As manifestações populares que decorrem desde o dia 21 de Outubro em repúdio aos resultados das eleições presidenciais, legislativas e provinciais de 09 de Outubro condicionaram, temporariamente, a circulação de comboios da Nacala Logistics, no dia 11 de Dezembro corrente. A informação foi dada à “Carta” esta semana pela empresa.
“No dia 11 de Dezembro, por volta das 09h00, a Nacala Logistics foi forçada a interromper, temporariamente, a circulação dos comboios nos trajectos Nampula-Nacala e Cuamba-Nampula, em virtude de se terem verificado aglomerados populacionais e colocação de barricadas em alguns pontos da linha férrea”, afirma a empresa em comunicado.
A Nacala Logistics detalha que, naquele dia, a primeira interrupção ocorreu na região do mercado Waresta, na cidade de Nampula, quando o comboio de carga geral realizava a viagem de Nacala para Malawi. Os manifestantes, além das barricadas, causaram danos em alguns equipamentos da via e tentaram incendiar duas locomotivas, cujas chamas foram prontamente debeladas pela tripulação.
“A segunda interrupção, na mesma manhã, ocorreu no sentido descendente, de Cuamba para Nampula, concretamente na região de Malema, tendo afectado o comboio de passageiros. Algumas horas depois, as condições de segurança foram repostas e a circulação ferroviária seguiu normalmente”, descreve a empresa.
Ouvido pelo jornal local Ikweli, Ramos Paulo, uma testemunha no mercado de Waresta, contou que a situação começou após agentes da Polícia da República de Moçambique terem baleado um manifestante que obstruía a via pública. “Quando começou, parecia algo normal, mas depois tomou um rumo alarmante. Um dos meus vizinhos perdeu a vida em consequência dos tiros disparados pelos agentes da polícia no local”, afirmou.
“Os manifestantes começaram a incendiar pneus na estrada e, em seguida, quando o comboio começou a passar, eles colocaram barricadas e a confusão iniciou. A polícia chegou para tentar manter a ordem e tranquilidade públicas, enquanto o maquinista, ao perceber que a população havia bloqueado a linha ferroviária, tentou voltar”, mas, mesmo assim, uma parte do comboio foi queimada, acrescentou a mesma testemunha, citada pelo referido periódico.
Contudo, antes daqueles incidentes, no dia 02 de Dezembro de 2024, um comboio de transporte de carvão mineral, da mesma empresa, descarrilou na cidade de Nampula, ao embater em barricadas colocadas na linha férrea por manifestantes.
O caso ocorreu na zona da Total, ao longo da linha férrea que liga a província de Tete e o porto de Nacala. O sinistro afectou a travessia na passagem de nível entre os bairros de Carrupeia e Napipine e para as zonas da Sipal e Gorongosa.
Antes desse incidente, uma centena de manifestantes forçaram a imobilização de um comboio da Nacala Logistics no mercado Waresta. Depois subiram na locomotiva, onde ficaram a cantar durante alguns minutos. Nesse dia, não foram reportados mortos nem feridos.
“Ciente do contexto actual e visando prevenir novas situações, continuaremos monitorando por forma a garantir a segurança dos nossos utentes, trabalhadores, equipamentos e infra-estruturas. A empresa está em processo de apuramento dos danos materiais”, refere a Nacala Logistics.
A Nacala Logistics é responsável pela gestão do Terminal Portuário Multiusuário de Nacala-à-Velha e pelo transporte ferroviário ao longo dos 1.700 km de linha férrea compartilhada, destinada ao transporte de carvão mineral, carga geral e passageiros – de Nacala a Moatize, passando pelo Malawi. Em Moçambique, cobre uma extensão ferroviária de 970 km, abrangendo as regiões de Nacala, Moatize, Lichinga e Entre-Lagos passando por Cuamba. Já no Malawi abrange as regiões de Nayuki a Limbe e Chipata passando por Liwonde, numa extensão de 730 km de malha ferroviária. (Evaristo Chilingue)