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Lembremo-nos dos seus traços gerais. Samito (Samora Machel Jr.) é filho de Josina e Samora Machel. É membro do comité central da Frelimo. Quando se aproximaram as eleições autárquicas do ano passado, apresentou-se como candidato a ser o candidato da Frelimo para o município de Maputo, tendo conseguido bastante apoio das bases do partido assim como da OJM e da OMM. Apesar disso, o comité da cidade excluiu-o da lista de possíveis concorrentes, aceitando a decisão da comissão política que escolheu, para a eleição interna, Comiche, Fernando Sumbana e um ilustre desconhecido, caindo a escolha em Comiche. Samito não se conformou e, encontrando as portas fechadas do lado da Frelimo, decidiu candidatar-se como cabeça-de-lista pela AJUDEM, uma associação criada recentemente por jovens da Frelimo. Mas a lista da AJUDEM foi excluída pela CNE, numa decisão malcheirosa mas, apesar disso, sancionada pelo Tribunal Constitucional (que, mais tarde, veio dizer que a norma aplicada era inconstitucional).
Como resultado da rebelião de Samito, a Frelimo instaurou-lhe um processo disciplinar e Samito apresentou a sua defesa em fins de Março. É o essencial dessa defesa que é divulgada na entrevista de Samito à Carta de Moçambique. É uma entrevista explosiva porque a defesa mais parece uma declaração de guerra, vejam-se estas declarações:
– Roque Silva (Secretário-Geral da Frelimo) devia ser sancionado por “abuso de funções”.
– Nyusi e Roque Silva pensam que a Frelimo é a sua vontade.
– Pela violação do artigo 23 (dos Estatutos da Frelimo) devem ser acusados individual e solidariamente o camarada Presidente do partido e o Secretário-Geral, designadamente por não permitirem a crítica, não estimularem o diálogo e não reconhecerem aos membros os seus direitos constitucionais.
– Devem interessar-se em investigar se o Presidente Nyusi tem uma conduta sã, honesta, íntegra, humilde, sincera, modesta, leal e fiel ao partido.
– Filipe Nyusi não deveria ser hoje o único candidato da Frelimo a candidato à Presidência da República.
Perante uma entrevista com este teor (e a entrevista reflecte o documento de defesa que Samito entregou à Frelimo), o que é que a Frelimo irá fazer na reunião do comité central em princípios de Maio? E quais são os possíveis passos seguintes de Samito?
Esta podia ser uma grande oportunidade para um sobressalto cívico da Frelimo, para os melhores que ainda lá estão fazerem lembrar aos de agora aquilo que a Frelimo foi, as esperanças que desencadeou com Samora, os princípios que a guiaram para e na Independência. Mas não creio que siga esse caminho, é pena, vai continuar fechada sobre si própria, preocupada apenas com a manutenção do poder, um poder cada vez mais desligado do povo que devia servir.
A Frelimo pode seguir a táctica de congelar o assunto e não incluir a proposta de expulsão de Samito na agenda do comité central, para não trazer um assunto divisivo a debate. Mas pode ter dificuldades em o fazer, primeiro, porque o próprio Samito vai estar na reunião e pode querer que o assunto seja debatido; depois, porque pode haver na Frelimo quem queira aproveitar a oportunidade e questionar a forma como Nyusi está a liderar o partido, particularmente no que toca às conversações com a Renamo e o ataque ao círculo do ex-PR. Pode até chegar-se ao ponto de propor um candidato alternativo a Nyusi para a eleição do PR, embora eu duvide que tal aconteça.
Seja Samito expulso da Frelimo ou seja o assunto adiado para depois das eleições, fica a questão de o que é que Samito irá fazer. Se for expulso, ele fica com as mãos livres para avançar com o seu projecto político, supondo que o tem. Se o assunto for adiado, a sua posição fica mais difícil porque terá de ser ele a assumir a rotura com a Frelimo se quiser ter algum papel nas próximas eleições.
