A Economist Intelligence Unit (EIU) considerou ontem que o desenvolvimento do gás natural em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, está ameaçado pela crescente presença militar de grupos islamitas, considerando "provável" que os ataques continuem.
"O desenvolvimento das fábricas para a exploração de gás na província nortenha de Cabo Delgado é ameaçado pela crescente presença militar de grupos islamitas, incluindo o movimento local Ansar al-Sunna e, cada vez mais, afiliados locais do Estado Islâmico", escrevem os peritos da unidade de análise da revista britânica The Economist.
Num comentário à assinatura de um acordo entre o Governo da Noruega e o de Moçambique para desenvolver a sustentabilidade da exploração de gás no país, enviado aos clientes e a que a Lusa teve acesso, os analistas dizem que "os ataques militantes aumentaram em severidade e frequência durante o ano passado, e é provável que continuem, mesmo com as forças de segurança estatais a debaterem-se para os conter".
No texto, a EIU salienta que "as causas subjacentes da insurgência são multifacetadas, mas as limitadas oportunidades económicas e a frustração popular sobre o alto nível de corrupção, assim como a fraca gestão orçamental a nível estatal lançaram as sementes para o descontentamento generalizado".
Sobre o acordo assinado entre Moçambique e a Noruega, a EIU comenta que "serve para facilitar a exploração sustentável dos recursos de petróleo e gás de Moçambique sem colocar o ambiente em perigo, e para aumentar as oportunidades económicas dos moçambicanos".
O Fundo Soberano, que Moçambique anunciou no ano passado ser uma iniciativa sobre a qual tem interesse, "pode ajudar o país a gerir melhor as suas enormes receitas de gás que vão em breve ser uma realidade".
Para a EIU, "usar essas receitas para angariar poupanças vai funcionar como uma 'almofada orçamental' em caso de descida dos preços, permitindo ao Governo manter os programas de despesa pública, mesmo que os preços caiam e a receia diminua".
Há uma semana, o Governo moçambicano e o reino da Noruega assinaram um acordo que prevê que o país nórdico fortaleça Moçambique ao nível da gestão das futuras receitas de gás natural.
"Foi assinado um acordo que se destina ao fortalecimento da gestão petrolífera que é sensível e precisa de ser gerida corretamente", disse então Verónica Macamo, ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, salientando: "Vai ser muito importante para a gestão de recursos e receitas e de expetativas".
Moçambique vai começar a exportar gás natural a partir de 2022 graças a megaprojetos de extração e liquefação na bacia do Rovuma que ao longo da próxima década deverão colocar o país na lista dos dez primeiros produtores mundiais.
O acordo de capacitação foi assinado no quadro da visita do príncipe Haakon Magno da Noruega a Maputo.
A assinatura do acordo acontece numa altura em que Moçambique discute a criação de um fundo soberano para gestão das receitas petrolíferas - sendo que a nação escandinava tem o maior fundo soberano do mundo.
Por seu turno, o ministro para o Desenvolvimento Internacional norueguês, Dag Inge Ulstein - que integrou a comitiva de Haakon Magno -, disse que o acordo prevê um programa de capacitação de modo a garantir que os recursos beneficiem as gerações vindouras e a salvaguarda do ambiente.
O diplomata explicou que é necessário que haja uma sociedade civil muito forte pois os países com recursos têm de se concentrar nas melhores práticas de gestão.
"Qualquer país que descubra grandes depósitos de gás natural tem grandes oportunidades. Esta indústria pode construir o bem-estar e uma economia sustentável de tal modo que todos os aspetos ambientais estejam contemplados", disse.
O Reino da Noruega tem prestado apoio ao país há mais de 40 anos, numa cooperação virada sobretudo para as áreas de energia, saúde, igualdade de género e apoio ao setor privado.
Na região austral, Moçambique é o terceiro país que mais fundos absorveu da Noruega em 2018, com cerca de 35 milhões de euros, segundo dados oficiais daquele país.(Lusa)