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segunda-feira, 10 fevereiro 2020 06:23

Os novos deslocados de guerra

Os ataques que ocorrem na província de Cabo Delgado, desde Outubro de 2017, já afectaram 39.875 famílias, estimadas em 156.428 pessoas, que residiam nos distritos alvos dos terroristas. Esta informação consta num documento intitulado “Informe sobre o impacto da acção dos malfeitores nas zonas norte e centro da província”, divulgado pelo Governo provincial de Cabo Delgado, na semana finda.

 

No conjunto, os ataques já afectaram 25 mil crianças, 81.343 (52%) mulheres e destruído 76 escolas, correspondente a 16.760 alunos e 285 professores (que foram redistribuídos por outras regiões). Acrescentando, o Governo Provincial de Cabo Delgado informou que 14 mil famílias de camponeses abandonaram os seus campos de cultivo, assim como 1.981 pescadores dos distritos de Muidumbe e Ibo tiveram de fugir por temer os insurgentes. Também foram vandalizados os Centros de saúde de Nkonga (Nangade), Namaluco (Quissanga), Quiterajo (Macomia) e Maganja (Palma).

 

Segundo consta no Informe do Executivo liderado por Valige Tauabo, os distritos mais afectados são: Macomia (29%), Quissanga (25%), Mocímboa da Praia (19%) e Palma (13%). Ainda surgem na lista os distritos de Nangade, Muidumbe e Mueda.

 

Com as incursões dos insurgentes, em Cabo Delgado, as populações procuram refugiar-se nos distritos de Pemba, Ancuabe, Balama, Chiúre, Ibo, Mecúfi, Meluco, Metuge, Montepuez e Namuno, onde a acção dos insurgentes ainda não chegou. Os outros saem para a vizinha Tanzânia ou para as províncias circunvizinhas.

 

Embora fontes locais tenham relatado, entre 2018 a 2019, decapitações em Ancuabe, Mecúfi, Meluco e nas redondezas de Balama, sete distritos é que vivem constantemente actos macabros dos insurgentes, havendo aldeias que se tornaram autênticas “zonas fantasmas”.

 

Um dado importante é que o informe do Governo provincial não apresenta o número de pessoas que perderam a vida, porém, recentemente, o Bispo de Pemba, Dom Luiz Fernando Lisboa, disse, em entrevista à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, que os ataques já provocaram 500 mortes e que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) não estão a ser capazes de conter a violência, tendo um dos ataques decorrido em finais de Janeiro e princípio de Fevereiro em aldeias situadas a 120 km de Pemba.

 

Para o porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Andrej Mahecic, os ataques já criaram pelo menos 100.000 deslocados internos e as pessoas têm vindo a fugir de decapitações, sequestros em massa e aldeias queimadas. ACNUR diz que os ataques, em Cabo Delgado, já atingiram nove, dos 17 distritos da província. No comunicado a que “Carta” teve acesso, a organização contabilizou 28 ataques desde o início do ano.

 

No entanto, a ACNUR diz que vai ajudar a coordenar todas as actividades de protecção, através de uma parceria com o Governo moçambicano, tendo-se comprometido em apoiar com dois milhões de USD para 15 mil deslocados internos, numa primeira fase.

 

Um facto realçado no informe do Governo provincial é que 52 mil pessoas afectadas já receberam assistência, apoio psicossocial, produtos alimentares, vestuário e materiais para reconstrução das casas queimadas pelos insurgentes, sendo os distritos de Mocímboa da Praia e Ilha do Ibo recebido apoios em 100%.

 

Os ataques naquela região do país já levaram o governo a solicitar os serviços do grupo paramilitar russo – Wagner – entretanto, o grupo viria a sofrer baixas, que ditaram divergências com as FDS, levando o mesmo a ficar apenas em questões de formação e “mentoria”. Entretanto, nem Maputo e muito menos Moscovo confirmaram a presença de mercenários russos, em Cabo Delgado.

 

Os insurgentes têm, nos últimos meses, usado uma estratégia de propaganda, alegadamente coordenada pelo Estado Islâmico (EI), em que vídeos, fotos e comunicados, reivindicando vitórias, se têm tornado virais nas redes sociais como Twitter, WhatsApp, Telegram e Facebook.

 

Os ataques em Cabo Delgado vêm ganhando proporções preocupantes e desafiantes, levando o Presidente da República, Filipe Nyusi, a acusar, mas sem mencionar nomes, existência de financiadores internos e externos dos actos macabros que há dois anos vêm tirando sono, a vida e um futuro de um povo que teve “o azar de nascer numa das terras mais ricas de Moçambique, África e do mundo”. (O.O.)

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