"Continuaremos a construir um ecossistema de software seguro e sustentável, a fim de fornecer a melhor experiência para todos os usuários globalmente", assegurou. Numa coletiva de imprensa, representantes do governo chinês disseram que a China "apoia a empresa para defender seus direitos legítimos de acordo com a lei". A medida, contudo, tem sido encarada por especialistas como um duro golpe para os negócios da companhia chinesa, ao menos num curto prazo, e em especial fora da China. Ben Wood, da consultoria CCS Insight, afirma que a iniciativa do Google vai ter "grandes implicações para os negócios da Huawei".
A empresa chinesa continuará a ter acesso à versão do sistema operacional Android disponível através da licença de código aberto que é gratuita para qualquer um que deseje usá-la. Mas, de acordo com a fonte da agência de notícia Reuters - a primeira a divulgar a decisão do Google -, a Huawei não terá mais suporte técnico e não contará com colaboração para serviços do Android e do Google. Por ora, quem já é usuário da Huawei ainda pode atualizar aplicativos e fazer correções de segurança, bem como atualizar os serviços do Google Play. Os próximos lançamentos e atualizações é que devem ficar comprometidos.
O que a Huawei pode fazer?
Na última quarta, o Departamento de Comércio dos EUA incluiu a Huawei Technologies e filiadas numa espécie de "lista negra". Na prática, os EUA proibiram a gigante das telecomunicações chinesa de comprar peças e componentes de empresas americanas sem a aprovação do governo americano. "A gente já estava se preparando para isso", disse o executivo-chefe da Huawei, Ren Zhengfei, numa entrevista à imprensa japonesa, na primeira declaração depois que a empresa entrou para a lista do governo americano. Zhengfei disse que a empresa, que compra cerca de US$ 67 bilhões em componentes a cada ano segundo o jornal de negócios Nikkei, vai avançar no desenvolvimento de suas próprias peças.
A Huawei enfrenta ainda uma reação crescente dos países ocidentais, liderados pelos EUA, sobre os possíveis riscos representados pelo uso de seus produtos nas redes 5G, a quinta geração de redes móveis. Muitos países demonstraram preocupação com a possibilidade de equipamentos da Huawei estarem sendo usados pela China para vigilância, o que a empresa nega com veemência.
A Huawei se defende dizendo não representar nenhuma ameaça e que é independente do governo chinês. No entanto, há países que já proibiram empresas de telecomunicações de usarem produtos da Huawei em redes de 5G como, por exemplo, Austrália e Nova Zelândia. "A Huawei tem trabalhado duro para desenvolver sua própria galeria de apps e outros softwares de forma semelhante com que trabalhou com soluções como os chipsets (conjunto de circuitos integrados que fazem computadores funcionar). Não há dúvida de que esses esforços fazem parte do desejo de controlar seu próprio destino", disse o consultor Ben Wood.
Possíveis prejuízos num curto prazo para a Huawei
Num curto prazo, a inclusão da empresa na lista negra do governo dos EUA pode prejudicar a empresa no Ocidente.
Consumidores de smartphones não vão querer um aparelho Android que não lhes dá acesso ao Play Store, ao assistente virtual ou atualizações de segurança – considerando que esses serviços devem estar entre os que vão ser extraídos (dos aparelhos Huawei pelo Google).
A longo prazo, contudo, isso deve dar aos vendedores de telefones uma séria razão para considerar a necessidade de uma alternativa viável ao sistema operacional do Google, em especial num momento em que o gigante de buscas na internet está investindo em sua própria marca, a Pixel.
A Huawei parece ter se preparado para a possibilidade de ser cortada. Seus smartphones já são equipados com processadores próprios e, no início deste ano, o chefe de dispositivos disse ao jornal alemão Die Welt que "vamos prepararnossos próprios sistemas operacionais – esse é o nosso plano B".
Ainda assim, essa iniciativa poderia abalar a ambição da Huawei em ultrapassar a Samsung e desviá-la do caminho de se tornar a marca de smartphone mais vendido em 2020.
O que isso tem a ver com a guerra comercial entre China e EUA?
Essa última investida contra a chinesa Huawei eleva a tensão entre a empresa e os EUA. A companhia já enfrenta mais de 20 acusações criminais apresentadas por autoridades americanas. Washington também tenta a extradição da executiva da Huawei Meng Wangzou, presa em dezembro no Canadá a pedido de autoridades americanas. As tensões comerciais entre os EUA e a China também parecem estar aumentando. As duas maiores economias do mundo têm travado uma feroz batalha comercial desde o ano passado. China e EUA passaram a impor tarifas em produtos uns dos outros.
No início do mês, os EUA mais que dobraram as taxas sobre as importações de produtos chineses. Os americanos elevaram, de 10% para 25%, as tarifas sobre a compra de certos produtos chineses, com valor atual de US$ 200 bilhões (R$ 791,4 bilhões). A China contra-atacou, aumentando também para 25% tarifas de mais de 5 mil produtos importados dos EUA. A medida surpreendeu muita gente e abalou mercados globais já que se acreditava que a guerra comercial entre as duas potências estava perto do fim. Essa disputa comercial entre EUA e China tem criado incerteza para empresas e consumidores. (BBC Brasil)