Simulações recentes feitas pelo Banco Mundial, numa análise sobre a economia de Moçambique, sugerem que a quebra económica provocada pela Covid-19 pode fazer aumentar os custos da dívida da Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH), braço empresarial do Estado no negócio de hidrocarbonetos, em 21% e expandir o período de serviço da dívida em uma década.
Intitulada “Actualidade Económica de Moçambique: Preparação para Recuperação”, a análise de cenários por aquele grupo bancário internacional explora o impacto nos dois projectos em curso, Coral Sul FLNG (Área 4) e Moçambique LNG (Área 1), de novos atrasos de seis meses e um ano, respectivamente.
“Este cenário pressupõe também que a Decisão Final de Investimento (FID) do projecto Rovuma LNG, prevista entre 2020 e 2021, poderá agora só ocorrer em 2025, e que a produção poderá começar só em 2030. Estes atrasos, combinados com preços mais baixos das matérias-primas nas fases iniciais da produção, deverão reduzir o fluxo de caixa disponível da ENH”, aponta o documento.
Em consequência, o Banco Mundial diz esperar-se que a capacidade da ENH de servir a dívida diminua, especialmente nos anos iniciais de reembolso, o que levará à acumulação de juros e ao aumento da exposição à dívida.
A análise sugere que o agravamento das condições financeiras provocado pela crise pandémica tornará impossível à ENH pagar os seus custos de detenção de participação (dinheiro emprestado pelos parceiros no empreendimento) da Coral Sul FLNG sem um subsídio cruzado da Rovuma LNG (a FID sobre este último ainda está pendente).
Em termos de números, aquela instituição financeira mundial mostra que, com a participação naqueles dois projectos, a ENH poderá até 2025 acumular uma dívida estimada em pouco mais de 3 mil milhões de USD, valor que poderá diminuir ao longo dos anos subsequentes até situar-se num montante de 771 milhões de USD em dívidas não pagas em 2050.
“Num cenário em que o projecto Rovuma LNG não avança, a ENH acabaria com dívida por pagar à Coral South FLNG, quando o projecto chegasse ao fim da sua vida económica (em 2047). A análise sugere que o ENH já não poderia gerir o Coral Sul FNLG como um projecto delimitado”, lê-se na análise.
Por fim, o Banco Mundial adverte a ENH que o impacto decorrente da pandemia exige a necessidade de avaliar outras estratégias possíveis para gerir a carteira de Gás Natural Liquefeito (GNL) da ENH, como subsídios cruzados e refinanciamento da dívida. (Evaristo Chilingue)