Alguns Estados vizinhos de Moçambique estão no pelotão da frente no ataque à pandemia, como é o caso da África do Sul, mas outros, como o Malawi, estão à espera do pior.
A África do Sul decretou o bloqueio total (lockdown) à meia-noite do passado dia 26, logo depois do país ter registado o primeiro óbito na sequência de centenas de casos confirmados do Covid-19. Os 57 milhões de sul-africanos deverão permanecer em casa por 21 dias.
E a partir desta segunda-feira, o bloqueio total também passa a vigorar no Zimbabwe, no quadro do reforço das medidas preventivas para conter a propagação do coronavírus. No país já foram confirmados casos do Covid-19 incluindo a morte de um profissional da comunicação social Zororo Makamba.
Durante três semanas, os zimbabueanos deverão permanecer em casa, podendo sair em casos excepcionais apenas para as compras ou acesso a serviços de saúde. Na sua incursão pela região da SADC, “Carta” soube que o Zimbabwe autorizou ainda o uso do dólar americano para as compras e pagamento de serviços suspendendo a proibição imposta o ano passado.
Trata-se de uma medida extraordinária visando aliviar a débil economia zimbabueana, na eventualidade do agravamento da Covid-19.
Malawi está à espera do pior
Enquanto isso, o governo do Malawi diz que o bloqueio total na sequência da pandemia não está iminente, mas continua sendo uma opção, no caso de a situação piorar. O polémico ministro da Segurança Interna, Nicholas Dausi, diz que o bloqueio total continua sendo uma opção, mas alega que é preciso ir com calma, afirmando que ainda é muito cedo.
Até agora, Malawi ainda não registou nenhum caso de Covid-19.
O ministro Dausi justifica que o encerramento das fronteiras e o confinamento dos cidadãos tal como está a acontecer na África do Sul e a partir de hoje no Zimbabwe pode limitar as liberdades individuais, como o direito de circulação, de fazer compras e de se reunir para orar.
Dausi diz que o distanciamento social é essencial para limitar a disseminação do coronavírus no país, num cenário em que o Serviço Nacional de Saúde dispõe de pouco menos de dez ventiladores. Como se não bastasse, dos dezoito milhões de malawianos apenas onze por cento lavam as mãos com água e sabão. O director-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Guebreyesus, instou os países africanos a preparar-se para o pior, à medida que os casos aumentam no continente.
Na semana passada, o presidente do Malawi, Peter Mutharika, declarou estado de desastre nacional por tempo indeterminado, com encerramento de escolas e universidades e proibição de reuniões com mais de cem pessoas.
A antiga presidente do Malawi, Joyce Banda, disse que seria catastrófico ficar à espera que a situação piore para reforçar as medidas numa altura em que países de baixa renda e com escassos recursos focalizam o reforço da prevenção do que a cura.
Malawi é um dos países mais pobres do mundo. A sua população vive com menos de um dólar por dia. Consequentemente, o Serviço Nacional de Saúde é dos mais frágeis e sem capacidade para atender à demanda caso a situação venha a piorar.
Vivem no Malawi mais de cinquenta mil moçambicanos.
Tanzânia: prevenção sim, mas com igrejas abertas
Na Tanzânia, onde também vivem moçambicanos, o presidente John Pombe Magufuli está sob fogo cruzado por se recusar a fechar as igrejas. Magufuli diz que o vírus é satânico e por isso não pode prosperar nas igrejas. A declaração do estadista tanzaniano suscitou um coro de críticas por parte da oposição exigindo o encerramento imediato dos locais de culto.
Os defensores de Magufuli dizem que a melhor solução é deixar as igrejas abertas para confortar as pessoas e evitar o medo do coronavírus. A Tanzânia já diagnosticou casos de Covid-19, mas o “lockdown” ainda é uma miragem. A Zâmbia poderá decretar o “lockdown” se todos os seus vizinhos fecharem as fronteiras.
O país já confirmou mais de dez casos de Covid-19. De acordo com o presidente Edgar Lungu, o governo zambiano está a conceber uma estratégia que vai tomar em consideração os grupos de baixa e alta renda bem como a disponibilidade de produtos e serviços essenciais.
Alguns moçambicanos também estão radicados na Zâmbia. Até à altura da edição deste artigo, “Carta” ainda não tinha informação sobre casos de moçambicanos com coronavírus na SADC. No entanto, alguns especialistas sugerem, com carácter de urgência, a concertação de estratégias entre as lideranças da SADC através de videoconferência, tal como acontece noutros blocos regionais.
Na semana passada, os ministros da Saúde da Comunidade da África Oriental (EAC) adoptaram em Arusha, na Tanzânia, através de videoconferência, medidas mais rigorosas para conter o coronavírus, incluindo a testagem de cem por cento dos passageiros que entram e saem dos respectivos países. (Faustino Igreja)