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BCI
quinta-feira, 18 abril 2019 08:35

Dois moçambicanos e dois tanzanianos acusados de fornecer logística aos insurgentes em Cabo Delgado

São cinco os indivíduos que desde 17 de Dezembro de 2018 respondem pelo processo nº 356/2/P/2018, de que fazia parte o malogrado empresário Andrew Hannekom, cidadão da África do Sul. Daquele grupo, o informe que será apresentado brevemente em Maputo pela Procuradoria-Geral da República (PGR) faz referência a dois moçambicanos e idêntico número de tanzanianos. Por ter perdido a vida, o sul-africano Hannekom foi ‘extinto’ do processo.

 

Os indivíduos em causa são acusados pelo Ministério Público (MP) da prática de homicídio qualificado, porte de armas proibidas, associação para delinquir, instigação ou provocação à desobediência colectiva, ordem e tranquilidade públicas, mercenarismo, terrorismo e contra a organização do Estado.

 

De acordo com o MP, os cinco arguidos eram responsáveis pela preparação militar e assistência logística dos insurgentes que protagonizam ataques em Cabo Delgado. Outra responsabilidade do ‘quinteto’ era a de fornecer alimentação, pagamento de ordenados aos insurgentes que operam no distrito de Palma. Do processo com os cinco arguidos em prisão preventiva, foi deduzida acusação e remetida ao Tribunal Judicial da Província de Cabo Delgado a 24 de Dezembro de 2018. Quanto a Hannekom, o facto de ter perdido a vida levou à extinção, pela PGR, do procedimento criminal.

 

De acordo com o MP, os parentes de Hannekom colocaram a hipótese de o malogrado ter sido vítima de envenenamento, reclamação que levou à instauração, a 23 de Janeiro (dia em que Andrew Hannekom perdeu a vida), do processo nº 30/02/P/2019 contra ‘desconhecidos’. No passado dia 16 deste Abril, o porta-voz da Procuradoria Provincial de Cabo Delgado, Armando Wilson, disse à imprensa que não houve qualquer negligência na morte de Hannekom, e que o processo foi arquivado por falta de elementos de investigação.

 

Através de iniciativa própria, o nosso jornal ‘perseguiu’ algumas pistas que ajudaram a descobrir o passado do falecido empresário sul-africano. Com efeito, Andrew Hannekom tinha pertencido a um grupo de mercenários sul-africanos denominado “Búfalos”, ou “Batalhão 32”, que na vigência do ‘apartheid’ na África do Sul desenvolveu suas sinistras actividades em países como Angola e Moçambique.

 

Andrew Hannekom chegou a fixar residência na Tanzânia, de onde viria a ser expulso nos anos 90 por suspeita de ser traficante de órgãos humanos. Residindo em Moçambique, foi “expulso” da província de Inhambane por suspeita de prática dos crimes idênticos aos que estiveram na origem da sua expulsão do território Tanzaniano, tendo optado por ir viver no norte do país.

 

Conforme apurámos, Hannekom tinha propriedades em várias zonas de Cabo Delgado. Até 2017 levava uma vida aparentemente sossegada, seus negócios indo ‘de vento em popa’. “Carta” soube que os dois indivíduos tanzanianos acusados de envolvimento nos ataques em Cabo Delgado iriam ser confrontados no julgamento que deveria ter tido lugar a 5 de Fevereiro deste ano, caso Hannekom não tivesse morrido.

 

Um dos dois moçambicanos, detido em Março último, foi identificado como sendo Jamal Ali, funcionário público do sector da Educação no distrito de Montepuez. É considerado responsável pelo recrutamento de ‘mercenários’ na Tanzânia, para a sua posterior entrega, após treinamento na província tanzaniana de Mugorogoro, aos insurgentes em Moçambique. Fontes ligadas ao processo dizem que Jamal Ali tem cooperado com as autoridades moçambicanas, depois de inicialmente ter sido um ‘osso duro de roer’.

 

De salientar que o informe da PGR, a ser apresentado publicamente em breve, não menciona os nomes dos cinco arguidos do processo 356/2/P/2018. Todavia, os detalhes aqui referenciados poderão ajudar a decifrar certos ‘mistérios’ do caso da insurgência em Moçambique. (Paula Mawar e Omardine Omar)  

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