De acordo com uma carta dos trabalhadores, encaminhada ao Banco de Moçambique e a outras entidades, e a que “Carta” teve acesso, os desmandos no SOCREMO que, nos últimos dias, acontecem sob olhar impávido das instituições inspectivas, resumem-se em “escândalos, ilegalidades, falta de consideração e maus tratos”, por parte do Conselho de Administração.
“Nós os trabalhadores apresentamos reivindicações salariais que a Direcção nunca se digna a responder. Como exemplo, um trabalhador do SOCREMO, em quase todas as agências, tem um aumento anual de 100 a 200 Meticais. Que aumento é esse? Não será insulto e falta de consideração? Enquanto isso, os membros da Direcção (moçambicanos cúmplices), anualmente mudam de carros, usam carros 0 km, beneficiam-se de taxas de juro especiais”, clamam os trabalhadores.
Para cúmulo, os trabalhadores do SOCREMO dizem, na carta, que tudo isto e não só acontece sob olhar cúmplice de alguns membros da Direcção, que nunca defendem os compatriotas, “mas, sim, apoiam as ideias do Director-Geral, Senhor Wellington Chinavavana que, desde que chegou [do Zimbabwe], as condições de trabalho degradaram-se”.
Para além de falta de valorização de reclamações dos trabalhadores e gerentes, Chinavavana (que aufere elevadas somas de dinheiro em dólares), é acusado de estar a trabalhar à margem da lei laboral. “Desde que chegou a Moçambique em 2016, já renovou o seu contrato de trabalho por duas vezes, em 2018 e 2020. Entretanto, de acordo com a Lei de Trabalho, só pode fazê-lo duas vezes, então, como é que o Ministério do Trabalho autorizou uma terceira renovação?”, questionam os trabalhadores que pedem que o Ministério de tutela convide o Director-Geral a abandonar o país, como forma de repor a legalidade.
Das reclamações dos trabalhadores do SOCREMO, expostas em carta, salta também à vista o facto de aquela instituição financeira ser “a única em Moçambique cujos trabalhadores não têm assistência médica”. Além disso, a missiva expõe que os trabalhadores do SOCREMO duvidam da formação académica do Presidente do Conselho de Administração (PCA), cujo nome não é mencionado.
A massa laboral queixa-se ainda do facto de a Direcção estar a pontapear as “normas do AML [Prevenção e Combate ao Branqueamento de Capitais] e KYC [Políticas de Identificação e de Conhecimento nos Novos Clientes] para não investir nas infra-estruturas e no pessoal. Não há formações nem coisa parecida. Os balcões […] não têm condições de segurança e a própria aparência exterior nem parece de um Banco. Se a Inspecção do Trabalho, a INAE e o Banco de Moçambique fizerem uma profunda inspecção e bem-feita irão constatar muitas irregularidades”.
O mais gritante é que essas preocupações estão desde o passado dia 21 de Março de 2022 nas gavetas das secretárias do gabinete do Governador do Banco de Moçambique e dos inspectores-gerais da Inspecção Geral do Trabalho e da Inspecção Nacional das Actividades Económicas. Ainda assim, os trabalhadores do SOCREMO reiteram, em uníssono, “aqui-d'el-rei” Banco de Moçambique, IGT e INAE.
“Por favor, Banco de Moçambique, Ministério do Trabalho (Inspecção Geral do Trabalho), [INAE] façam inspecção no SOCREMO irão ver o que se relata aqui”, clamam os trabalhadores, na carta.
Os trabalhadores da Sociedade de Crédito de Moçambique (SOCREMO) engolem “lagartos e sapos” há sete anos. De tanto engolir, hoje andam engasgados, pelo que dizem “basta” aos desmandos do Conselho de Administração daquele Banco de Microfinanças.
Face às acusações, o Jornal contactou o Director-Geral da instituição para ouvir a sua versão. Wellington Chinavavana mostrou-se indisponível. Disse que estava na África do Sul numa reunião e que se iria pronunciar na semana que se avizinha.
Sobre o SOCREMO
O SOCREMO estabeleceu-se em Maputo, a 26 de Maio de 1998, com a designação de Sociedade de Crédito de Moçambique. O surgimento do SOCREMO foi liderado pelo então Gabinete de Promoção do Emprego (GPE), tendente a transformar um projecto de apoio social do GPE, numa instituição de crédito virada para prestação de serviços financeiros à população de baixa renda que não tinha acesso aos serviços financeiros na banca comercial, porque desprovida dos requisitos normalmente exigidos nesse sector.
Abraçaram o projecto nessa altura três instituições, nomeadamente o GPE, o Conselho Cristão de Moçambique (CCM) e a União Geral das Cooperativas Agro-Pecuárias de Maputo (UGC).
Cinco anos após a sua constituição e fruto de um crescimento sólido, a então Sociedade de Crédito de Moçambique transformou-se num Banco Comercial denominado SOCREMO - Banco de Microfinanças. O Banco SOCREMO apresentou-se ao mercado como especialista em Microfinanças, oferecendo uma gama variada de produtos e soluções financeiras viradas para atender às necessidades das micro, pequenas e médias empresas.
Actualmente, o SOCREMO conta com uma rede de 13 balcões distribuídos pelas províncias de Maputo, Gaza, Inhambane, Sofala, Manica e Tete e, num futuro breve, pretende estender as suas operações para a região norte do país. (Evaristo Chilingue)