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BCI
terça-feira, 04 agosto 2020 08:07

Fiscais das áreas de conservação exigem melhoria de condições de trabalho e criação de Associação

No distrito de Magude, no extremo noroeste da província de Maputo, estão instaladas três áreas de conservação, “protegidas” dia e noite por homens, cuja rotina e destino das suas vidas ditaram que fossem responsáveis pela protecção do extenso território natural que alberga diversos recursos faunísticos e florestais: os fiscais.

 

A nossa reportagem esteve naquela área durante a semana passada e observou in loco o dia-a-dia destes homens que lutam para travar as incursões dos caçadores furtivos que, a todo o custo, buscam a riqueza fácil, matando, extraindo e comercializando, ilegalmente, troféus de diversos animais selvagens, alguns já em fase de extinção.

 

Na semana em que se assinalava o Dia Internacional do Fiscal de Florestas e Fauna Bravia, concretamente a 31 de Julho, “Carta” conversou com Fenias Chibure, que trabalha, há 10 anos, na Masintonto Ecoturismo, uma área de conservação privada, localizada naquele ponto da província de Maputo, que partilhou a sua estória de vida, sobretudo de trabalho.

 

A fonte começou por sublinhar tratar-se uma missão arriscada, pois, enfrenta dois “inimigos”, nomeadamente, a fúria dos animais selvagens e a “gula” dos caçadores furtivos. Entretanto, garante que nunca participou de uma operação que tenha envolvido troca de tiros entre os fiscais e os caçadores furtivos.

 

À nossa reportagem, Chibure admitiu não ser fácil identificar um caçador furtivo e garantiu que nunca teve desejo de caçar e muito menos facilitar a caça de qualquer animal, apesar de ter tido um colega que caçava gazelas nos seus tempos livres, que acabou sendo interpelado pelos agentes da Administração Nacional das Áreas de Conservação (ANAC), o que motivou a sua expulsão.

 

Entretanto, como qualquer profissional, Fenias Chibure tem as suas frustrações e uma delas está relacionada com a libertação, pelas autoridades judiciais, de caçadores furtivos, mesmo perante evidências claras da participação destes no cometimento de crimes ambientais. Porém, assegura que nunca pensou em abandonar a profissão.

 

Refira-se que a Masintonto Ecoturismo é gerida pelo grupo sul-africano Tongaat Hullet, contando, actualmente, com 22 fiscais, responsáveis pela protecção dos 12 mil hectares, constituídos por diversas espécies faunísticas e florestais.

 

Outro fiscal ouvido pela nossa reportagem, também pertencente àquela Reserva privada, é Aminosse Mawsaganhe, que conhece a área há 30 anos. Diz já ter participado de várias operações de captura de caçadores ilegais que, entretanto, continuam a invadir aquele local em busca de troféus de rinoceronte, em particular.

 

Segundo Mawsaganhe, é necessário que seg melhore as condições de trabalho, assim como há necessidade de se criar uma associação que defenda os direitos e deveres dos fiscais.

 

Por sua vez, Jemisse Mabane, que também é fiscal há 10 anos, contraria o discurso de Fenias Chibure, dizendo ser fácil identificar a presença de caçadores furtivos na área de conservação. “São identificados nas primeiras horas, através da monitória dos passos em zonas próximas às vedações”. A fonte assegurou que os caçadores furtivos, normalmente, invadem a área entre as 16 e as 17 horas.

 

Já Frank Manhique, Chefe das Operações Especiais na Karingani Game Reserve, há nove anos, disse-nos que os fiscais precisam da ajuda da parte do governo para melhorarem o seu trabalho. A fonte lamentou o facto de alguns caçadores ilegais serem soltos depois de serem detidos, uma situação que, na sua óptica, “enfraquece o trabalho dos fiscais”.

Na Reserva da Karingani Game, os fiscais trabalham dia e noite durante 21 dias consecutivos e repousam durante sete dias também consecutivos, conforme contou Manhique. A reserva tem 44 hectares, albergando diferentes espécies de animais.

 

Para Fernando Djinje, Chefe do Posto Administrativo de Mapulanguene, no distrito de Magude, as fazendas e reservas de bravio têm mudado a vida das comunidades locais, empregando alguns jovens locais, em particular como fiscais.

 

À “Carta”, Djinje disse que a fiscalização melhorou, pois, há anos que aquele ponto do país não é usado como corredor do tráfico de produtos da caça furtiva, embora este ano já tenha registado cinco casos. (Omardine Omar, em Magude)

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