Moçambique regista nos últimos anos baixos níveis de industrialização e de robustez do sistema económico. Entre 2017 a 2023, o peso da indústria, principalmente, a manufactureira sobre o Produto Interno Bruto (PIB) reduziu de 8,6% para 7,1%, contra uma média de cerca de 12%, a nível da região da África Austral.
Para a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), a queda da industrialização se deve a diversos factores, tais como a debilidade de infra-estruturas, altos custos de produção, elevada carga tributária, baixo acesso ao financiamento, entre outros.
A Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO) justifica a queda da industrialização com a deficiência na facilitação de negócios, desenvolvimento de infra-estrutura, tanto logística, quanto de comunicações e a falta de alinhamento da formação superior com as necessidades de produção.
Falando num seminário sobre industrialização, organizado durante a Feira Internacional de Maputo (FACIM), o Presidente da CTA, Agostinho Vuma, disse que de acordo com um estudo feito pela organização, subordinado ao tema "Análise do Impacto da Dinâmica Intersectorial na Economia Moçambicana entre 2017-2023", os sectores tradicionais da economia tendem a ter crescimentos modestos, sendo mais crítico o caso da Indústria Transformadora, que teve uma tendência geral de declínio, com um registo de um crescimento de 0.2% em 2018 e -0.4% em 2023.
Dados partilhados pelo Representante da UNIDO em Moçambique, Jaime Comiche, indicam que a produção industrial total dividida por todos os cidadãos é de apenas 45 USD, contra dois mil USD recomendáveis. “Quer dizer que ainda temos um longo caminho a percorrer com vista a industrializar”, afirmou Comiche.
Para a CTA, a tendência de queda aliada à análise da interligação entre os sectores económicos revela, por um lado, um quadro de ausência de iniciativas robustas de aposta na industrialização dos sectores primários, como a agro-pecuária e a indústria manufactureira e, por outro, o crescimento do fosso de aceleração na indústria extractiva.
No capítulo das ligações empresariais, o Presidente da CTA indicou que, naquele período, foi preocupante constatar que a indústria extractiva mostrou interligações fracas, estimadas em menos de 2%, enquanto o sector da construção teve um impacto moderado em todos os sectores, estimado em 20%, excepto na logística.
O sector de transformação, porém, apresentou uma relação mista e fraca com os demais sectores, em média, abaixo dos 15%. Para reverter o cenário, a CTA propõe o lançamento de linhas de financiamento de 50 milhões de USD, com um foco para a indústria manufactureira, tal como anunciado pelo Banco Nacional de Investimento e Bolsa de Valores de Moçambique (BVM) durante a FACIM; maior transparência e competitividade na distribuição de oportunidades (quota local); maior acesso e partilha de informações de oportunidades de negócios na indústria extractiva; e identificação e desenvolvimento de capacidades das cadeias de produção orientadas para os negócios, entre outros.
Já a UNIDO propõe que a incorporação da tecnologia de baixa complexidade na produção industrial, como as tecnologias, de informação e comunicação. O Representante da Organização defendeu também a necessidade de aumento de graduados nas áreas chave para o desenvolvimento da industrialização, como o caso de matemática e engenharias. (Evaristo Chilingue)