Ossufo Momade mostra-se agastado com o facto de o governo moçambicano ter recorrido aos mercenários russos do Wagner Group para tentar pôr cobro à situação de insurgência que se vive em Cabo Delgado, há dois anos.
Para o líder da Renamo, antes de mais nada “o que o Governo devia ter feito era apresentar o caso à Assembleia da República, de modo a promover uma ampla discussão sobre as melhores formas de resolver o conflito – coisa que até hoje não se dignou a fazer”.
Em entrevista à Lusa, Momade foi categórico ao afirmar que não faz nenhum sentido o recurso àquele grupo de mercenários russos, até porque, segundo diz, “o seu envolvimento acaba, de certa forma, por diluir aquilo que é o pensamento dos moçambicanos, no que tange a conflitos sociais e religiosos, os quais – como é sabido – estão na origem dos ataques não só a alvos civis, mas também ligados ao sector petrolífero em Cabo Delgado”.
“O Governo de Moçambique foi à Rússia e trouxe de lá mercenários, porém, tanto quanto sabemos, estes praticamente não fizeram nada até hoje, certamente porque se aperceberam que alguma coisa está errada no meio disto tudo”, disse Momade, acrescentando: “de certeza eles próprios (os russos) se aperceberam que existem razões mais profundas na origem deste conflito”.
O número um da Renamo diz discordar completamente deste tipo de intervenção militar, sobretudo porque “o Governo nunca teve a coragem de vir a público explicar a origem desses grupos insurgentes, preferindo não só aldrabar a população moçambicana, mas também impedir que, de alguma forma, a imprensa possa cobrir o que de facto se está a passar no terreno”.
Estima-se que até ao momento os conflitos em Cabo Delgado tenham já vitimado centenas de pessoas e destruído um considerável número de infra-estruturas. (Carta)