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quarta-feira, 03 abril 2019 11:09

Rombo no CEDSIF: os “mistérios” de um caso que a justiça quer julgar às escondidas

O rombo financeiro no Centro de Desenvolvimento de Sistemas de Informação de Finanças (CEDSIF), em Setembro, e que já levou a oito detenções, começou a ser julgado, há pouco mais de duas semanas, no meio de suspeitas de condutas estranhas por parte da Procuradora Arlete Machava e do Juiz Eusébio Lucas. O CEDSIF sofreu, em 2018, um rombo de 8 milhões de Mts, numa trama que envolveu 2 funcionários da instituição, 2 agentes do SERNIC, 3 empresários do ramo gráfico e 1 técnico bancário. Três dos envolvidos encontram-se a responder em liberdade.

 

A fraude verificou-se no dia 07 de Setembro. Felisberto Manganhela, um técnico de informática da instituição, entrou no sistema do CEDSIF, onde permaneceu cerca de 12 minutos, tendo extraído da plataforma de pagamentos electrónicos no aparelho do Estado, eSISTAFE, uma ordem de pagamento no valor 2.450.120,00 Mts a favor da empresa Anderson Jav Services. Ele serviu-se da senha de uma funcionária habilitada para o seu uso, Nurbibi Lacman. Manganhela fez pagamentos indevidos em quatro tranches, sempre usando a senha de Nurbibi Lacman.

 

Em Dezembro de 2018, um dos pagamentos foi feito a favor da empresa ‘Resgráfica Sociedade Unipessoal’, no valor de 2.032.000,00 Mts. Outro pagamento, de 3.035.600,00 Mts, reverteu supostamente a favor da TRIANA, mas o verdadeiro destinatário no sistema bancário era a empresa Anderson Jav Services.

 

O julgamento do caso arrancou no passado dia 13 de Março, no Tribunal Distrital de KaLhamanculo, agora a funcionar nas instalações do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo, mas, segundo “Carta” apurou, o CEDSIF não esteve representado, na qualidade de instituição queixosa e assistente. Sem qualquer tipo de explicação, a entidade não foi notificada. Nurbib Lacman, detida no âmbito do desfalque, afirmou, em tribunal, que nunca soube que o sistema tinha sido invadido por intrusos, alegadamente, porque o sistema não permite verificar o histórico de actividades.

 

Por sua vez, Felisberto Manganhela confessou ser o “mastermind” do roubo, usando uma senha de Nurbib Lacman. Manganhela disse, em tribunal, que foi ele quem fez pessoalmente a planificação financeira, o cabimento orçamental e os pagamentos indevidos, negando qualquer ligação com Nurbib Lacman e outros suspeitos. As diligências feitas pela “Carta” junto do CEDSIF para tentar perceber os contornos do processo resultaram em fracasso, mas alguns técnicos da instituição, ouvidos a título individual e sob anonimato, disseram que as alegações de Lacman e Manganhela podiam ser facilmente rebatidas em tribunal.

 

Disseram que o sistema permite a verificação do histórico das entradas, por um lado. Por outro lado, garantiram que era impossível que um único técnico fizesse tais operações sozinho, uma vez que, elas envolvem três tipos de processos, os quais, no CEDSIF, estão distribuídos em igual número de áreas, ou seja, comunicações, desenvolvimento de sistemas e distribuição. De acordo com fontes próximas ao processo ouvidos pela “Carta”, tanto Nurbib como Manganhela podem estar a ocultar os verdadeiros mandantes do rombo, os quais, acredita-se, continuam activos dentro CEDSIF. O caso está a ser julgado sem que diligências cruciais, como a manipulação solitária do processo por parte de Manganhela, sejam realizadas, essenciais para ele mostrar como terá agido sozinho no roubo. Numa segunda sessão do julgamento do caso, que ocorreu a 21 de Março, a nossa equipa de reportagem foi escorraçada da sala de audiências a mando do Juiz Eusébio Lucas, com o apoio da Procuradora Arlete Machava. (Omardine Omar)

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