A “guerra” que se vive na região central e norte da província de Cabo Delgado, desde Outubro de 2017, para além de deteriorar a situação humanitária, faz com que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) capturem pessoas inocentes, com o argumento de que estas pertencem ao grupo de insurgentes que tem semeado terror e luto naquela província do norte do país. A situação tem sido reportada, com frequência pela “Carta” e já foi admitida pelo Chefe do Estado e Comandante-em-Chefe das FDS.
Por exemplo, há dias, elementos das FDS raptaram um cidadão do Posto Administrativo de Mucojo, distrito de Macomia, apelidado como Marecano e que, segundo o historiador Egídio Vaz (analista político com paixões “Frelimistas”), é um dos responsáveis pela coordenação logística dos insurgentes. O facto chamou atenção de muitos internautas e “Carta” seguiu o assunto, com o objectivo de entender se se tratava de mais uma “injustiça” ou de alguém de conduta “duvidosa” e revela alguns aspectos interessantes relativamente à figura em causa (é ou não insurgente?).
Marecano ou Americano, como é carinhosamente tratado, é um cidadão natural da aldeia de Rueia, no Posto Administrativo de Mucojo, distrito de Macomia. Seu nome de registo é Felismino Nfalume. É pai de três filhos e casou, tradicionalmente, com duas mulheres.
Durante a investigação, “Carta” apurou que Marecano é um homem trabalhador, dedicado à família e muito simpático. Soubemos ainda tratar-se de um indivíduo que não teve grandes “voos” no ensino convencional, mas que sempre abraçou a madrassa (escola muçulmana ou uma casa de estudos islâmicos). O mesmo tinha duas residências, uma em Rueia e outra na vila-sede de Macomia. Abraçou também o comércio informal, mas acabou regressando à machamba.
Fundou mesquita e envolveu-se com a caça furtiva
À “Carta”, as fontes confidenciaram que Felismino Nfalume começou a ser famoso em Macomia no princípio do Século XXI (ano 2000), quando começou a defender o suposto verdadeiro islão. Na companhia de seus amigos, dizem as fontes, entendia que os conservadores (neste caso seus pais) ocultavam a interpretação verdadeira do alcorão, o que na sua óptica dificultava o entendimento dos mandamentos de Deus.
Assim, na companhia dos seus colegas e amigos, fundaram a sua própria mesquita, hoje chamada Alfurcan, dirigida pelo Sheik Sujai Aifa. As fontes dizem que Marecano já fazia chamamento nessa mesquita, isto é, era o Muazine, pessoa responsável por chamar outras para o período da oração.
Entretanto, este não foi o único facto que tornou Felismino Nfalume famoso. Sem revelar o ano, as fontes avançaram que Macareno foi intermediário entre os caçadores furtivos e compradores de marfim, em alguns distritos das províncias de Cabo Delgado e Niassa. Afirmam que conheceu quase todos os distritos que faziam parte da actual Reserva Especial do Niassa e do Parque Nacional das Quirimbas. Devido ao seu envolvimento na caça furtiva, foi detido pelas autoridades, tendo cumprido integralmente a sua pena.
Porém, as fontes avançam que nem a detenção corrigiu a conduta de Marecano, no que tange ao seu envolvimento com a caça furtiva, mas sem ser interpelado pelas autoridades. Aliás, alegam que chegou a ter uma contradição com o Procurador distrital de Macomia, por este não entender as razões que levaram à sua libertação, enquanto os seus comparsas continuavam na cadeia.
Segundo as fontes, devido aos efeitos da crise financeira causada pela descoberta das “dívidas ocultas”, Marecano passa a trabalhar para alguns comerciantes de nacionalidade bengali. Em 2017, foi confiado a responsabilidade de gerir fundos da compra de castanha de caju, gergelim e outros produtos, nos distritos de Nangade e Mueda.
Coincidência ou não, foi nesse ano que, em Outubro, iniciaram os ataques terroristas e alguns cidadãos alegaram que os jovens tinham sido aliciados, pelo que alguns conhecidos deste associaram a sua ausência com os atacantes, tendo em conta o seu histórico de vida.
Com a tentativa de se descobrir quem são os autores dos ataques, suas motivações e seus financiadores, um professor de nome Alberto (nome fictício), ex-amigo de Marecano, estranha o debate em torno do seu antigo amigo e afirma, na altura, que o Marecano estaria no distrito de Balama, onde estava a comprar alguns produtos em nome dos seus patrões bengalis.
A informação chegou às autoridades que trataram de recolher o professor para se deslocar a Balama ao encontro do seu amigo. De Balama, relatam as fontes, os dois foram levados para Mocímboa da Praia, onde permaneceram um mês sob custódia das autoridades policiais. Após dias de investigação, as FDS não conseguiram provar o seu envolvimento no ataque terrorista àquela vila-sede, no dia 05 de Outubro de 2017.
De acordo com as fontes, depois do ataque à aldeia Ningaia, no Posto Administrativo de Mucojo, Marecano dedicou-se à comercialização do gado caprino. Quando o negócio deixou de ser lucrativo, este virou as suas atenções ao negócio de moto-táxi, antes de ser detido pelas FDS após o ataque terrorista à vila-sede de Macomia, no passado dia 28 de Maio, sob alegação de ser o fornecedor da logística dos insurgentes. (Carta)