana”, na Beira), fez desenhos à pena, participou em exposições de artes plásticas, viu filmes e escreveu sobre o cinema, dedicou-se à fotografia, participou com jornalistas, poetas e pintores na efervescente vida cultural dos anos 60. Para além disso, praticou desporto e foi um activista político contra o regime. Aliás, conheceu, por essa razão, com 22 anos, em finais de 1964, a prisão pela PIDE. Esteve três anos e meio na cadeia, na mesma altura que José Craveirinha, Rui Nogar, Malangatana Valente, entre outros importantes nacionalistas moçambicanos.
O livro “Nós Matámos o Cão Tinhoso” conheceu, ao longo dos anos, edições sucessivas em Moçambique, sobretudo no período pós-independência, bem como diversas traduções, entre as quais “We Killed Mangy Dog and Other Stories”, publicada pela Hinneman, na mítica “African Writers Series”, dirigida pelo escritor nigeriano Chinua Achebe e que incluiu obras de autores africanos emblemáticos como Ngugi Wa Thiong ´o, Sembene Ousmane, Naguib Mahfouz, Wole Soyinka ou Nadine Gordimer, os três últimos laureados com o Prémio Nobel da Literatura. O livro teve múltiplas edições em Portugal e no Brasil.
Luís Bernardo Honwana foi jornalista e nacionalista, preso político, combatente pela liberdade, após a Independência de Moçambique desempenhou o cargo de director do gabinete do Presidente da República, foi, sucessivamente, Secretário de Estado e Ministro da Cultura, fundador da Associação dos Escritores e de outras agremiações como a dos Fotógrafos, estabeleceu e foi primeiro Presidente do Fundo Bibliográfico, membro do Conselho Consultivo da UNESCO, seu representante na África Austral, é, hoje, Director Executivo da Fundação para a Conservação da Biodiversidade – BIOFUND.
Em 2017, Luís Bernardo Honwana publicou, 53 anos depois de “Nós Matámos o Cão Tinhoso”, a obra de ensaios “A Velha Casa de Madeira e Zinco”.
A editora Marimbique lança, esta segunda-feira, dia 5, em Maputo, uma edição fac-similada da primeira edição desta importante e decisiva obra, numa tiragem limitada, em homenagem ao autor, que celebrou, no dia 12 de Novembro, 80 anos de idade. O livro não terá circulação comercial, destina-se apenas a assinalar o jubiloso aniversário do escritor.