Tudo indica que fracassou a “primeira” tentativa de aproximação à liderança do movimento dissidente da Renamo, a auto-proclamada Junta Militar da Renamo, que tem à cabeça o general Mariano Nhongo. É que volvidos os sete dias anunciados pelo Presidente da República (PR), Filipe Nyusi, pelo menos publicamente, não se conhece qualquer êxito das demarches tendentes à aproximação das partes para o estabelecimento de um diálogo para pôr termo aos ataques armados na região centro do país.
O Presidente da República declarou, durante uma visita ao Teatro Operacional Norte, uma trégua unilateral com objectivo de abrir espaço para o diálogo com a auto-proclamada Junta Militar da Renamo. A trégua unilateral começou a ser observada pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS), desde o dia 25 de Outubro último, período no qual deviam cessar na perseguição aos homens comandados por Mariano Nhongo.
O fracasso da primeira investida foi, para já, confirmado pelo próprio Mariano Nhongo, citado pela Voz da América. Na entrevista, Mariano Nhongo diz que a aproximação falhou, precisamente, porque a trégua anunciada pelo Presidente da República não passou do discurso, visto que, na prática, os seus homens foram sequestrados e assassinados, atribuindo a autoria moral e material às FDS.
Na aludida entrevista que concedeu àquele órgão de comunicação, Mariano Nhongo disse que conversou longamente com o Presidente do Grupo de Contacto, Mirko Manzoni, tendo o informado das violações da trégua unilateral na vigência dos sete dias do cessar-fogo, para quem foi uma verdadeira “batota”. Nhongo destacou ainda a necessidade da publicação do documento que a Junta Militar enviou ao Presidente da República.
Na verdade, tratou-se de um falhanço cujos sinais começaram a surgir imediatamente a seguir ao anúncio da trégua para dar espaço ao diálogo entre as partes. O ponto mais alto foram as declarações, segunda-feira última, de Mariano Nhongo nas quais vincava indisponibilidade para sentar-se à mesma mesa com Filipe Nyusi.
Mariano Nhongo disse a jornalistas que só aceitaria dialogar com o Presidente da República se este publicasse o documento por ele enviado, no qual vêm vertidas aquelas que são as preocupações do grupo. Na ocasião, Nhongo acusou as FDS de terem, no dia 25 de Outubro (domingo), sequestrado elementos da Junta Militar, facto que, no seu entender, levantava dúvidas em torno da genuinidade da vontade expressa pelo Chefe de Estado.
Entretanto, na manhã da última quarta-feira (28 de Outubro), durante a abertura da reunião anual das autarquias locais, Filipe Nyusi deu a conhecer, embora sem dar detalhes, que estava em curso o diálogo com a Junta Militar. No encontro, o PR disse, igualmente, que elementos da Junta Militar da Renamo haviam, no passado dia 26 de Outubro (domingo), disparado contra um autocarro no troço entre Zove e o rio Gorongozi, no distrito de Chibabava, província de Sofala, e que, ainda assim, mantinha a posição de não perseguir o grupo como forma de demonstrar o seu compromisso com o diálogo.
Ainda no encontro, Filipe Nyusi apelou ao envolvimento da Renamo no processo, uma vez que as reivindicações da Junta Militar emergem das desinteligências no seio daquela organização político-partidária.
A auto-proclamada Junta Militar da Renamo contesta, sabe-se, a liderança de Ossufo Momade, que, para o grupo, está longe de representar uma escolha acertada e defender os interesses dos “genuínos” militantes da Renamo.
Ao apelo feito pelo Presidente da República, o maior partido da oposição, apesar de não ter fechado a porta, disse que o assunto Junta Militar é uma questão de Estado. Na pessoa do seu respectivo porta-voz, José Manteigas, disse que o que está em causa é a soberania do Estado, a vida dos moçambicanos e cabe ao Governo proteger estes institutos.
Apesar da abertura manifestada pelo partido, disse Manteigas, Mariano Nhongo e seus seguidores sempre recusaram se sentar à mesma mesa com a liderança da Renamo para apresentarem aquelas que são as suas reivindicações.
O diálogo com a Junta Militar foi tema para o exacerbar de ânimos nas sessões da Assembleia da República, semana finda, onde o Governo esteve a prestar esclarecimentos a pedido das três bancadas parlamentares. Carlos Agostinho do Rosário, Primeiro-Ministro, que chefiou a equipa governamental, apelou à Junta Militar a juntar-se à iniciativa do Presidente da República e, ainda, a aderir ao processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) em curso.
No primeiro dos dois dias de interacção com os deputados, o Ministro do Interior, Amade Miquidade, disse que a Renamo, no interesse da paz, tem o dever patriótico de fornecer toda a informação relativa à Junta Militar, nomeadamente, as bases, os homens, a localização e os esconderijos.
Entretanto, as declarações de Miquidade não caíram bem nas hostes da bancada parlamentar da Renamo. Para este grupo, o Governo é quem apadrinhou Mariano Nhongo e seus sequazes e não se devia socorrer destes argumentos para justificar a incapacidade e inoperância das FDS, isto, no que respeita à reposição da ordem na região centro do país.
Importa fazer menção que Mariano Nhongo é apontado com empecilho para a materialização do processo de DDR. Há meses, o Presidente do Grupo de Contacto chegou mesmo a afirmar que Mariano Nhongo é inflexível e que não abria espaço para o diálogo. (Carta)